A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) é uma condição endocrinológica que afeta cerca de 6 a 10% mulheres em idade reprodutiva. Suas causas são multifatoriais, envolvendo fatores genéticos, hormonais e ambientais e os principais critérios diagnósticos incluem oligo/anovulação, sinais clínicos ou bioquímicos de hiperandrogenismo e ovários policísticos visíveis ao ultrassom¹.
Além disso, mulheres com SOP também podem ter outras comorbidades, incluindo psicológicas, metabólicas, fatores de risco cardiovascular e risco aumentado de apneia do sono, carcinoma endometrial e complicações relacionadas à gravidez, podendo levar a uma série de complicações de saúde, incluindo infertilidade, distúrbios metabólicos e problemas dermatológicos. Desse modo, o manejo da SOP pode ser desafiador, exigindo abordagens múltiplas para tratar os diversos sintomas¹.
Estudos demonstram que, o Inositol e a alfa-lactalbumina têm ganhado destaque como suplementos no manejo da SOP, proporcionando benefícios significativos para diferentes perfis de pacientes. O inositol, especialmente na forma de mio-inositol, desempenha um papel na sinalização de insulina, ajudando a aumentar a sensibilidade à insulina e reduzir os níveis de andrógenos. Já a alfa-lactalbumina, uma proteína do soro do leite, tem sido usada para aumentar a absorção de inositol, potencializando sua ação. Estudos mostram que a combinação desses compostos pode resultar em melhorias significativas nos parâmetros metabólicos e hormonais em mulheres com SOP².
Este artigo explora a ação desses compostos na SOP, com foco em pacientes que desejam engravidar e possuem queixas hormonais e dermatológica.
Desejo de Engravidar: Como a Suplementação Pode Ajudar
Mulheres com SOP frequentemente enfrentam dificuldades para engravidar devido à anovulação, resistência à insulina e desequilíbrios hormonais. Estes fatores podem dificultar a concepção e levar a complicações durante a gravidez. Estudos indicam que o inositol, especialmente o mio-inositol, pode melhorar a função ovariana e a qualidade dos ovócitos, aumentando as taxas de ovulação, facilitando a concepção¹.
Recentemente pesquisas mostraram que o Inositol, uma vitamina do complexo B, desempenha papel crucial na sinalização celular, particularmente na mediação da ação da insulina. Para mulheres com SOP, que frequentemente enfrentam resistência a esse hormônio, a ingestão do mio-inositol tem mostrado benefícios significativos. Ao melhorar a sensibilidade à insulina, pode-se reduzir os níveis desse hormônio circulante e, como resultado, diminuir a produção de andrógenos ovarianos. Esse efeito contribui para restaurar a ovulação regular em mulheres com SOP¹.
Além do mio-inositol, a alfa-lactalbumina tem sido estudada por sua capacidade de aumentar a absorção desse composto, potencializando seus efeitos benéficos. Essa proteína encontrada no soro do leite não só melhora a biodisponibilidade do inositol, mas também possui propriedades bioativas que podem beneficiar o ambiente reprodutivo. Estudos sugerem que a combinação de mio-inositol com alfa-lactalbumina pode otimizar a função ovariana e melhorar os resultados de fertilidade, tornando-se uma ferramenta valiosa para mulheres com SOP que desejam engravidar².
Um estudo multicêntrico realizado no México e na Itália avaliou a eficácia do mio-inositol e da alfa-lactalbumina em mulheres com SOP. Os resultados mostraram uma melhora significativa na taxa de ovulação e na qualidade dos ovócitos, levando a uma maior taxa de gravidez entre as participantes³.
Manejo de Queixas Hormonais na SOP
Mulheres diagnosticadas com SOP frequentemente enfrentam uma variedade de queixas hormonais. Entre os sintomas mais comuns está o hiperandrogenismo, que afeta de 60% a 100% das pacientes e se manifesta pelo aumento dos níveis de hormônios androgênicos, como a testosterona. Isso pode causar acne, hirsutismo (crescimento excessivo de pelos) e alopecia androgenética (calvície feminina). Além disso, as mulheres com SOP podem sofrer de irregularidades menstruais, como oligomenorreia (ciclos menstruais longos) ou amenorreia (ausência de menstruação). A resistência à insulina, também comum na SOP, pode levar a hiperinsulinemia e aumentar o risco de desenvolvimento de diabetes tipo 2. Outros distúrbios associados incluem infertilidade devido à anovulação, dislipidemia, obesidade e um maior risco de doenças cardiovasculares¹.
A ingestão de mio-inositol pode auxiliar na redução significativa das concentrações de andrógenos no sangue e diminuir os níveis de testosterona livre. Além disso, o mio-inositol melhora a regularidade menstrual e aumenta as chances de concepção, ao mesmo tempo em que regula os níveis de insulina e melhora o perfil lipídico. Essa abordagem pode ser particularmente eficaz no alívio dos sintomas hormonais em mulheres com SOP¹.
Adicionalmente, a suplementação de inositol com alfa-lactalbumina potencializa esses efeitos ao melhorar a biodisponibilidade do inositol e facilitar sua ação no organismo. Essa combinação pode resultar em uma melhoria significativa na qualidade de vida das pacientes¹.
Queixas Dermatológicas em Pacientes com SOP
Queixas dermatológicas são frequentes em pacientes diagonosticadas com SOP. Estudos destacam que essas condições estão fortemente associadas ao desequilíbrio hormonal, particularmente ao aumento dos níveis de androgênios, como a testosterona. A hiperinsulinemia também desempenha um papel significativo, agravando a produção de andrógenos pelos ovários e glândulas adrenais⁴.
Dentre as queixas, destacam-se a acne, uma das manifestações que afeta entre 12 a 14% das mulheres com SOP, resultante da hiperatividade das glândulas sebáceas estimulada pelos níveis elevados de andrógenos, podendo ser persistente e resistente a tratamentos convencionais⁴.
O crescimento excessivo de pelos, conhecido como hirsutismo, é uma queixa comum em aproximadamente 60% das mulheres com SOP. Esse problema ocorre em áreas tipicamente masculinas, como o rosto, peito e costas, e é causado pela produção excessiva de andrógenos e pelo aumento dos níveis circulantes de testosterona livre⁴.
A alopecia androgenética, ou calvície feminina, é caracterizada pela perda progressiva ou afinamento do cabelo, especialmente no topo da cabeça, enquanto a linha frontal geralmente se mantém. A intensidade da alopecia pode variar entre as pacientes e frequentemente está associada a seborreia e caspa⁴.
O inositol pode ajudar a reduzir os níveis de andrógenos e melhorar condições como acne, hirsutismo e alopecia. Esses efeitos são atribuídos à capacidade do inositol de melhorar a sensibilidade à insulina e reduzir os níveis de andrógenos. No entanto, algumas mulheres podem não responder ao inositol devido a fatores como a redução competitiva da absorção intestinal, disbiose intestinal e inflamação crônica⁵.
Nesse contexto, a adição de alfa-lactalbumina pode aumentar a absorção intestinal de inositol e ajudar a melhorar a disbiose intestinal e a inflamação. Além disso, a alfa-lactalbumina pode reduzir a resistência à insulina, potencializando os benefícios dermatológicos e promovendo uma melhoria significativa na qualidade de vida das pacientes⁵.
Em conclusão, a suplementação com inositol e alfa-lactalbumina demonstra um potencial promissor no manejo da SOP. Essa combinação oferece uma abordagem eficaz para melhorar a fertilidade, regular os hormônios e melhorar sintomas dermatológicos associados à condição. Quando utilizados juntos, esses compostos podem proporcionar alívio significativo dos sintomas da SOP e promover uma melhoria na qualidade de vida das mulheres afetadas.
Estudos futuros são essenciais para aprofundar a compreensão dos mecanismos de ação e avaliar a eficácia a longo prazo dessa terapia combinada.
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Referências Bibliográficas
- Kamenov Z, Gateva A. Inositols in PCOS. Molecules. 2020 Nov 27;25(23):5566.
- Dinicola S, Unfer V, Soulage CO, Yap-Garcia MIM, Bevilacqua A, Benvenga S, et al. D-chiro-inositol in clinical practice: A perspective from The Experts Group on Inositol in Basic and Clinical Research (EGOI). Gynecologic and Obstetric Investigation [Internet]. 2024 Feb 19. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38373412/
- Hernandez Marin I, Picconi O, Laganà AS, et al. A multicenter clinical study with myo-inositol and alpha-lactalbumin in Mexican and Italian PCOS patients. European Review for Medical and Pharmacological Sciences. 2021. Disponível em: ResearchGate
- De Leo, V., Musacchio, MC, Cappelli, V. et al. Aspectos genéticos, hormonais e metabólicos da SOP: uma atualização. Reprod Biol Endocrinol 14, 38 (2016). https://doi.org/10.1186/s12958-016-0173-x
- Pandya, Manish R., Jignesh Shah e Varsha Narayanan. 2022. “O papel da alfa-lactalbumina com mioinositol no tratamento da SOP: uma revisão”. Asian Research Journal of Gynaecology and Obstetrics 5 (1):256-62. https://journalarjgo.com/index.php/ARJGO/article/view/153
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