RED-S no Esporte: Impactos e Estratégias Nutricionais Eficazes 

A Deficiência Relativa de Energia no Esporte (RED-S) é uma síndrome complexa que surge da baixa disponibilidade energética crônica (LEA), […]


A Deficiência Relativa de Energia no Esporte (RED-S) é uma síndrome complexa que surge da baixa disponibilidade energética crônica (LEA), resultante de uma ingestão insuficiente de energia para atender às demandas do exercício. Reconhecida oficialmente em 2014 pela Comissão Médica do Comitê Olímpico Internacional, a RED-S pode desencadear uma série de disfunções fisiológicas e psicológicas, comprometendo tanto a saúde quanto o desempenho esportivo, especialmente entre atletas femininas.  

Diante desse quadro, a detecção precoce e o manejo eficaz da RED-S são fundamentais para a prática dos nutricionistas esportivos, garantindo a longevidade e o bem-estar dos atletas. 

Compreendendo a Disponibilidade Energética (EA) 

A base da RED-S está na baixa disponibilidade energética (LEA), que ocorre quando a energia ingerida não é suficiente para cobrir o gasto energético, considerando as necessidades básicas do corpo para manter as funções fisiológicas.  

A disponibilidade energética (EA) é um conceito crucial, sendo definida como a energia remanescente após o gasto energético com exercícios, ajustada pela massa livre de gordura (FFM). Quando a EA é cronicamente baixa, pode haver uma série de consequências adversas, desde disfunções hormonais até comprometimentos na saúde óssea e imunológica. 

Medir a EA de forma precisa é um desafio, e para isso, técnicas como a Absorciometria de Raios-X de Dupla Energia (DXA) ou a análise de impedância bioelétrica (BIA) são comumente utilizadas.  

Esses métodos permitem a estimativa da FFM, uma variável fundamental para calcular a EA. No entanto, a precisão dessas medições pode variar, e é necessário que o nutricionista esteja ciente dessas limitações ao avaliar a saúde energética de seus pacientes. 

 
Implicações para a Saúde da RED-S 

As RED-S podem levar a diversas consequências negativas para a saúde, aumentando o risco de doenças e lesões em atletas. A baixa disponibilidade de energia (LEA) afeta a saúde óssea, provocando adaptações prejudiciais, e está ligada a disfunç��es menstruais em mulheres, como a amenorreia.  

Essa condição pode ser primária (ausência de menarca até os 15 anos) ou secundária (ausência de três ciclos menstruais consecutivos após a menarca). Em alguns grupos de atletas, como bailarinas e corredoras, a prevalência dessas disfunções pode chegar a 51%. 

A LEA suprime hormônios essenciais para a regulação menstrual, como o estrogênio e a progesterona, levando à amenorreia hipotalâmica funcional (FHA) e potencialmente afetando a fertilidade a longo prazo. Além disso, alterações hormonais como a redução de leptina e o aumento de grelina contribuem para essa disfunção reprodutiva. 

Em homens, a LEA também causa mudanças hormonais, como a redução dos níveis de testosterona e insulina, além de uma queda na taxa metabólica, o que pode impactar tanto o desempenho esportivo quanto a saúde geral. Essas implicações reforçam a necessidade de intervenções nutricionais e médicas para prevenir e mitigar os efeitos da RED-S, garantindo a saúde e o desempenho sustentável dos atletas. 

Impactos Fisiológicos e Psicológicos da RED-S 

A RED-S (Síndrome da Deficiência Energética Relativa no Esporte) não apenas afeta a saúde física dos atletas, mas também tem impactos psicológicos profundos e prejudiciais. 

 Um dos aspectos mais críticos é o aumento da vulnerabilidade a distúrbios alimentares, como anorexia e bulimia, frequentemente impulsionados pela pressão para manter um peso corporal baixo, que é comum em muitos esportes. Essa pressão pode levar os atletas a adotar comportamentos alimentares restritivos, resultando em uma relação negativa com a comida e exacerbando o estresse psicológico. 

Além disso, a RED-S está fortemente associada a transtornos de humor, como ansiedade e depressão. A constante preocupação com a ingestão calórica e o peso corporal pode criar um ciclo vicioso de preocupação e autoavaliação negativa. A baixa disponibilidade energética, causada por uma ingestão inadequada de calorias, não só prejudica o estado físico, mas também afeta o estado mental do atleta, aumentando a sensação de inadequação e baixa autoestima. 

Esses aspectos psicológicos podem ser tão debilitantes quanto os efeitos físicos da RED-S. A pressão para atender a padrões corporais rígidos pode intensificar os sintomas de ansiedade e depressão, levando a um impacto adverso significativo no desempenho esportivo e na qualidade de vida do atleta.  

Para um tratamento eficaz, é essencial que os nutricionistas adotem uma abordagem holística, que não apenas se concentre na recuperação física, mas também na promoção de uma saúde mental equilibrada. Isso inclui oferecer suporte psicológico, promover uma relação saudável com a alimentação e trabalhar para aliviar a pressão sobre o peso corporal, ajudando os atletas a alcançarem uma recuperação completa e sustentável. 

Estratégias Nutricionais e Intervenção 

Para reverter os efeitos da RED-S, é necessário implementar estratégias nutricionais específicas que garantam uma EA adequada. Isso inclui ajustar a ingestão calórica para cobrir o gasto energético diário e garantir a ingestão adequada de macronutrientes, com especial atenção para os carboidratos, que desempenham um papel crítico na reposição energ��tica. 

A triagem e o monitoramento contínuo dos atletas são fundamentais para prevenir e tratar a RED-S. A Ferramenta de Avaliação Clínica da Deficiência Relativa de Energia no Esporte (RED-S CAT) é um recurso valioso para identificar atletas em risco e guiar intervenções nutricionais.  

O papel do nutricionista vai além da orientação alimentar; envolve também o acompanhamento psicológico e a colaboração com outros profissionais de saúde para uma abordagem multidisciplinar. 

A Deficiência Relativa de Energia no Esporte (RED-S) representa um desafio complexo para a saúde e o desempenho dos atletas, exigindo atenção especial dos nutricionistas esportivos. Compreender os mecanismos subjacentes à baixa disponibilidade energética (LEA) e suas consequências é essencial para a prática clínica, permitindo a implementação de estratégias preventivas e de intervenção eficazes.  

Ao garantir uma EA adequada e abordar os aspectos fisiológicos e psicológicos da RED-S, os nutricionistas podem contribuir significativamente para a longevidade e o sucesso dos atletas no esporte de alto desempenho. 
 
Referências bibliográficas: 
 

Cabre J, Gatterer H, Resch H. Health Implications of RED-S. Dtsch Z Sportmed. 2022;73(12):437-445. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC9724109/pdf/nihms-1853616.pdf 


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