Fibromialgia, fadiga crônica e nutrição: qual a relação?

A fibromialgia é uma condição crônica caracterizada por dor musculoesquelética generalizada e sintomas como fadiga e disfunção cognitiva, com prevalência […]


A fibromialgia é uma condição crônica caracterizada por dor musculoesquelética generalizada e sintomas como fadiga e disfunção cognitiva, com prevalência estimada entre 3% e 8%, em estudos conduzidos na Europa, América do Norte e América do Sul, sendo sempre mais comum em mulheres.  

Paralelamente, a síndrome da fadiga crônica também é uma doença crônica marcada por fadiga extrema e disfunção cognitiva, mas com uma prevalência estimada menor (chegando no máximo a 3%), porém sendo igualmente mais prevalente em mulheres e aumentando com a idade.  

Ainda que não existam protocolos específicos para intervenções nutricionais nestes contextos, muitos estudos têm apontado possíveis associações destas condições com a alimentação e podem ser úteis no âmbito clínico do nutricionista, especialmente visando a melhoria de qualidade de vida dos pacientes com estas doenças. 

Tanto a fibromialgia quanto a síndrome da fadiga crônica são condições crônicas complexas e mal compreendidas, ambas sem causas claramente definidas e com sintomas que incluem fadiga severa e disfunções no processamento da dor. Essas condições implicam em alterações no sistema nervoso central, sugerindo uma sensibilização central à dor ou estímulos.  

Os pontos em comum das doenças incluem:

  • Presença de fadiga severa e disfunções cognitivas;
  • Impacto significativo nas atividades diárias dos indivíduos;
  • Desregulação no processamento da dor e possíveis alterações no sistema nervoso central.  

Porém, a fibromialgia é frequentemente associada a dor musculoesquelética, enquanto a síndrome da fadiga crônica enfoca mais na fadiga extrema e pode incluir um espectro mais amplo de sintomas somáticos como intolerância ortostática (condição que ocorre quando uma pessoa sofre sintomas de desconforto, tontura, vertigem ou até desmaio ao se levantar ou permanecer de pé) e problemas gastrointestinais. Além disso, os fatores desencadeantes podem diferir; a fibromialgia pode ser exacerbada por fatores como o estresse e condições meteorológicas, enquanto a síndrome da fadiga crônica é frequentemente relacionada a infecções virais e sobrecarga imunológica. 

Nutrição e Fibromialgia 

  • Peso corporal 

Estudos indicam que obesidade e sobrepeso são comuns em pacientes com fibromialgia e podem exacerbar os sintomas como dor e fadiga. A perda de peso é sugerida como uma estratégia para melhorar esses sintomas e condições gerais de saúde – mas não significa necessariamente que a redução do peso será decisiva na melhora dos sintomas, é necessário considerar o todo. 

  • Excitotoxinas 

Evidências limitadas e controversas apontam a exclusão de excitotoxinas como uma intervenção potencial para a melhora clínica de alguns pacientes. As excitotoxinas podem ser encontradas em diversos alimentos processados como aditivos, como o glutamato monossódico, mas também se fazem presentes naturalmente em alimentos como queijos e tomates. 

  • Dietas vegetarianas, veganas e baixas em FODMAPs 

Alguns estudos exploraram os efeitos de dietas específicas, como a dieta vegetariana, vegana e a dieta baixa em FODMAPs (um acrônimo para “Fermentable Oligo-, Di-, Mono-saccharides And Polyols”, que são carboidratos de difícil digestão que podem causar desconfortos – podem ser encontrados no trigo, cebola, alho, maçãs, peras, melancia, produtos lácteos como leite e iogurte, e adoçantes artificiais como xilitol e sorbitol). Resultados preliminares sugerem que essas dietas podem reduzir os sintomas de fibromialgia, especialmente a dor, mas os estudos são limitados pela qualidade e tamanho da amostra, o que impede conclusões definitivas. 

  • Dietas ricas em antioxidantes 

Outras abordam as dietas ricas em antioxidantes. Mas ainda que benefícios sejam sugeridos, as evidências são inconsistentes e os estudos muitas vezes não alcançam uma alta qualidade metodológica – ficando difícil de saber se há um mecanismo direto destas substâncias na fibromialgia, ou se as melhores condições de saúde em geral foram as responsáveis pelo alívio dos sintomas. Isso limita a capacidade de recomendar firmemente essas intervenções como eficazes. 

Nutrição e síndrome da fadiga crônica 

Se os estudos relacionados a fibromialgia são limitados, aqueles sobre síndrome da fadiga crônica e alimentação são ainda mais. Mas algumas evidências chamam a atenção: 

  • Um estudo clínico randomizado avaliou o efeito conjunto do NADH e da coenzima Q10 em comparação com um placebo, observando uma redução significativa da fadiga após 8 semanas de tratamento. 
  • Em outro estudo, o uso de suplementação com ácido guanidinoacético resultou em uma diminuição notável da fadiga mental em relação ao placebo. 
  • Um estudo piloto controlado randomizado constatou uma redução significativa da fadiga autorrelatada em participantes que consumiram chocolate rico em polifenóis em comparação com chocolate isocalórico durante 8 semanas. 
  • Um estudo de coorte indicou melhoria significativa na fadiga neurocognitiva, mas não na fadiga geral, após suplementação com probióticos

Embora melhorias na fadiga tenham sido observadas com algumas dessas intervenções, uma revisão destes trabalhos concluiu que não há evidências suficientes para recomendar suplementos nutricionais ou dietas modificadas de forma geral para aliviar os sintomas. As limitações incluíam o pequeno número de estudos para cada intervenção e tamanhos de amostra reduzidos, além de curta duração dos estudos e falta de padronização nos métodos de avaliação da alimentação. 

O papel do nutricionista 

As evidências sobre a relação da fibromialgia e da síndrome da fadiga crônica com a nutrição são limitadas e trazem desenhos metodológicos frágeis – assim, a grande maioria dos resultados tem uma relevância muito maior no âmbito da pesquisa para novos estudos do que aplicabilidade clínica.  

Ainda assim, mesmo sem prescrever suplementações específicas para estas condições, isso não impede o nutricionista de fazer recomendações em seus atendimentos que se alinhem com as recomendações gerais sobre alimentação saudável – desde probióticos, chocolates ricos em polifenóis e todas as estratégias comportamentais que tenham o peso como objetivo (quando isso fizer sentido dentro do contexto do paciente). 

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