Conscientização Contínua sobre Depressão e Suicídio 

A saúde mental impacta em diversas áreas da vida, principalmente a qualidade de vida, sendo influenciada por fatores biológicos, alimentares […]


A saúde mental impacta em diversas áreas da vida, principalmente a qualidade de vida, sendo influenciada por fatores biológicos, alimentares e sociais. Porém, mesmo deixando de ser um tabu na sociedade, ainda é preciso ressaltar que muitos casos podem ser evitados com o devido acompanhamento e acolhimento.  

Campanhas e ONGs têm desempenhado um papel fundamental ao incentivar o diálogo sobre saúde mental e promover o acesso a informações e recursos de prevenção. Isso inclui a relação entre profissionais da saúde e pacientes, que precisam de um atendimento mais receptivo para entender além das necessidades físicas.  

Estatísticas Alarmantes sobre Saúde Mental 

No mundo, mais de 300 milhões de pessoas enfrentam a depressão, e aproximadamente 800 mil morrem por suicídio anualmente, o que a torna a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.  

A prevalência de depressão no Brasil é de aproximadamente 15,5%, segundo um estudo epidemiológico. Além disso, a depressão é a quarta principal causa de ônus global, representando 4,4% de todas as doenças, e ocupa o primeiro lugar em termos de anos vividos com incapacitação, com 11,9%. Embora a condição frequentemente comece no final da terceira década de vida, pode surgir em qualquer idade. 

O Papel da Nutrição na Saúde Mental  

A alimentação tem um impacto significativo na saúde mental, podendo acelerar o desenvolvimento da depressão ou atuar como forma de prevenção.  A importância do nutricionista nessa condição de saúde é cada vez mais reconhecida.  

A deficiências nutricionais, como a falta de vitaminas do complexo B, vitamina D, magnésio e ômega-3, estão ligadas à depressão e à ansiedade. Intervenções dietéticas é uma alternativa acessível e eficaz para prevenir e tratar esses transtornos. 

Além disso, o nutricionista tem a qualificação necessária para identificar padrões alimentares que podem estar contribuindo para problemas de saúde mental, orientando sobre alimentos que promovem a produção de neurotransmissores, como serotonina e dopamina, que estão diretamente ligados ao controle do humor. 

Para um acompanhamento de um paciente nessas condições, se necessário um apoio multiprofissional, com médicos e psicólogos, para identificar e tratar com devida atenção a saúde mental do paciente 

A personalização da dieta não apenas melhora a saúde física, mas também pode aumentar a resiliência emocional e a qualidade de vida. Portanto, integrar o nutricionista ao tratamento da saúde mental é uma abordagem holística que pode levar a melhoras nos resultados, promovendo um equilíbrio saudável entre corpo e mente para os pacientes. 

Para ajudar a compreender uma abordagem mais acolhedora na prática clínica convidamos a Dra. Camilla Haddad, nutricionista colaboradora e pesquisadora do Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro IPUB/UFRJ, com abordagem em Comportamento Alimentar em sua Prática Clínica, para esclarecer algumas dúvidas 

  1. Como a nutrição pode impactar a saúde mental e, consequentemente, a prevenção do suicídio? Você pode explicar essa relação?  

Muitos pacientes procuram nutricionistas para melhorar seus hábitos alimentares como forma de cuidar da saúde mental. Às vezes o paciente demonstra resistência, mas é nosso papel enquanto profissionais da saúde trabalhar sua receptividade e, quando necessário, o encaminhe a psicólogos ou psiquiatras. 

Por meio da nutrição comportamental e de um atendimento humanizada, o nutricionista ensinar práticas alimentares que ajudem os pacientes a entenderem o papel da comida em sua vida e como ela pode impactar e cooperar para saúde mental. A colaboração em uma equipe multiprofissional e o conhecimento sobre saúde mental são fundamentais para prevenir comorbidades e riscos à saúde mental. 

  1. Quais estratégias você utiliza para criar um ambiente acolhedor durante suas consultas, especialmente para pacientes que podem estar passando por momentos difíceis emocionalmente?  

O paciente deve sentir que está em um ambiente seguro, onde pode confiar e se abrir sobre suas angústias e gatilhos emocionais. Esse espaço não se refere apenas ao local físico, mas à conexão com o profissional que oferece apoio. 

Durante minhas consultas, busco ser acolhedora e empática, praticando uma escuta ativa e deixando claro que ali não há lugar para julgamentos. O acolhimento se reflete no comportamento do profissional. Muitos pacientes compartilham experiências de negligência por parte de médicos e nutricionistas, especialmente devido a abordagens que desconsideram a dimensão emocional. 

Além disso, não faço a avaliação física uma imposição, para evitar reações negativas em relação ao corpo. Meu objetivo é garantir que o paciente se sinta à vontade e respeitado, uma vez que isso pode impactar positivamente sua saúde mental. 

  1. Como você identifica sinais de que um paciente pode estar enfrentando dificuldades emocionais durante as consultas? Quais são as suas intervenções iniciais?  

É fundamental prestar atenção ao que o paciente relata, mas também observo sinais físicos, como indícios de desnutrição, alterações de humor—como apatia, desânimo e desinteresse—e mudanças no apetite e nos hábitos alimentares. Sintomas clínicos decorrentes do estresse, como queda de cabelo e amenorreia, também são importantes. O corpo muitas vezes revela que a saúde mental não está bem. 

Por meio de uma anamnese cuidadosa e avaliação clínica, é possível identificar dificuldades emocionais que o paciente enfrenta. Minha abordagem inclui encaminhá-lo para psicoterapia, destacando a importância de um acompanhamento com um psicólogo qualificado, caso ainda não tenha um. Se o paciente já estiver em tratamento psicológico, enfatizo a necessidade de manter as consultas e compartilhar suas dificuldades com o profissional. 

Pacientes com depressão requerem um acompanhamento multidisciplinar, envolvendo psicólogos e psiquiatras, e busco sempre me integrar à equipe que o apoia. Na nutrição, é essencial garantir que o paciente esteja bem nutrido, já que deficiências nutricionais podem agravar quadros depressivos. Gosto de estimular uma alimentação colorida, rica em frutas, verduras e legumes, e reforçar a importância de incluir todos os macronutrientes na rotina alimentar, evitando dietas restritivas que podem piorar a situação. Além disso, cuidamos da saúde e integridade intestinal. 

  1. De que maneira você acredita que profissionais de nutrição podem colaborar com outros profissionais de saúde para oferecer um suporte mais amplo e efetivo à saúde mental dos pacientes?  

É fundamental que todos os profissionais de saúde colaborem e se comuniquem entre si. O nutricionista deve contatar os outros profissionais que acompanham seus pacientes para alinhar o tratamento, já que cada um complementa o trabalho do outro. 

Devemos cultivar uma rede de profissionais de confiança, alinhados com nossa abordagem, para recomendar aos pacientes. Não há nada mais confuso para o paciente do que receber orientações contraditórias, o que dificulta a construção de um vínculo sólido. 

Além disso, encorajo os nutricionistas a se aprofundarem em questões relacionadas à saúde mental, uma vez que esse tema não é amplamente abordado nas grades curriculares das faculdades. A nutrição comportamental, por exemplo, é um assunto de pós-graduação, e os nutricionistas, em geral, não saem formados com a capacidade de oferecer suporte efetivo à saúde mental de seus pacientes. 

Agradecemos a Dra. Camilla Haddad por compartilhar seu conhecimento e agregar para uma prática clínica consciente e receptiva.   

Dra. Camilla Haddad 

Graduada em Nutrição pelo Centro Universitário Hermínio da Silveira (2021) e Pós-graduação em Nutrição Funcional aplicada à Clínica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ (2024). Atualmente é proprietária do Consultório de Nutrição Camilla Haddad e nutricionista colaboradora e pesquisadora do Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares (GOTA) do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro IPUB/UFRJ. Tem experiência na área de Nutrição, com ênfase em Clínica Funcional, Nutrição Comportamental e Transtornos Alimentares.

Quer saber mais como aprimorar e acolher o paciente na prática clínica? Leia nosso artigo sobre “O que todo o nutricionista precisa saber sobre suicídio?”. Acesse o Link:   

Referências   

  • DA SILVA, Vanessa Ferreira Belo et al. Nutrição e Saúde Mental: O Papel da Alimentação nos Transtornos Depressivos e de Ansiedade-Uma Revisão de Literatura. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, v. 6, n. 5, p. 1934-1945, 2024Available from: https://doi.org/10.36557/2674-8169.2024v6n5p1934-1945 
  • Depression and Other Common Mental Disorders. Global Health Estimates. WHO, 2017. 

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