Impacto de Probióticos e Fibras na Saúde Intestinal: Vantagens das Fórmulas Multicepas  

Descubra como fórmulas multicepas de probióticos e fibras prebióticas podem modular a saúde intestinal, com dicas práticas de suplementação e intervenções clínicas para nutricionistas. 


A microbiota intestinal é um conjunto diversificado de microrganismos que habitam o trato gastrointestinal humano cooperando na saúde do corpo. Esses microrganismos são responsáveis pela absorção de nutrientes, regulação do sistema imunológico, proteção contra patógenos e manutenção da integridade da barreira intestinal¹.  

Os probióticos e as fibras prebióticas auxiliam na saúde intestinal e no bem-estar geral, tornando-se tópicos essenciais para nutricionistas. Os probióticos são microrganismos benéficos, ajudam a equilibrar a flora intestinal, enquanto as fibras prebióticas servem como alimento para esses probióticos, promovendo seu crescimento e atividade ⁵. 

Probióticos e Prebióticos 

Os probióticos são definidos pela OMS como microrganismos vivos que, quando ingeridos em quantidades adequadas, oferecem benefícios à saúde². Entre os probióticos mais comuns, destacam-se várias cepas de lactobacilos e bifidobactérias³.  

Já os prebióticos são alimentos funcionais indigeríveis que beneficiam o hospedeiro ao estimular o crescimento e a atividade de espécies bacterianas específicas, melhorando assim a saúde intestinal³. 

Multicepas Probióticas e Fibras Prebióticas 

A eficácia dos probióticos multicepas é superior e mais consistente em comparação aos cepa única. Diferentes cepas têm relações simbióticas, potencializando o crescimento e a atividade metabólica, o que pode levar a um maior consumo de nutrientes e ajudar no controle de patógenos intestinais.⁴ 

Os alimentos funcionais, especialmente os prebióticos, fornecem nutrição básica e promovem a saúde de maneiras que vão além da nutrição convencional, com foco na saúde intestinal e no aumento da microbiota. Entre os prebióticos mais utilizados estão os furtanos, como a inulina e os frutooligossacarídeos (FOS).⁴ 

Destaca-se, então, a importância da suplementação de fibras prebióticas e a ação das formulações multicepas de probióticos na modulação intestinal. 

Probióticos na Saúde Intestinal 

Os probióticos podem desempenhar um papel importante no controle de doenças multifatoriais, exigindo uma variedade de propriedades específicas de cada cepa.⁴ 

Evidências científicas mostram que os probióticos têm propriedades profiláticas significativas, estimulando diversas funções protetoras do sistema digestório. Eles ajudam na redução e eliminação de microrganismos patogênicos e toxinas, além de modularem os mecanismos de defesa imunológica³. 

Com isso, os probióticos contribuem para a síntese de nutrientes, antioxidantes, fatores de crescimento e coagulação, sendo amplamente utilizados na prevenção e tratamento de diarreias de diversas origens³. 

Prebióticos e Fibras Alimentares 

Para que um alimento seja classificado como prebiótico, deve resistir à acidez gástrica, à hidrólise de enzimas e à absorção gastrointestinal. Além disso, deve ser fermentável pela microbiota intestinal e estimular o crescimento e a atividade de bactérias benéficas³. 

Os FOS são reconhecidos como prebióticos por promoverem o crescimento de bifidobactérias e lactobacilos, estabilizando a proliferação dessas bactérias benéficas no trato gastrointestinal e inibindo o crescimento de patógenos como Escherichia coli e Clostridium perfringens³. Estudos demonstraram que a administração de frutanos em pacientes com constipação resulta em um aumento significativo no número de bifidobactérias e melhora no quadro clínico³. 

Sinergia entre Probióticos e Prebióticos 

A combinação de probióticos e ingredientes prebióticos pode maximizar seus efeitos, resultando em alimentos funcionais simbióticos. Embora apenas parte dos mecanismos que explicam os benefícios de probióticos e prebióticos tenha sido elucidado, a pesquisa nessa área está em expansão⁵.  

Essa sinergia pode ser potencializada se o probiótico se adaptar ao substrato prebiótico antes do consumo, oferecendo uma vantagem competitiva quando ambos são ingeridos juntos. Os efeitos dessa combinação podem ser direcionados a diferentes regiões do trato gastrointestinal, como o intestino delgado e grosso⁵. 

Mecanismos de Ação: Colonização e Competição 

A colonização do ecossistema intestinal é mais eficaz com probióticos multicepas em vez de cepa única.⁴ Esses probióticos exercem influência positiva sobre a microbiota intestinal através de fatores como competição e ações imunológicas, resultando em maior resistência a patógenos. Assim, a introdução de culturas bacterianas probióticas estimula o crescimento de microrganismos benéficos e inibe a proliferação de bactérias potencialmente nocivas, fortalecendo as defesas naturais do hospedeiro⁵. 

Além disso, a vantagem competitiva dos probióticos, combinada com o consumo de prebióticos, pode ser direcionada a diferentes regiões do trato gastrointestinal, como intestinos delgado e grosso. Embora compartilhem alguns mecanismos de ação, especialmente na modulação da microbiota endógena, prebióticos e probióticos diferem em composição e metabolismo. 

Produção de Ácidos Graxos de Cadeia Curta (AGCC) 

Os FOS são considerados fibras solúveis e não são degradados pelas enzimas digestivas, sendo fermentados por bactérias do cólon. Isso resulta na formação de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC)³. 

Os AGCC estimulam a proliferação do epitélio intestinal, servindo como fonte de energia para os enterócitos e promovendo o desenvolvimento celular no íleo e no cólon. Eles também melhoram o fluxo sanguíneo visceral e influenciam positivamente a homeostase da glicose e o metabolismo lipídico³. 

Sobretudo, a solubilidade da fibra está diretamente relacionada à sua degradação e à produção de AGCC, sendo que a alta dissolvência dos FOS resulta em uma produção mais rápida e abundante de AGCC em comparação a outras fibras³. 

Modulação da Inflamação e Função Imunológica 

Os probióticos podem ter um efeito benéfico na modulação de reações alérgicas ao fortalecer a barreira da mucosa intestinal. Estudos mostram que a exposição microbiana reduzida na infância pode retardar a maturação do sistema imunológico, com crianças alérgicas apresentando menor colonização por lactobacilos, apresentando uma predominância de coliformes e Staphylococcus aureus⁵.  

Assim, os probióticos têm a capacidade de reduzir a inflamação intestinal e as reações de hipersensibilidade em pacientes com alergia alimentar, servindo como uma estratégia de prevenção primária para indivíduos suscetíveis⁵. 

Vantagens de Formulações Multicepas 

Os probióticos multicepas combinam características benéficas de diferentes cepas, sendo especialmente relevantes para pessoas com queixas gastrointestinais diversas. O gênero Lactobacillus é predominante no intestino delgado, enquanto o Bifidobacterium se concentra no intestino grosso⁴.  

Estudos sugerem que probióticos multicepas podem ser mais eficazes contra patógenos gastrointestinais⁴. Diferentes cepas têm relações simbióticas, aumentando o crescimento e a atividade metabólica. Essas interações podem melhorar a absorção de nutrientes e ajudar no controle de patógenos intestinais⁴. 

Aplicações Clínicas das Fórmulas Multicepas 

O uso de antibióticos pode causar disbiose, alterando a microbiota e prejudicando a resistência à colonização e levar ao crescimento de micróbios resistentes e patógenos oportunistas, frequentemente causando sintomas como diarreia⁴.  

Os probióticos multicepas têm se mostrado eficazes na prevenção dessa disfunção intestinal, ajudando na digestão da lactose, digestão da lactose, redução da constipação e diarreia em crianças, resistência a infecções oportunistas, prevenção da “diarreia do viajante” e alívio da síndrome do intestino irritável³. 

Além disso, as bifidobactérias desempenham papéis importantes na estimulação do sistema imunológico, produção de vitaminas do complexo B, inibição de patógenos e na recuperação da microbiota após o uso de antibióticos³. 

Outros benefícios como auxiliar na prevenção do câncer, modulação de reações alérgicas, melhoria da saúde urogenital das mulheres e regulação dos níveis de lipídios no sangue são atrelados aos probióticos⁵. Evidências preliminares sugerem que as bactérias probióticas ou seus produtos fermentados podem ajudar no controle da pressão arterial⁵. 

Para a prática clínica, é fundamental avaliar a saúde intestinal do paciente e condições associadas, como a síndrome do intestino irritável e alergias alimentares. Recomende uma variedade de produtos que contenham diferentes cepas de probióticos e incentive o paciente a iniciar com pequenas quantidades, observando a resposta do organismo⁹. 

Além disso, sugira a inclusão de alimentos probióticos, como iogurtes, kefir e chucrute, na dieta. Considere também adicionar alimentos que favoreçam o crescimento de probióticos, como alho, cebola, bananas e aveia. Se necessário, prescreva suplementação. Por fim, realize um acompanhamento contínuo para monitorar o progresso e a saúde do paciente ⁹. 

Recomendações Clínicas 

A diarreia causada por antibióticos é uma complicação comum em ambientes hospitalares, afetando de 13% a 60% dos pacientes. A infecção por Clostridium difficile é uma das principais causas de diarreia e colite, resultando em aumento do tempo de internação, maior risco de novas infecções, custos elevados e aumento da mortalidade. Para ajudar a restaurar a microflora intestinal, o uso de probióticos é recomendado¹¹. 

Os prebióticos, como a inulina, têm mostrado benefícios na frequência e consistência das fezes, especialmente em situações de estresse. Na doença inflamatória intestinal (DII), probióticos e prebióticos são sugeridos para restaurar a flora intestinal e reduzir a inflamação, uma vez que os pacientes têm maior risco de câncer colorretal¹¹. 

No caso da esteatose hepática não alcoólica, probióticos podem ajudar a regular a flora intestinal e melhorar a saúde do fígado. Em pacientes críticos ou que passaram por cirurgias maiores, estudos indicam que o uso de simbióticos oferece benefícios em comparação com a nutrição enteral padrão¹¹. 

Para pancreatite aguda grave, o uso de simbióticos tem mostrado reduzir a incidência de complicações. Além disso, pesquisas sobre a absorção de cálcio sugerem que prebióticos podem melhorar tanto a absorção quanto a densidade mineral óssea em adolescentes¹¹. 

Suplementação 

Segundo a recomendação da OMS, um adulto saudável deve consumir entre 25g e 30g de fibras por dia. No entanto, atingir essa meta apenas por meio da alimentação pode ser desafiador. De acordo com o IBGE, os brasileiros consomem, em média, apenas 50% da quantidade recomendada. A inclusão de probióticos multicepas podem ajudar, mas é importante que isso esteja aliado a uma dieta equilibrada e a hábitos de vida saudáveis⁷.  

Já a ANVISA classifica os probióticos como microrganismos vivos que podem promover um equilíbrio saudável da microbiota intestinal, trazendo benefícios à saúde do indivíduo. A quantidade mínima recomendada de probióticos deve variar entre 10⁸ e 10⁹ Unidades Formadoras de Colônias (UFC) na dose diária do produto pronto para o consumo, conforme as orientações do fabricante. Valores inferiores podem ser aceitos, desde que a empresa demonstre sua eficácia¹⁰. 

No que diz respeito aos probióticos, é essencial que as recomendações para seu uso na prática clínica conectem cepas específicas aos benefícios comprovados em estudos com humanos ⁸. 

Os probióticos multicepas e prebióticos desempenham papéis essenciais na promoção da saúde intestinal e na modulação da microbiota. A combinação de diversas cepas de probióticos oferece benefícios sinérgicos, potencializando o crescimento de bactérias benéficas e melhorando a resistência a patógenos. Além de favorecer a digestão e a absorção de nutrientes, esses microrganismos podem ajudar a prevenir e tratar diversas condições gastrointestinais, fortalecer o sistema imunológico e contribuir para a saúde geral. 

Para os nutricionistas, a utilização de intervenções com probióticos e prebióticos se torna fundamental na prática clínica. Essas estratégias não apenas ajudam a restaurar o equilíbrio da microbiota após disbiose, mas também promovem uma abordagem preventiva e terapêutica eficaz, melhorando a qualidade de vida dos pacientes.  

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Referências 

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