Dieta X Exercícios: O que emagrece mais?

A busca por emagrecimento é motivada por uma variedade de fatores, incluindo melhoria da saúde física e psicológica, qualidade de […]


A busca por emagrecimento é motivada por uma variedade de fatores, incluindo melhoria da saúde física e psicológica, qualidade de vida, mas principalmente (sejamos honestos) a aparência física. Estratégias eficazes para a perda de peso envolvem planejamento e mudanças de comportamento. Barreiras comuns incluem motivação para a mudança, entendimento sobre as consequências das dietas restritivas e ambiente biopsicosociocultural. As motivações, conhecimentos, ambientes e desafios variam significativamente entre as pessoas – mas no momento do atendimento individual a única coisa que importará será o contexto do paciente, cabendo ao nutricionista se aliar a ele para encontrar a melhor estratégia para atender suas demandas. 

A eficácia do equilíbrio entre alimentação e exercício físico no processo de perda de peso é indiscutível, mas a sinergia entre eles tende a ser pouco compreendida pelas pessoas de forma geral. Não é difícil ouvir relatos de indivíduos que se colocam, ainda que em curto período de tempo, em práticas excessivas de exercício associadas com privação de energia, enquanto outros veem no exercício uma liberação para comer o que em situações normais é visto como “proibido”. Ainda existem aqueles que em absoluta vida sedentária acreditam que apenas a alimentação será a responsável por classifica-los como saudáveis. 

Antes de explorar as nuances e interações entre alimentação e exercício, é importante destacar que, sempre que possível, o nutricionista deve trabalhar em conjunto com um educador físico – sendo este o único habilitado a prescrever exercícios específicos (tipo de exercício, séries, tempo e etc.). Na ausência deste profissional, o nutricionista pode orientar (e não prescrever) atividade física – que não necessariamente vai atender demandas específicas de alguns pacientes (como tonificar determinada parte do corpo), mas vai de encontro com o propósito de manutenção da saúde. 

Entendendo o balanço energético 

Em linhas gerais, o excesso de peso é fruto de um processo multifatorial que culmina em um desequilíbrio energético prolongado, onde a energia ingerida excede a energia gasta por meio do gasto energético basal, atividade física rotineira e exercício físico. Indivíduos que buscam a perda de peso são encorajados a alcançar um balanço energético negativo, onde a energia consumida é reduzida e/ou a energia gasta, frequentemente por meio do exercício, é aumentada. No entanto, a complexa relação entre o gasto e a ingestão de energia é muitas vezes simplificada, deixando indivíduos e profissionais insatisfeitos com os resultados dos esforços para perder peso. 

Essa frustração se origina na, já conhecida, premissa onde, ao aumentar o exercício, são observados mecanismos compensatórios tanto nos comportamentos quanto no metabolismo – que se adaptam para compensar o balanço energético negativo esperado criado pelo aumento do exercício físico. O mesmo acontece na restrição da ingestão de energia que, mesmo quando consegue ser prolongada, desencadeia mecanismos compensatórios que impedem o desejado emagrecimento. 

Especialmente neste último caso, restrições calóricas frequentemente resultam em uma maior proporção de perda de peso da massa magra, levando a uma maior redução no gasto energético basal e, assim, os indivíduos devem restringir ainda mais a ingestão de energia para continuar perdendo peso – o que, além de arriscado, é pouco prático. Com esse conhecimento, já é possível afirmar que nem mudanças na alimentação e nem exercícios, isoladamente, são estratégias eficazes de emagrecimento – de tal modo que, além de um não ser melhor do que o outro, consequências opostas às desejadas podem ser alcançadas.  

Uma adequada combinação de mudanças na alimentação e intervenções de exercício tendem a ter efeito protetor contra a perda de massa magra e declínios no gasto energético basal, o que apoia a perda de peso a longo prazo e a manutenção do peso. No entanto, as diferenças interindividuais na mudança de peso em resposta a intervenções são frequentemente observadas em estudos controlados, com diversas questões levantadas sobre os comportamentos compensatórios que contribuem para essa variabilidade – e não, não é apenas uma questão de força de vontade. 

Sem sequer considerar contextos individuais, onde todas essas mudanças estão inseridas, alterações no balanço energético alteram também a regulação hormonal da fome. Isoladamente, a restrição da ingestão de alimentos potencializará a sensação de fome, que pode ser amenizada quando combinada com melhores distribuições das refeições em conjunto com exercícios físicos. 

Uma revisão recente identificou que apenas 25% dos indivíduos conseguiram manter o peso desejado após intervenções para perda de peso, baseadas em alimentação e exercícios. Os pesquisadores apontam que o principal ponto de atenção, que leva ao reganho de peso, é justamente o foco da intervenção. Eles destacam que desde o começo (e durante todo o processo) a busca por comportamentos saudáveis (e praticáveis dentro das realidades individuais) deve estar em pauta com os indivíduos – o que inclui, mas não se limita a, discussão sobre motivações, imagem corporal e cultura da dieta. 

A manutenção de um peso corporal saudável e desejável é um processo dinâmico que requer um equilíbrio cuidadoso não só entre a alimentação e o exercício, mas também entre o indivíduo e seus comportamentos. Entender como todos esses fatores interagem é fundamental para desenvolver estratégias eficazes dentro de contextos individuais.

Referências Bibliográficas

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