Impacto das novas diretrizes sobre adoçantes para nutricionistas

OMS desaconselha adoçantes para controle de peso e doenças. Nutricionistas alertam sobre impactos na saúde, sugerindo alternativas naturais e atenção à rotulagem.


Produtos são reconhecidos por auxiliarem pacientes a reduzirem o consumo de açúcares; documento da OMS lista quais deles são desaconselhados.

As novas diretrizes sobre o uso de adoçantes, publicadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) no último dia 15 de maio, são destinadas especialmente ao desenvolvimento e implementação de políticas públicas de saúde, mas deverão provocar ecos no ambiente clínico da nutrição. A entidade passou a não recomendar o uso desse tipo de produto para controle de peso ou como estratégia para reduzir o risco de doenças não transmissíveis.

Em um documento de 90 páginas, a agência da ONU (Organização das Nações Unidas) para a Saúde fala em potenciais efeitos indesejados do uso prolongado de adoçantes, como aumento do risco de diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e mortalidade em adultos. A recomendação, conforme argumentado no material, “é baseada em resultados de uma revisão sistemática de evidências disponíveis.”

A lista inclui todos os adoçantes não nutritivos sintéticos e naturais ou modificados que não são classificados como açúcares. Entre os produtos desaconselhados estão: acesulfame K, aspartame, advantame, ciclamatos, neotame, sacarina, sucralose, stevia e derivados de stevia.

Tendência de ‘vilanização’ dos adoçantes preocupa

Para a nutricionista Malu Bastos, a tendência é que todos os adoçantes listados sejam “demonizados” e vistos como vilões, e aqueles que não foram incluídos na lista, como os polióis, por exemplo, sejam os “bonzinhos”. Dessa forma, ela avalia que nutricionistas devem estar ainda mais atentos para não incorporarem essa visão em suas condutas.

A decisão de usar ou não um adoçante artificial ou natural deve ser discutida com o paciente, respeitando sua individualidade e considerando se o volume de açúcar consumido por ele ao longo do dia representa de fato uma quantidade calórica significativa que impacta negativamente não só no ganho de peso, mas também na disbiose e o coloca no risco de esgotamento do pâncreas a longo prazo, aumentando da mesma forma o risco de doenças cardiovasculares e metabólicas com o envelhecimento

Malu Bastos

Com 34 anos de prática clínica em consultório, Malu Bastos concorda que substituir o açúcar por adoçantes artificiais ou naturais, isoladamente, não leva à redução da gordura corporal a médio e longo prazo, já que o emagrecimento em si é consequência de mudanças em diversos hábitos que não só os alimentares. Apesar disso, pondera que no campo da alimentação a redução do consumo abusivo de açúcar se faz necessária e em muitos casos os adoçantes auxiliam a este “desmame” do açúcar.

Raciocínio semelhante é acompanhado pela nutricionista Paula Castilho. “Acredito que na prática clínica, os adoçantes auxiliam, sim, na redução do consumo do açúcar e até mesmo a reduzir e ‘redisciplinar’ o paladar. Muitos migram do açúcar para o adoçante e depois acabam eliminando o paladar mais adocicado ao longo do tempo”.

Frutas e alimentos naturais são alternativas

Para Paula Castilho, é extremante importante orientar e recomendar as fontes mais apropriadas, que são mais naturais, para que o consumo não seja feito de maneira incorreta, além de adoçantes considerados nocivos para a saúde deixarem o mercado. “Para a nutrição, é muito importante, retirar do mercado adoçantes nocivos para a saúde, em que o consumo a longo prazo, pode se tornar gatilho para outras doenças”.

A OMS pede que as pessoas considerem outras formas de reduzir a ingestão de açúcar, como consumir frutas e outros alimentos naturalmente adoçados, além de alimentos e bebidas sem nenhum tipo de açúcar.

A nutricionista Malu Bastos também sugere atenção aos dizeres de rotulagem de alimentos industrializados, principalmente na lista de ingredientes onde é descrita a adição de açúcares e de adoçantes. “Muitos produtos industrializados contêm outros açúcares que não o açúcar da cana que estamos familiarizados”.

Recomendação não vale para diabéticos, mas ação é criticada

A maneira como as novas diretrizes da OMS foram divulgadas é motivo de controvérsia. A recomendação se aplica a todas as pessoas, com exceção de quem tem diabetes pré-existente. Para este público, porém, o comunicado leva desinformação e confusão, de acordo com nota assinada por ANAD (Associação Nacional de Atenção ao Diabetes), Fenad (Federação Nacional de Associações e Entidades de Diabetes), SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes) e International Sweeteners Association.

O grupo de entidades acredita que não reconhecer o papel dos adoçantes sem ou de baixas calorias na redução da ingestão de açúcar e calorias e no auxílio ao controle de peso representa um desserviço à saúde pública, no contexto do esforço global para lidar com a carga de doenças não transmissíveis.

A OMS só pôde concluir uma recomendação condicional, que não é cientificamente rigorosa, nem se baseia em uma base de evidências robusta ou apoiada pelas evidências apresentadas na própria revisão sistemática encomendada.

Organização mundial da saúde

As entidades expressaram suas preocupações sobre as conclusões e a lógica utilizada pela OMS. Elas compartilham do entendimento do Office for Health Improvement and Disparities do Reino Unido, que comentou que “a diretriz pode ir longe demais”, e com o Department of Health and Aged Care do governo australiano, que escreveu que “a recomendação pode resultar em resultados indesejáveis para a saúde de alguns indivíduos”.

O posicionamento ainda argumenta que os adoçantes têm um papel a desempenhar na luta contra a obesidade e oferecem às pessoas com diabetes uma alternativa importante ao açúcar, pois os produtos sem ou de baixas calorias causam um aumento menor nos níveis de açúcar no sangue quando usados no lugar dos açúcares.

Recomendação é condicional, observa Anvisa

As novas diretrizes para os adoçantes serão avaliadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) junto ao Ministério da Saúde e também fora do ambiente governamental. Em comunicado, o órgão observou que o estudo da OMS não tem como objetivo rever o perfil de segurança dos adoçantes sem açúcar.

A recomendação é condicional, já que há necessidade de reunir mais informações sobre as consequências versus os benefícios da sua adoção, sugerindo aos países que ampliem a discussão em seus territórios, incluindo dados sobre a extensão de consumo dessas substâncias pela população nacional.

Agência Nacional de Vigilância Sanitária

O uso de adoçantes no Brasil deve ser autorizado pela agência, que realiza avaliações de segurança desses produtos com base nas diretrizes da Organização das Nações Unidas.

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