Tudo o que você precisa saber sobre colesterol

No Brasil e no mundo, colesterol é sinônimo de algo ruim – ainda que se fale de forma rotineira no […]


No Brasil e no mundo, colesterol é sinônimo de algo ruim – ainda que se fale de forma rotineira no tal “colesterol bom”. Fato é que colesterol é um só e se trata de uma substância essencial para a vida, desempenhando papéis cruciais na estrutura celular e na produção de hormônios.  

Porém, tal como tantas outras substâncias de nosso organismo, desbalanços podem levar a sérios problemas de saúde, como doenças cardiovasculares e até piora da saúde mental, conforme alguns estudos recentes. Mas afinal, o que todo profissional precisa saber o colesterol? 

A descoberta do colesterol remonta ao final do século XVIII. Em 1769, François Poulletier de la Salle, um químico francês, isolou uma substância semelhante a gordura a partir de cálculos biliares humanos. No entanto, foi apenas em 1815 que o químico francês Michel Eugène Chevreul identificou essa substância como um componente específico e a denominou “colesterina”, derivado do grego “chole” (bile) e “stereos” (sólido).  

O progresso na compreensão do colesterol continuou ao longo do século XIX e XX: em 1913, o bioquímico russo Nikolai Anichkov realizou experimentos que mostraram a ligação entre o colesterol e a aterosclerose, estabelecendo uma conexão fundamental entre o colesterol elevado e doenças cardiovasculares; no século XX, pesquisas avançaram significativamente, ainda que repletas de controversas, levando ao desenvolvimento de métodos para medir os níveis de colesterol no sangue e ao entendimento de suas diferentes formas e funções no organismo. 

A estrutura e suas funções

O colesterol é uma molécula lipídica essencial para a integridade estrutural das membranas celulares, a síntese de hormônios esteroides, ácidos biliares e vitamina D. Devido à sua natureza hidrofóbica, ele é transportado no sangue associado a lipoproteínas, formando diferentes tipos de partículas com funções variadas: 

  • Lipoproteínas de baixa densidade (LDL): As LDL são conhecidas popularmente como “colesterol ruim”. Elas transportam o colesterol do fígado para os tecidos periféricos e, em níveis elevados, podem se acumular nas paredes das artérias, levando à formação de placas ateroscleróticas e aumentando o risco de doenças cardiovasculares. 
  • Lipoproteínas de alta densidade (HDL): As HDL são conhecidas popularmente como “colesterol bom”. Elas coletam o colesterol dos tecidos e o transportam de volta ao fígado, onde pode ser metabolizado e excretado, reduzindo o risco de doenças cardiovasculares. 
  • Lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL) e quilomícrons: As VLDL transportam triglicerídeos e colesterol do fígado para os tecidos, sendo precursoras das LDL. Os quilomícrons transportam lipídios absorvidos dos alimentos do intestino para os tecidos periféricos. 

Como as aulas de histologia costuma ser nos primeiros semestres de qualquer graduação em nutrição, é importante lembrar que é o colesterol que confere fluidez e estabilidade às células, uma vez que compõe a membrana de todas elas. Ele também é precursor de hormônios esteroides, ácidos biliares e vitamina D.  

A homeostase do colesterol é regulada por um complexo sistema que envolve síntese hepática, absorção intestinal e excreção biliar. Os exames bioquímicos (veja mais aqui: https://academiadanutricao.com/todos/exames-laboratoriais-na-nutricao-quando-pedir-o-que-pedir-e-como-interpretar/) relacionados ao colesterol medem, na prática, o LDL, HDL, colesterol total e triglicerídeos, sendo importantes para avaliação e acompanhamento do risco de doenças cardiovasculares. 

O que modula o colesterol?

As expressões das lipoproteínas que carregam as moléculas de colesterol são moduladas por alguns comportamentos, ainda que estes não sejam determinantes decisivos para tal modulação. Veja abaixo uma síntese desta modulação: 

 HDL LDL TG 
Prática constante de atividade física ↑ ↓ ↓ 
Tabagismo ↓ ↑ – 
Consumo excessivo de álcool ↓ ↑ ↑ 
Estresse – ↑ ↑ 
Baixa qualidade de sono ↓ ↑ – 
Consumo excessivo de gorduras saturadas – ↑ – 
Consumo de gorduras trans ↓ ↑ ↑ 
Consumo de gorduras insaturadas ↑ ↓ ↓ 
Consumo de fibras – ↓ ↓ 
Consumo de fitosteróis – ↓ – 
Consumo excessivo de açúcar ↓ ↑ ↑ 

O quadro acima é apenas um panorama dos estudos sobre o assunto, e tais indicativos devem ser considerados caso a caso – incluindo, ainda, o histórico familiar e predisposições genéticas. 

Colesterol e Saúde mental

Estudos indicam que o colesterol desempenha um papel importante na regulação do comportamento e da psicopatologia, incluindo depressão, suicídio, personalidade e agressão. Esse campo de estudo parece promissor para esclarecer novos caminhos para o tratamento de problemas de comportamento e saúde mental. 

Algumas investigações apontam a relação entre níveis baixos de colesterol e saúde mental, revelando associações significativas com sintomas depressivos, agressividade, hostilidade e impulsividade. Evidências sugerem que níveis baixos de colesterol total (TC) e LDL estão associados a uma maior prevalência de sintomas depressivos. Homens de meia-idade com níveis cronicamente baixos de colesterol apresentam um risco mais elevado de desenvolver esses sintomas. 

Além da depressão, há uma associação negativa significativa entre níveis baixos de colesterol e comportamento agressivo. Essa relação foi observada tanto em humanos quanto em primatas, onde pacientes com distúrbios mentais graves e níveis baixos de colesterol mostraram maior agressividade e impulsividade.  

Em termos de hostilidade, níveis baixos de colesterol LDL foram associados a maior cinismo e hostilidade, especialmente em indivíduos sob medicação para baixar o colesterol. Mulheres com níveis baixos de HDL, por sua vez, apresentaram maior hostilidade agressiva. Além disso, alterações nos níveis de colesterol foram relatadas em relação a outros transtornos psiquiátricos, como esquizofrenia e ideação suicida. 

Como sempre, mais pesquisas são necessárias para elucidar os mecanismos subjacentes e identificar subgrupos de indivíduos que possam ser mais suscetíveis a esses efeitos adversos. 

À medida que avançamos na compreensão do colesterol e seu papel na saúde humana, torna-se cada vez mais evidente que as perspectivas iniciais que condenavam indiscriminadamente o consumo de gorduras não abrangiam toda a complexidade desse componente.  

Observamos, por exemplo, que nações europeias com dietas ricas em gorduras, incluindo saturadas, como a França e Espanha, mantêm baixos índices de doenças cardiovasculares, desafiando as noções simplistas de outrora. Pesquisas recentes também sugerem que níveis extremamente baixos de colesterol podem trazer consequências prejudiciais à saúde, ilustrando que o equilíbrio é mais benéfico do que a mera redução.  

Enquanto novos estudos continuam a revelar informações valiosas, é crucial adotar uma abordagem ampla na avaliação nutricional. Considerar o contexto cultural, os comportamentos alimentares e as preferências individuais torna-se essencial para desenvolver planos de ação eficazes e personalizados, SEMPRE em parceria com o paciente. 

Referências Bibliográficas:


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