Por que é importante trabalhar com metas no atendimento nutricional?  

Saiba como trabalhar com metas no atendimento nutricional pode melhorar a adesão, personalizar o cuidado e transformar a relação com os pacientes.


A prática dos nutricionistas frequentemente se apoia em planos alimentares detalhados, uma ferramenta valiosa em muitos contextos clínicos. No entanto, sua eficácia pode ser limitada quando o objetivo é promover mudanças comportamentais sustentáveis.  
 
Para a maioria dos pacientes, planos muito rígidos podem gerar sensação de fracasso e desmotivação. Nesse cenário, trabalhar com metas surge como uma estratégia complementar, capaz de aumentar a adesão e criar um ambiente mais flexível e centrado no paciente.  
 
O uso de metas não pretende substituir completamente os planos alimentares, mas sim ampliar as ferramentas do nutricionista para atender às diferentes demandas. Essa abordagem valoriza o indivíduo como um todo, integrando estratégias práticas que respeitam sua realidade, suas limitações e seu ritmo. 

As metas complementam os planos alimentares ao oferecer uma abordagem mais flexível e personalizada às necessidades do paciente. Enquanto os planos fornecem uma estrutura técnica, as metas tornam o processo mais adaptável e facilitam mudanças graduais e realistas.  
 
Por exemplo, um paciente que enfrenta dificuldades em incluir hortaliças na alimentação pode iniciar com uma meta simples, como incluir saladas no jantar em dias alternados. Esse pequeno ajuste respeita a realidade do paciente, criando um ponto de partida que pode ser ampliado conforme o hábito se fortaleça. 

Essa abordagem permite ajustes contínuos e promove um espaço de diálogo, onde crenças, desafios e expectativas são explorados de forma colaborativa. Nesse contexto, o nutricionista atua como facilitador, ajudando o paciente a conquistar pequenas vitórias que, ao longo do tempo, se transformam em mudanças significativas.  
 
Essa flexibilidade também é especialmente benéfica para pacientes que já fracassaram em dietas anteriores, pois as metas proporcionam um ambiente mais acolhedor e menos impositivo, reconstruindo a relação do paciente com a alimentação e consigo mesmo. 

A construção de metas: Estratégias e benefícios  

A construção de metas eficientes exige equilíbrio entre escuta ativa e direcionamento claro. O primeiro passo é compreender a rotina, os desafios e os objetivos do paciente, investigando não apenas o que ele deseja alcançar, mas também os fatores que podem facilitar ou dificultar esse processo. Por exemplo, um paciente que não consome hortaliças pode ter barreiras relacionadas à falta de tempo ou preferência alimentar.  
 
Nesse caso, propor metas como utilizar folhas higienizadas para simplificar o preparo torna-se um ponto de partida prático. Revisar essas metas regularmente também é essencial, ajustando-as de acordo com o progresso do paciente, o que torna o processo dinâmico e alinhado ao contexto de vida. 

Além de práticas específicas, trabalhar com metas permite conectar o processo às crenças e valores do paciente. Ao explorar aspectos como o prazer de cozinhar ou o impacto emocional de escolhas alimentares mais conscientes, o nutricionista torna o acompanhamento mais significativo e relevante.  
 
Isso contribui para a autonomia do paciente, que desenvolve habilidades práticas e confiança para tomar decisões alimentares, transformando-se em participante ativo do seu cuidado. 

Outro benefício de trabalhar com metas é a possibilidade de medir o progresso de formas mais amplas e positivas. Em vez de focar exclusivamente em indicadores físicos, como peso, o nutricionista pode celebrar conquistas concretas, como a inclusão de novos alimentos. Essa abordagem cria um ambiente motivador e mais engajador para o paciente, reforçando sua evolução. 

Metas e planos alimentares não são ferramentas excludentes, mas complementares. Em cenários clínicos específicos, como no manejo da insuficiência renal, os planos detalhados são muito importantes para a manutenção da saúde desses oacuentes.  
 
No entanto, metas podem ser usadas para melhorar a adesão, tornando as mudanças mais acessíveis. Por exemplo, uma meta como substituir o tipo de queijo do café da manhã algumas vezes por semana ajuda a implementar mudanças técnicas sem perder a flexibilidade. Já em contextos de mudanças de estilo de vida, metas podem ser mais eficazes do que planos rígidos, oferecendo personalização e maior adaptabilidade. 

Ainda assim, trabalhar com metas apresenta desafios, especialmente em pacientes que chegam à consulta esperando um plano alimentar estruturado – e vamos ser sinceros, é o que a maioria deles espera. Nesse caso, o nutricionista deve explicar os benefícios de começar aos poucos, conectando-as aos objetivos pessoais do paciente. Outro obstáculo comum é a tendência a estabelecer metas ambiciosas, o que pode gerar frustração em caso de falhas. Cabe ao nutricionista ajustar essas expectativas e garantir que cada meta seja viável e alcançável.  
 
Além disso, a consistência no acompanhamento é indispensável para reforçar os progressos e manter o paciente motivado – assim, retornos após muitas semanas não funcionam com este tipo de trabalho. 

Trabalhar com metas no atendimento nutricional vai além de adicionar uma ferramenta ao repertório do nutricionista. É uma maneira de transformar o processo em algo mais humano, dinâmico e alinhado às necessidades do paciente. Embora os planos alimentares sejam indispensáveis em muitos contextos, as metas trazem a flexibilidade necessária para promover mudanças reais e sustentáveis.  
 
Para o nutricionista, essa abordagem é uma oportunidade de se reinventar, assumindo um papel mais ativo como facilitador de mudanças, respeitando a individualidade de cada paciente e promovendo transformações que realmente façam sentido em suas vidas. 

Texto por Felipe Daun: nutricionista, mestre e doutor pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Aprimorando em Transtornos Alimentares pelo AMBULIM IPq-FMUSP. Professor do Instituto Nutrição Comportamental e colaborador da Academia da Nutrição. 

Referências Bibliográficas:  

Antonaccio, C., Daun, F., Figueiredo, M., & Macedo, S. (2024). Nutrição comportamental para uma comunicação responsável em saúde e nutrição. In M. Alvarenga et al. (Eds.), Nutrição comportamental (3ª ed., pp. 103-126). Barueri, SP: Manole. 

Daun, F., & Alvarenga, M. (2024). Habilidades de aconselhamento e comunicação para o nutricionista. In M. Alvarenga et al. (Eds.), Nutrição comportamental (3ª ed., pp. 127-153). Barueri, SP: Manole. 

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