O que é a Síndrome de Asperger e Quais os Desafios para a Nutrição?

A Síndrome de Asperger (SA), uma condição que se enquadra no espectro autista, é caracterizada por dificuldades na interação social […]


A Síndrome de Asperger (SA), uma condição que se enquadra no espectro autista, é caracterizada por dificuldades na interação social e padrões de comportamento restritos e repetitivos. Apesar de as pessoas com Asperger apresentarem dificuldades em algumas áreas, muitas têm inteligência média ou acima da média e habilidades especiais em determinados campos.  

Compreender a Síndrome de Asperger será fundamental para fornecer o apoio necessário para que esses indivíduos e seus familiares, quando estes buscarem um atendimento nutricional. 

O que é a Síndrome de Asperger? 

A SA foi nomeada em homenagem a Hans Asperger, um pediatra austríaco que, em 1944, descreveu crianças que exibiam um padrão de comportamento marcado pela dificuldade na interação social e habilidades e interesses em áreas específicas. Apesar de seu trabalho ter sido publicado na primeira metade do século XX, ele só ganhou reconhecimento internacional entre a década de 1980 e 1990, o que deu início a uma maior conscientização e compreensão desta condição. 

Desde a atualização do CID-10 (Classificação Internacional de Doenças) para o CID-11 e do DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) para o DSM-V, a SA compõe o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Na prática, é considerado uma forma mais leve de autismo, já que conta com a preservação das habilidades linguísticas e cognitivas.  

Enquanto indivíduos com outros tipos do TEA podem apresentar atrasos significativos na fala e desafios intelectuais, aqueles com SA geralmente não mostram atrasos notáveis no desenvolvimento da linguagem e muitas vezes têm uma inteligência média ou até acima da média. 

Indivíduos com SA geralmente apresentam dificuldades significativas em interação social e desenvolvem interesses específicos e intensos. Eles costumam ter uma fala formal, peculiar e tendem a levar as coisas ao pé da letra. Com o apoio adequado, são capazes de obter sucesso em várias áreas da vida. 

Porque o nutricionista precisa saber sobre a Síndrome de Asperger? 

A determinação exata da prevalência da SA é desafiadora, especialmente após a sua incorporação com as outras condições do espectro autista.  

Estudos que reportam um aumento de casos na população tendem a ser influenciados pelas novas definições, métodos mais eficazes de identificação e aumento da conscientização sobre o tema na população geral (o que leva a uma maior busca pelos serviços de saúde). A revisão mais recente sobre a SA destacou uma variação da prevalência na população geral ente 0,2% e 0,7% – com casos acontecendo majoritariamente em homens. 

Números relativos, entretanto, não minimizam a importância do estudo e conhecimento pelos nutricionistas, uma vez que os valores absolutos podem ser expressivos e representar uma população com maior tendência a buscar ajuda – especialmente com o aumento de campanhas sobre o tema.  

A SA afeta diversos aspectos da vida, desde a interação social e emocional até rotinas diárias e atividades. Indivíduos com SA podem enfrentar desafios na escola ou no trabalho devido a dificuldades de comunicação e sensibilidade a estímulos sensoriais, como luzes fortes ou ruídos altos.  

A alimentação também pode ser afetada, com algumas pessoas apresentando seletividade alimentar e até mesmo o diagnóstico de Transtorno Alimentar Restritivo-Evitativo (TARE). Assim, a importância do conhecimento sobre o tema por nutricionistas reside não só nas particularidades relacionadas a alimentação, bem como a forma de saber conversar com este público. 

Como o nutricionista pode ajudar as pessoas com Síndrome de Asperger? 

O diagnóstico precoce da SA é importante para garantir que as pessoas recebam o apoio necessário desde cedo.  Sinais de alerta incluem dificuldades significativas na interação social, interesses limitados e intensos, comportamentos repetitivos e desafios em entender comunicação não verbal.  

Se por acaso o nutricionista identificar estes sinais em sua prática, recomendar a busca por um psicólogo especializado é aconselhável. O processo de diagnóstico geralmente envolve uma combinação de observações comportamentais, histórico de desenvolvimento e avaliações psicológicas. 

O trabalho em conjunto com os familiares será crucial para o fornecimento do devido apoio. Compreensão, paciência e comunicação aberta são a base para criar um ambiente de suporte e aceitação – sem julgamentos.  

Indivíduos com a SA diagnosticada se beneficiarão de um acompanhamento multiprofissional para o desenvolvimento de suas habilidades sociais, de comunicação e de adaptação – âmbitos pelos quais a alimentação permeia.  

Obviamente, todas as intervenções devem ser personalizadas de acordo com as necessidades individuais mas, em geral, é importante que os nutricionistas treinem a sua comunicação (verbal e não verbal) para atender diretamente esses indivíduos, bem como buscar estratégias de atendimento pouco exploradas na formação clássica em Nutrição, como por exemplo, a Terapia Cognitivo Comportamental. 

Em suas publicações, o próprio Hans Asperger identificou o baixo peso como uma constante em seus relatos de casos. Estudos mais recentes corroboram esta característica, especialmente quando há a TARE associada, já que nestes casos ocorre uma limitação da ingestão de alimentos por falta de interesse em alimentação e questões relacionados as características sensoriais dos alimentos. 

Assim, aprofundar o conhecimento sobre a Síndrome de Asperger surge como uma forma de ampliar o potencial do atendimento nutricional para este público. 

Nutricionistas podem desempenhar um papel importante no reconhecimento e atendimento das necessidades específicas dessas pessoas, incluindo particulares desafios relacionados a alimentação. A colaboração com familiares, aliada a uma comunicação cuidadosa e adaptada, pode melhorar significativamente a qualidade de vida desses indivíduos. 

Referências Bibliográficas

  • American Psychiatric Association (APA). Diagnostic and statistical manual of Mental Disorders (DSM-V). 5th ed. Porto Alegre: Artmed; 2013. 
  • Asperger H. ‘Autistic psychopathy’ in childhood. In: Frith U, ed. Autism and Asperger Syndrome. Cambridge University Press; 1991:37-92. 
  • Hebebrand J, Henninghausen K, Nau S, Himmelmann GW, Schulz E, Schäfer H, Remschmidt H. Low body weight in male children and adolescents with schizoid personality disorder or Asperger’s disorder. Acta Psychiatr Scand. 1997 Jul;96(1):64-7. 
  • ICD-11. 6A02.0 Autism spectrum disorder without disorder of intellectual development and with mild or no impairment of functional language. International Classification of Diseases for Mortality and Morbidity Statistics, 11th, [v2023-01]. Disponível em: https://icd.who.int/browse/2024-01/mms/en#120443468 
  • Kalyva E. Comparison of eating attitudes between adolescent girls with and without Asperger syndrome: daughters’ and mothers’ reports. J Autism Dev Disord. 2009 Mar;39(3):480-6. 
  • Katzman DK, Norris ML, Zucker N. Avoidant restrictive food intake disorder. Psychiatr Clin North Am. 2019 Mar;42(1):45-57. 
  • Klin A. Autismo e síndrome de Asperger: uma visão geral. Braz J Psychiatry 2006 May;28:s3–11. 
  • Kurz S, Van Dyck Z, Dremmel D, Munsch S, Hilbert A. Early-onset restrictive eating disturbances in primary school boys and girls. Eur Child Adolesc Psychiatry. 2015 Jul;24(7):779-85. 
  • Lai MC, Lombardo MV, Baron-Cohen S. Autism. Lancet. 2014 Mar 08;383(9920):896-910. 
  • Lellis, D. Comportamento Alimentar na infância e na adolescência. In: Alvarenga M, organizadora. Nutrição Comportamental: ciência, prática clínica e comunicação. 1. ed. Barueri: Manole; 2022. 
  • Loomes R, Hull L, Mandy WPL. What Is the Male-to-Female Ratio in Autism Spectrum Disorder? A Systematic Review and Meta-Analysis. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry. 2017 Jun;56(6):466-474. 
  • Reed GM, First MB, Kogan CS, Hyman SE, Gureje O, Gaebel W et al. Innovations and changes in the ICD-11 classification of mental, behavioural and neurodevelopmental disorders. World Psychiatry. 2019 Feb;18(1):3-19. 
  • Romagnoli G, Leone A, Romagnoli G, Sansoni J, Tofani M, De Santis R, Valente D, Galeoto G. Occupational Therapy’s efficacy in children with Asperger’s syndrome: a systematic review of randomized controlled trials. Clin Ter. 2019 Sep-Oct;170(5):e382-e387. 
  • Sánchez, S. S., Lorente, A., Pineda, O., Fernández-Cao, J. C., & ArijaVal, V. (2015). Selectividad alimentaria en los trastornos del espectro autista: Una revisión sistemática. Revista Española De Nutrición Comunitaria, 21, 13–19. 

Deixe um comentário

Já pensou em anunciar na comunidade nutricional mais relevante do Brasil?
This is default text for notification bar