Nutrição no parkinson: estratégias efetivas de tratamento

A doença de Parkinson (DP) é um distúrbio neurodegenerativo que afeta predominantemente indivíduos na terceira idade, cerca de 1% da […]


A doença de Parkinson (DP) é um distúrbio neurodegenerativo que afeta predominantemente indivíduos na terceira idade, cerca de 1% da população acima de 60 anos, onde há predisposição genética entre 5% e 10% dos casos.  

A DP apresenta um conjunto complexo de sintomas que vão além das manifestações motoras clássicas – bradicinesia (dificuldade em realizar movimentos voluntários), discinesia (movimentos involuntários) e rigidez – e podem incluir alterações no olfato, distúrbios do sono, mudanças de humor, excesso de salivação e constipação.  

A progressão da doença também é marcada por uma perda gradual de autonomia, maior risco de disfagia e maior risco nutricional. Essa variedade de manifestações evidencia a complexidade da doença e a necessidade de uma abordagem multidisciplinar para seu manejo, onde a nutrição desempenha um papel fundamental. 

Otimização da terapia medicamentosa  

A levodopa é um medicamento amplamente reconhecido e considerado como o mais eficaz no tratamento dos sintomas da DP, que ocorrem devido à diminuição dos níveis de dopamina. Devido à capacidade limitada da dopamina em atravessar a barreira hematoencefálica, a sua simples administração não é eficaz para tratar a doença. A levodopa, por outro lado, atua como precursor da dopamina, consegue atravessar essa barreira e, uma vez no cérebro, é convertida em dopamina.  

Este medicamento continua sendo a opção mais eficaz disponível para controlar os sintomas motores da DP, especialmente nos estágios iniciais da doença. Ele tem um impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes, permitindo-lhes realizar atividades diárias com maior facilidade. 

Apesar dessas vantagens, o tratamento com levodopa deve ser cuidadosamente gerenciado para minimizar os efeitos colaterais e complicações a longo prazo, mas também otimizar os seus benefícios da melhor forma – e é aqui que a nutrição se destaca.  

Fonte: Banco de Imagens do Canva

A ingestão de proteínas afeta a absorção e eficácia da levodopa porque elas competem pelos mesmos transportadores ativos no intestino e na barreira hematoencefálica. Estudos demonstraram que dietas com redistribuição de proteínas, onde a ingestão de proteínas é limitada durante o dia e compensada na última refeição, podem melhorar a resposta à levodopa.  

Esta intervenção, que não altera as recomendações de ingestão proteicas, mostrou redução nas flutuações motoras e aumento do tempo em que os pacientes permanecem com os sintomas bem controlados pela medicação. Os estudos que avaliaram esta relação limitaram a ingestão de proteínas a 7 g durante o dia, ou 15% da recomendação de 0,8g/kg/dia.  

Minimizando os efeitos da terapia medicamentosa

Um dos efeitos colaterais do uso contínuo da levadopa, por conta de seu metabolismo, é o aumento das concentrações plasmáticas de homocisteína. Esse aumento está associado a alguns riscos à saúde, incluindo hiperhomocisteinemia, que pode contribuir para o desenvolvimento de osteoporose e potencialmente exacerbar condições neurológicas como a neuropatia periférica. Neste contexto, alguns estudos investigaram possíveis benefícios da suplementação de vitaminas com o objetivo de reduzir a homocisteína circulante. 

  • Vitaminas B (B-12 e Ácido Fólico): A suplementação com vitamina B-12 e ácido fólico demonstrou ser eficaz na redução significativa dos níveis de homocisteína em pacientes com DP em tratamento com levodopa. Isso não apenas neutraliza o efeito indesejado da levodopa sobre os níveis de homocisteína mas também, em alguns estudos, mostrou-se capaz de mitigar o risco ou a progressão da osteoporose, sugerindo um impacto positivo na saúde óssea. Em particular, uma redução na homocisteína foi associada a melhorias na densidade mineral óssea (DMO) em pacientes tratados com combinações de ácido fólico e vitamina B-12. 
  • Vitamina D: A suplementação com vitamina D em pacientes com DP induzida por levodopa que apresentam discinesias mostrou uma melhora inicial nos sintomas e na duração das discinesias. No entanto, esses efeitos positivos foram minimizados após ajustes estatísticos, sugerindo que os benefícios podem ser brandos. 
  • Vitamina C: Em um estudo, a vitamina C não demonstrou melhorar a farmacocinética da levodopa de forma geral, embora pacientes com baixa resposta à levodopa tenham mostrado alguma melhora quando a vitamina C foi adicionada ao tratamento. Isso sugere um potencial benefício em grupos específicos de pacientes. 

Manejo da disfagia

Com risco aumentado em pacientes com DP a disfagia é a dificuldade de deglutição que pode levar à desnutrição, pneumonia por aspiração e, em casos graves, pode aumentar o risco de mortalidade. Assim, intervenções eficazes são cruciais para o manejo dessa condição, que exige uma abordagem multidisciplinar, envolvendo neurologistas, otorrinolaringologistas, gastroenterologistas, fonoaudiólogos e nutricionistas. 

A modificação da consistência dos alimentos e líquidos é uma estratégia comum por melhorar a segurança na deglutição. Um interessante trabalho explorou o impacto de diferentes espessantes na percepção sensorial de sopas engrossadas em participantes com DP: um espessante industrializado à base de goma, amido de batata e farinha de quinoa (sendo estes últimos à base de amido). 

Foi observado que os espessantes à base de goma reduziram mais significativamente a liberação de voláteis (responsáveis pelo aroma) em comparação com os espessantes à base de amido, potencialmente afetando a percepção do aroma e do sabor das sopas. Este fenômeno foi confirmado quando os participantes preferiram as sopas engrossadas com amido de batata e farinha de quinoa em relação ao espessante à base de goma. 

Assim, esta pesquisa destaca a importância de considerar a percepção sensorial e a aceitação do paciente no planejamento da intervenção nutricional – especialmente para pacientes com DP, que já possuem uma tendência a redução do olfato. Melhorar a aceitação dos alimentos pode contribuir significativamente para a nutrição adequada e a manutenção da saúde dos pacientes com DP. 

A gestão eficaz da DP requer uma abordagem que ultrapassa os limites tradicionais do tratamento farmacológico, destacando a importância crucial da inovação em intervenções nutricionais.  

O objetivo do nutricionista não é apenas enfrentar os desafios impostos pela doença mas também abrir novos caminhos para melhorar a qualidade de vida dos pacientes. 

Referências Bibliográfica

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