Exames laboratoriais na nutrição: quando pedir e como interpretar a dosagem de vitaminas e minerais?

Na busca constante pela excelência no cuidado durante um atendimento nutricional, um dos aspectos cruciais é a habilidade de integrar […]


Na busca constante pela excelência no cuidado durante um atendimento nutricional, um dos aspectos cruciais é a habilidade de integrar a avaliação clínica e comportamental do paciente com exames laboratoriais. Além da análise de parâmetros como hemoglobina, glicemia e lipídios, é fundamental para o nutricionista ter um conhecimento aprofundado sobre a dosagem de vitaminas e minerais. Os micronutrientes, necessários em quantidades muito distintas entre si, são fundamentais para o funcionamento adequado do organismo, influenciando diversos processos metabólicos.

Como todo bom nutricionista sabe, a deficiência ou o excesso de vitaminas e minerais pode levar a uma série de desordens, algumas sutis e outras mais graves, impactando na qualidade de vida. Neste contexto, a possibilidade de solicitar exames torna-se uma ferramenta poderosa nas mãos do nutricionista, garantida a ele pela Lei No 8.234 de 1991.

O quadro a seguir apresenta as principais vitaminas e minerais que podem ser monitorados, com indicações sobre quando pedir cada exame, como justificar sua solicitação (grande desafio com os planos de saúde) e os valores de referência usuais. Destaca-se que os valores podem variar conforme o laboratório e é crucial interpretá-los no contexto clínico individual de cada paciente. Neste quadro, todas as indicações de quando pedir uma determinada dosagem consideram o ambiente de atendimento particular de indivíduos saudáveis – e não de populações em situação de vulnerabilidade.

MICRONUTRIENTEQUANDO PEDIR?COMO JUSTIFICAR?VALORES DE REFERÊNCIAOBSERVAÇÕES
Vitamina AProblemas de pele ainda não diagnosticados; Dietas veganas ou com baixo consumo de alimentos de origem animal e pouca variedade de alimentos fontes de betacaroteno.Descrever sintomas do paciente e/ou baixo consumo de alimentos fonte de Vitamina A, identificado em anamnese.Retinol sérico: <0,4 mg/L Betacaroteno: 160 a 300 µg/LO retinol só identificará a deficiência severa de Vitamina A, após um período longo. Já o betacaroteno é um bom indicador da ingestão de provitamina A.
Vitamina DBaixa exposição solar, osteoporose, e doença renal.Avaliação do risco de deficiência dados comportamentos identificados do paciente e doenças previamente diagnosticadas.25­hidroxivitamina D: Deficiência: < 10 ng/ml Insuficiência: 10 a 30 ng/ml Suficiência: 30 a 100 ng/ml Toxicidade: > 100 ng/mlA suplementação deve ser considerada em casos de deficiência, mas com monitoramento para evitar toxicidade.
Vitamina EAvaliação de indivíduos com neuropatias motoras e sensoriais; indivíduos em nutrição parenteral e indivíduos com restrições extrema da ingestão de gordura.Avaliação do status de vitamina E e sua relação com a função neurológica.alfatocoferol: Deficiência: < 3 mg/ml Valores de referência: 5,5 a 17 mg/ml Toxicidade: > 40 mg/mlOs níveis de vitamina E no sangue são significativamente afetados pela quantidade de lipídios no sangue e não são uma representação precisa dos níveis de vitamina E nos tecidos. Os níveis reais de vitamina E devem ser determinados calculando a razão entre o alfatocoferol no sangue e a quantidade total de lipídios por grama.
Vitamina B12Veganos, vegetarianos, idosos e indivíduos com alto consumo álcool.Identificação de deficiência, que pode levar a complicações neurológicas e hematológicas.Valores de referência: 180 a 914 pg/ml Faixa indeterminada: 145 a 180 pg/ml Faixa deficiente: < 145 pg/mlO uso de certos medicamentos pode afetar a absorção desta vitamina.
Vitamina CBaixo consumo de frutas e vegetais, indivíduos com alto consumo álcool e fumantesAvaliação do risco de deficiência de vitamina C baseado em comportamentos do indivíduo.0,4-2,0 mg/dLA vitamina C estimula a produção de colágeno, apoia o crescimento do cabelo, auxilia na liberação de ferro da ferritina para a formação de hemoglobina e desempenha um papel na resposta ao estresse.
FerroVeganos, vegetarianos, indivíduos com suspeita de anemia por deficiência de ferro e com distúrbios gastrointestinais.Avaliação do status de ferro, diagnóstico de anemia ferropriva.Ferritina: Homens:  30-336 ng/mL Mulheres: 11-306 ng/mL   Ferro: Homens:  45 a 182 µg/dl Mulheres: 28 a 170 µg/dlBaixos níveis de ferritina indicam depleção de ferro, mesmo na ausência de anemia.
CálcioConsumo insuficiente de alimentos fonte; Suspeita de distúrbios ósseos ou presença de doenças renais.Avaliação de distúrbios do metabolismo do cálcio.Valores de referência: 8,7 a 10,7 mg/dl Valores críticos: < 6,6 ou > 12,9 mg/dlA proteína sérica total e a albumina sempre devem ser determinadas simultaneamente para uma interpretação correta dos níveis séricos de cálcio total. A hipercalcemia pode indicar hiperparatireoidismo, enquanto a hipocalcemia pode estar relacionada a deficiência de vitamina D.

Este quadro é apenas um guia inicial, mas é essencial enfatizar que cada paciente é único e requer uma avaliação individualizada, levando em conta suas necessidades nutricionais específicas, seu histórico clínico detalhado e seus comportamentos.

No que se refere à suplementação, é crucial entender que a filosofia de “pecar pelo excesso” pode ser perigosa, particularmente no contexto de vitaminas e minerais, onde a toxicidade pode ser alcançada com relativa facilidade. A suplementação deve ser considerada cuidadosamente e nunca deve substituir uma alimentação equilibrada. O consumo excessivo e desnecessário de suplementos não só é um desperdício de recursos, mas também pode acarretar riscos à saúde. Em vez de promover a compra indiscriminada de suplementos, é preferível priorizar a obtenção de nutrientes por meio de uma alimentação saudável e realista. Quando a suplementação se fizer necessária, deve ser feita sob o acompanhamento nutricional.

Referências Bibliográficas

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  • BRASIL. Lei nº 8.234, de 17 de setembro de 1991. Regulamenta a profissão de Nutricionista e determina outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 1991.
  • Costa, MJC. Interpretação de exames bioquímicos para o nutricionista São Paulo: Editora Atheneu, 2015.
  • Hodge C, Taylor C. Vitamin A Deficiency. 2023 Jan 2. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan–. PMID: 33620821.
  • Williamson MA, Snyder LM. Wallach:  Interpretação de exames laboratoriais. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.

Uma resposta para “Exames laboratoriais na nutrição: quando pedir e como interpretar a dosagem de vitaminas e minerais?”

    1. Benedita Silva

      Muito bom

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