Desvendando os adoçantes: novas perspectivas e segurança

No dia 15 de maio de 2023, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou uma diretriz que aborda o uso […]


No dia 15 de maio de 2023, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou uma diretriz que aborda o uso de adoçantes no contexto de controle de peso. Com isso, a discussão sobre adoçantes voltou a ser pauta recorrente entre nutricionistas e seus pacientes, uma vez que diversos mitos foram veiculados à notícia e trazidos para os consultórios.

Para você se manter atualizado sobre o assunto e desvendar o universo dos adoçantes, confira uma análise completa sobre novas perspectivas e a segurança dessas substâncias.

O novo posicionamento da OMS acerca dos adoçantes

Primeiramente, é importante ressaltar que a diretriz sobre adoçantes e dietas para controle de peso é sobre uma recomendação condicional. Ou seja, a OMS elabora as recomendações para a população, mas reconhece que as evidências científicas são limitadas e, por isso, os resultados não são conclusivos.

Dito isso, a OMS sugeriu que:

“Substituir os açúcares livres por adoçantes não nutritivos não ajuda no controle de peso a longo prazo. […] Os adoçantes não nutritivos não são fatores dietéticos essenciais e não têm valor nutricional.”

Além disso, vale ressaltar que, no posicionamento da OMS, os adoçantes classificados como polióis não foram considerados durante a análise dos estudos e formulação das recomendações.

Como essas recomendações foram delineadas?

Para a recomendação da diretriz sobre dietas para controle de peso e adoçantes, foram realizados dois estudos de revisão sistemática e meta análise, avaliando os efeitos dos adoçantes em grupos populacionais de idades variadas.

A revisão sistemática é uma pesquisa científica que avalia as evidências pré-existentes sobre algum tema específico e meta-análise é um estudo estatístico que agrupa resultados de evidências anteriores, compilando esses dados. Enquanto isso, o Sistema GRADE é usado para avaliar a qualidade e a força das evidências disponíveis, utilizadas como base para essas pesquisas.

O ponto de atenção do posicionamento da OMS é que, dos 40 estudos base analisados nas revisões sistemáticas, apenas 1 foi classificado como alta evidência com base no sistema GRADE. Isso porque os estudos disponíveis até então, que abordam sobre o consumo de adoçantes e dietas para controle de peso, são insuficientes para traçar uma recomendação forte.

Outros pontos de questionamento são:

  • Nenhum dos estudos analisados avalia a substituição do açúcar por adoçante;

  • Não existem evidências suficientes para avaliar cada um dos adoçantes individualmente. Portanto, eles foram agrupados em uma classe única, sendo que cada um possui particularidades.

Sendo assim, como a maioria desses estudos analisados através das revisões e meta-análises da OMS tem baixa força de evidência, não é possível extrairmos uma forte conclusão, apenas abrir espaço para futuras pesquisas e discussões sobre o tema.

Os adoçantes são seguros e assegurados!

Por outro lado, a segurança dos adoçantes já é bem estabelecida e validada por meio de estudos científicos de forte evidência, os quais são avaliados pelo Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives (JECFA). Este órgão estabelece a Ingestão Diária Aceitável (IDA), ou seja, a quantidade de adoçante que pode ser consumida diariamente por um indivíduo, sem riscos à saúde.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) utiliza a IDA definida pelo JECFA como base para autorizar o uso e criar diretrizes para o consumo de adoçantes no Brasil. Os produtos industrializados também devem estar em conformidade com esses valores. Ainda mais, é interessante saber que o valor de IDA, apesar de alto, ainda é bem menor do que o nível de consumo máximo seguro; ou seja, mesmo se o consumo extrapolar a IDA, não haverá danos à saúde.

Ingestão Diária Aceitável (IDA) de adoçantes

ADOÇANTES. QUAL A MELHOR ESCOLHA? - Sociedade Brasileira de Diabetes Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), 2019-2020.

 Com o apoio da tabela acima, é possível calcular a IDA para cada paciente. Basta multiplicar a IDA pelo peso em quilos e você terá a ingestão diária aceitável de determinado adoçante. Por exemplo: um paciente de 60kg poderá consumir até 900mg de sucralose por dia, o equivalente a 772 gotas! Tudo isso, mantendo um consumo seguro e aceitável.

 Quando analisamos a IDA dos polióis, como eritritol, isomaltitol, lactitol, maltitol, manitol, sorbitol e xilitol, vemos que é classificada como não especificada. Esta classificação conta com o fato de que a substância não apresenta risco à saúde por apresentar baixa toxicidade de acordo com os dados disponíveis da JECFA, podendo ser utilizada em quantidade suficiente para atingir o dulçor desejado. Estes tipos de adoçantes contêm menos calorias do que o açúcar, mas um poder de dulçor que varia entre 45% e 100% em relação ao do açúcar.

Por outro lado, os demais adoçantes, como aspartame, acessulfame de potássio (acessulfame-K), ciclamato de sódio, neotame, sacarina sódica, sucralose, stevia e taumatina, já apresentam uma IDA estabelecida, mas contêm pouquíssimas calorias ou são isentos de calorias e possuem um poder de dulçor muito maior do que o do açúcar, sendo necessários em menor quantidade para atingir a doçura desejada, além de serem amplamente aceitos pelos pacientes.

Ou seja, todos os adoçantes aprovados pela ANVISA podem ser consumidos, pois têm respaldo científico de forte evidência sobre sua segurança – inclusive o aspartame!

Embora a segurança do aspartame tenha sido questionada nos últimos tempos, é importante destacar que a International Agency for Research on Cancer (IARC) avaliou o aspartame como potencial carcinogênico com base em evidências limitadas, classificadas como grupo 2B (assim como conserva de picles, álcool, extrato de aloe vera e uso de telefone celular). Já o JECFA concluiu que não há evidências que possam levar à conclusão de que o aspartame apresente efeitos adversos à saúde. Assim, o consumo de aspartame continua sendo seguro dentro da IDA, que representa uma margem de segurança.

O que muda na prática clínica dos nutricionistas?

Atualmente não existem evidências robustas de que os adoçantes estejam relacionados ao ganho de peso ou aumento no risco de desenvolvimento de doenças não transmissíveis. Sendo assim, em um contexto saudável e equilibrado, os adoçantes de baixa caloria podem ajudar na diminuição da ingestão calórica que visa o processo de controle de peso, quando usados em substituição ao açúcar – que fornece 4 kcal por grama.

Por fim, os adoçantes são alternativas seguras e uma ferramenta prática para reduzir a ingestão de açúcar, conferindo dulçor aos alimentos e auxiliando na adesão do paciente a um plano alimentar equilibrado.

E para continuar se aprofundando na temática sobre adoçantes, confira a Masterclass “Adoçantes: Dulçor e Ciência”.

Nessa aula gratuita, a nutricionista Lara Natacci aborda os impactos dos adoçantes na saúde, regulamentação e segurança em sua utilização, explica a nova recomendação da Organização Mundial da Saúde e  desmistifica os mitos mais comuns.

Referências

ABIAD. Cartilha: Adoçantes. Disponível em: https://alimentosprocessados.com.br/arquivos/Ingredientes-e-aditivos/Adocantes-ABIAD.pdf

ANVISA. OMS divulga nova diretriz sobre o uso de adoçantes. 2023. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2023/oms-divulga-nova-diretriz-sobre-o-uso-de-adocantes.

ANVISA. OMS divulga resultados da avaliação de perigo e risco do aspartame. 2023. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2023/oms-divulga-resultados-da-avaliacao-de-perigo-e-risco-do-aspartame#:~:text=O%20JECFA%20concluiu%20que%20os,dentro%20desse%20limite%20por%20dia.

LAVIADA-MOLINA, H. et al. Effects of nonnutritive sweeteners on body weight and BMI in diverse clinical contexts: Systematic review and meta-analysis. Obes Rev. 2020 Jul;21(7):e13020. doi: 10.1111/obr.13020. Epub 2020 Mar 25. PMID: 32216045.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos Departamento de Ciência e Tecnologia. DIRETRIZES METODOLÓGICAS: Sistema GRADE – manual de graduação da qualidade da evidência e força de recomendação para tomada de decisão em saúde. Distrito Federal, 2014.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Use of non-sugar sweeteners: WHO guideline. Geneva, 2023

O’CONNOR, D. et al. A rational review on the effects of sweeteners and sweetness enhancers on appetite, food reward and metabolic/adiposity outcomes in adults. Food & Function. doi:10.1039/d0fo02424d

SBAN. Sobre as análises da OMS sobre o aspartame Revisão. Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição. Publicado em 24 de julho de 2023. Disponível em: http://sban.org.br/uploads/Posicionamentos20230724041707.pdf  Acesso em: 17/08/2023.


Uma resposta para “Desvendando os adoçantes: novas perspectivas e segurança”

  1. Patricia Pontel

    Parabéns…um assunto de extrema importância para ser abordado.

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