A perda e o desperdício de alimentos são questões que impactam tanto a segurança alimentar quanto a sustentabilidade do planeta. Estima-se que cerca de um terço dos alimentos produzidos globalmente nunca chega às mesas, resultando em bilhões de toneladas de comida descartadas anualmente. Essa situação é alarmante e preocupante.
Os nutricionistas desempenham um papel essencial na conscientização sobre essas questões e na promoção de práticas que minimizem o desperdício nas comunidades e nos pacientes atendidos.
Segurança Alimentar e Desperdício
No Brasil, a Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) foi definida pela Lei 11.346/2006, que resultou na criação do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Esse sistema busca garantir o direito ao acesso a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades básicas.
A perda de nutrientes, resultante do desperdício quantitativo e qualitativo, representa uma oportunidade perdida para combater a desnutrição e as deficiências de micronutrientes. A segurança alimentar é aprimorada com a redução das perdas, já que, em essência, mais alimentos disponíveis geram preços mais baixos. É crucial conectar a segurança alimentar e nutricional com a estratégia de redução do desperdício e outras políticas relacionadas.
A maioria dos avanços na segurança alimentar ocorre com a diminuição das perdas nas fases iniciais da cadeia de abastecimento, especialmente na fazenda e na colheita, em países com altos níveis de insegurança alimentar. Portanto, implementar práticas eficazes de gestão de estoque e doar excedentes alimentares a instituições de caridade são passos vitais para minimizar a perda de alimentos no setor comercial.
Desnutrição e Insegurança Alimentar
Em termos de acesso a alimentos nutritivos, dados atualizados indicam que mais de um terço da população mundial (cerca de 2,8 bilhões de pessoas) não consegue arcar com uma dieta saudável. As desigualdades são evidentes, com uma grande parte da população global enfrentando dificuldades.
Segundo a FAO, 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçadas anualmente no mundo, isso significa mais de 30% de toda a produção mundial de alimentos para consumo humano e 15% de todas as calorias produzidas, impactando diretamente na segurança alimentar e nutricional da população.
Desenvolver políticas públicas contra a desnutrição não é suficiente sem abordar o desperdício de alimentos, que contribui significativamente para a insegurança alimentar e a desnutrição.
Banco de Alimentos
No Brasil, os programas de Bancos de Alimentos (BA) oferecem uma alternativa eficaz para combater o desperdício, promovendo a distribuição rápida de produtos alimentares que perderam seu valor comercial. Esses Bancos operam com base em três pilares: a colheita urbana, que recolhe alimentos ainda adequados para o consumo; a educação nutricional, que ensina como aproveitar ao máximo os alimentos; e a conscientização, realizada por meio de palestras e workshops.
A ONG, ativa desde 1998, apoia pessoas em situação de insegurança alimentar por meio do combate ao desperdício de alimentos. Além disso, incentiva a educação alimentar, o uso de receitas com alimentos que seriam desperdiçados e a qualificação dos trabalhadores em todo processo da produção ao consumo.
Educação Nutricional
Projetos de educação de consumo sustentável e saudável aumentam a consciência sobre a importância dos alimentos e incentivam dietas mais saudáveis. Contribuir para a conscientização do desperdício é um esforço coletivo.
Por isso, incentivar a educação alimentar em escolas e ter ONGs que disseminem a necessidade do uso integral dos alimentos, estimula a troca de hábitos de uma comunidade. A missão de educar nutricionalmente a população transforma a maneira como a sociedade lida com a alimentação.
Ao valorizar cada refeição e respeitar os recursos ambientais, ajuda-se a combater a fome e a preservar o meio ambiente para as gerações futuras. Na parte da prática nutricional, encorajar o uso de receitas de reaproveitamento, além de deixar a dieta diversificada, coopera para reduzir o desperdício.
Em casos na área de UAN, a atuação do nutricionista torna-se imprescindível no controle do desperdício em todas as etapas de produção, utilizando análise do percentual de resto-ingesta e de sobras. Além de um bom planejamento, padronização, controle da quantidade de alimentos produzida, incentivando a educação nutricional dos trabalhadores e intervenções periódicas que certifiquem efeitos na redução do desperdício de alimentos.
Um estudo de caso, realizado em 2019, investigou uma iniciativa para diminuir o desperdício de alimentos em uma unidade de alimentação. A avaliação realizada antes e depois das capacitações dos funcionários e de uma campanha de conscientização para os comensais, expos diferentes indicadores, como a quantidade de alimentos consumidos e as sobras. Os resultados mostraram uma redução significativa nas sobras de alimentos e nos restos de ingestão após as intervenções implementadas.
Abordagem na Prática Clínica
A responsabilidade dos nutricionistas de promover não apenas a saúde, mas também a conscientização sobre a alimentação sustentável, corrobora para minimizar a perda e desperdício, contribuindo para uma sociedade mais consciente e saudável. E isso pode começar dentro da prática clínica, fornecendo informações necessárias para os pacientes.
- Educação: Durante as consultas, discuta o valor nutricional dos alimentos e a importância de aproveitar integralmente os ingredientes. Exemplos práticos, como usar talos, cascas e folhas em receitas, podem inspirar os pacientes a reduzir o desperdício em casa.
- Planejamento Alimentar: Incentive o planejamento de refeições, ajudando os pacientes a criarem cardápios semanais e listas de compras. Isso ajuda a evitar excessos e promove uma alimentação equilibrada.
- Utilização de receitas: As receitas implementam a dieta e diminui o desperdício dentro de casa, utilizando alimentos integralmente. Exemplos práticos, como usar talos, cascas e folhas em receitas, podem inspirar os pacientes e ter uma variedade maior na prescrição nutricional.
- Conservação e Armazenamento: Ensine técnicas adequadas de conservação e armazenamento de alimentos, como congelamento e uso de recipientes adequados, para prolongar a vida útil dos produtos.
- Valorização dos Alimentos: Estimule a valorização de alimentos perto da data de vencimento ou com aparência não ideal, utilizando receitas criativas que aproveitam esses ingredientes.
- Envolvimento da Comunidade: Promova workshops ou palestras sobre desperdício de alimentos nas comunidades atendidas, criando um impacto mais amplo e incentivando práticas sustentáveis.
Cada pequeno esforço conta e juntos podemos fazer a diferença na luta contra o desperdício alimentar, promovendo um futuro mais sustentável para todos.
Que tal contribuir com a redução do desperdício de alimentos repassando receitas deliciosas para seus pacientes. Acesse o link abaixo e tenha acesso a ferramenta de receitas com aproveitamento integral para usar na prática clínica e cooperar para a diminuição do desperdício dentro da casa dos pacientes:
Referências
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- ONG Banco de Alimentos – Busca onde sobra entrega onde falta [Internet]. bancodealimentos.org.br. Available from: https://bancodealimentos.org.br/
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