A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou, neste último dia 15 de Maio, o guideline “Use of non-sugar sweeteners“, gerando debates acalorados sobre o uso de adoçantes, de açúcares e da maneira mais adequada de adoçar alimentos e preparações.
Esse é um documento que precede e complementa o documento “Health effects of the use of non-sugar sweeteners: a systematic review and meta-analysis“, documento sobre a mesma temática que foi publicado pela OMS em abril/2022.
Neste contexto, nutricionistas, médicos, profissionais da saúde e até mesmo os próprios pacientes têm buscado compreender os desdobramentos dessas recomendações e o impacto que elas podem ter em sua prática diária, tanto a curto quanto a longo prazo.
Nutricionista, você está por dentro de todos os detalhes desta discussão? Com a Academia da Nutrição você consegue entender melhor essa e muitas outras discussões para ter as condutas mais assertivas em sua prática clínica!
Entenda de uma vez por todas essa publicação
Ao ler o texto que a própria OMS publicou para divulgar o documento, entendemos de imediato a mensagem principal: os adoçantes não devem ser utilizados para o controle de peso corporal.
Além de não conferir benefícios à saúde, como auxiliar na perda de peso e prevenção de doenças crônicas não transmissíveis, eles até mesmo aumentariam o risco de desenvolver diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e até mesmo a mortalidade. É informado, porém, que a recomendação não é indicada para pessoas que já possuem diabetes.
Uma vez que os estudos nos quais se basearam eram predominantemente observacionais ou em modelos animais, não é possível afirmar, com base neles, os malefícios do consumo de adoçantes a longo prazo em pessoas com doenças preexistentes.
É válido mencionar que a recomendação da OMS é classificada como condicional, o que ela própria tem o cuidado de destacar.
Isso significa que o Guideline possui uma base de evidências considerada fraca. Os especialistas não têm certeza se os benefícios superam os riscos associados a essa recomendação, ou se evitar o consumo de adoçantes terá algum efeito clinicamente relevante para as pessoas.
Ao ler o documento, você observará que a própria OMS admite, em sua discussão, que todos os estudos disponíveis apresentam baixa ou muito baixa confiabilidade científica – para a maioria dos desfechos, os efeitos dos adoçantes são muito pequenos ou a evidência é de baixa ou muito baixa qualidade.
Afirmar categoricamente que os adoçantes não auxiliam no controle do peso seria uma generalização.
Posicionamento da ABESO
Em seu “Posicionamento sobre o tratamento nutricional do sobrepeso e da obesidade”, lançado em julho/2022, Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO) abordou a problemática de estudos com inconsistências em seus desenhos experimentais e trouxe trabalhos de curto prazo que mostram redução no peso corporal.
Embora o documento da OMS seja bastante denso, com uma quantidade significativa de informações, é importante compreender que ele é um compilado de vários trabalhos científicos, incluindo estudos controlados e observacionais em humanos.
Estudos relevantes sobre os adoçantes
Os estudos controlados utilizados mostram que, para reduzir gordura, ingestão calórica e índice de massa corporal (IMC), os adoçantes são uma opção melhor do que os açúcares. Já os estudos de coorte e observacionais indicam que os efeitos negativos possuem baixa confiabilidade científica.
É relevante questionar a relevância de estudos de casos clínicos que citam o consumo excessivo de adoçantes, uma vez que é pouco provável que a maioria das pessoas consuma grandes quantidades de adoçantes diariamente.
Vale ressaltar que o Guideline da OMS menciona os adoçantes acesulfame K, aspartame, ciclamatos, sacarina, sucralose e estévia, enquanto não faz menção ao xilitol e eritritol e quanto estes podem ser considerados seguros. Para entender vantagens e desvantagens de utilizar diferentes produtos, é necessário realizar uma comparação justa entre eles, o que não ocorre neste caso.
Afinal, o que está comprovado pelas pesquisas?
A verdade, Nutricionista, é que na ciência não existe e nem nunca existirá uma verdade absoluta. E isso se aplica a todas as áreas do conhecimento.O filósofo Karl Popper, quem dedicou grande parte de seu trabalho no desenvolvimento do método científico de pesquisa, afirma que “É verificando a falsidade de nossas suposições que de fato estamos em contato com a realidade”.
De acordo com o mesmo, devemos submeter todo e qualquer conhecimento a tentativas de refutá-lo e, caso não seja possível, ele pode vir a ser considerado correto. Mas é relativamente difícil comprovar a verdade a respeito de determinado assunto, pois a ciência é volátil e está sempre sujeita a novas evidências sobre os mesmos assuntos.
Ao avaliar riscos e benefícios de utilizar açúcar ou adoçante, certamente encontraremos evidências favoráveis e contrárias. Cabe a nós utilizarmos o senso crítico para entender as técnicas metodológicas empregadas em cada artigo publicado e chegar a uma conduta clínica com o melhor embasamento possível.
Nutricionista, você pode assumir a posição que achar pertinente para cada caso e paciente que se deparar, mas tenha sempre um embasamento científico por trás das suas prescrições.
Entendemos que é complexo compreender metodologia científica, principalmente para aqueles que não seguiram na carreira acadêmica. Estão disponíveis muitos materiais a respeito, e para caso queira se aprofundar, você pode começar pelas Diretrizes Metodológicas publicadas pelo Ministério da Saúde, e estão disponíveis gratuitamente para download.
Continue acompanhando a Academia da Nutrição para se manter sempre por dentro de tudo que está acontecendo!
E aproveite para comentar abaixo o que achou de toda essa polêmica!
Referências
- M. A. Marconi & E. M. Lakatos. Fundamentos de metodologia científica. Atlas. ISBN 978-85-970-1076-3.
World Health Organization. Health effects of the use of non-sugar sweeteners: a systematic review and meta-analysis. Geneva: World Health Organization; 2023. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789240046429. Acesso em: 17 Maio 2023. - World Health Organization. Use of non-sugar sweeteners – WHO guideline. Geneva: World Health Organization; 2023. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789240073616. Acesso em: 17 Maio 2023.
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