Alzheimer é uma doença neurodegenerativa progressiva que representa a maior prevalência entre os comprometimentos cognitivos, afetando milhões de pessoas em todo o mundo. Apesar de ainda não existir uma cura, a nutrição pode desempenhar um importante papel em todas as fases da doença, desde o período em que o risco de desenvolvimento é apenas uma preocupação até os estágios avançados do Alzheimer.
As recomendações nutricionais adequadas podem melhorar a qualidade de vida dos pacientes e até mesmo reduzir o risco de complicações. Confira abaixo, de acordo com o estágio da doença:
Nutrição Preventiva: Como a Alimentação Pode Reduzir o Risco de Alzheimer
Muitos estudos apontam que alimentos ricos em ácidos graxos ômega-3, que desempenham um papel vital na proteção dos neurônios contra a inflamação, podem ser um fator crucial no desenvolvimento do Alzheimer. Além disso, o consumo regular de peixes e mariscos, oferece fontes valiosas de um tipo de ômega-3 associado à melhora da função cerebral.
E ainda, alguns alimentos têm ganhado destaque como possíveis agentes protetores contra o Alzheimer. Entre eles estão os alimentos ricos em polifenóis, como o cacau, café e vinho tinto, que apresentam propriedades neuroprotetoras.
Entretanto, é preciso muita cautela, todos estes trabalhos ainda estão longe de elucidar a prevenção do Alzheimer por meio da alimentação, e servem para fomentar pesquisas futuras.
Inclusive, uma revisão detalhada sobre o assunto aponta que apesar de a nutrição desempenhar um papel multidimensional e significativo na preservação cognitiva e no desenvolvimento do Alzheimer, os processos fisiopatológicos que ligam esses aspectos ainda não estão totalmente claros – o que torna absolutamente antiético falar-se em prevenção do Alzheimer por meio da alimentação no contato direto com os pacientes (mas não impedem condutas que considerem alimentos e nutrientes citados acima).
Saiba mais em: https://academiadanutricao.com/todos/e-realmente-possivel-previnir-o-alzheimer-atraves-da-alimentacao/
Estratégias Nutricionais no Diagnóstico Precoce de Alzheimer
Após o diagnóstico inicial de Alzheimer, a nutrição continua desempenhando um papel crucial. Embora a alimentação não possa reverter o processo degenerativo, ela será a base para manter o estado nutricional do paciente. E ainda, as recomendações para a prevenção, neste estágio, continuam válidas para a neuro proteção.
Pacientes em estágios iniciais de Alzheimer podem começar a negligenciar a ingestão de líquidos e alimentos, seja por esquecimento ou por falta de apetite. É essencial garantir que o paciente esteja adequadamente hidratado, pois a desidratação pode exacerbar sintomas como confusão e fadiga. Garantir uma boa rede de apoio que proporcione horários fixos para refeições e incluir alimentos ricos em água, pode ajudar a manter a hidratação.
Também é importante garantir uma ingestão calórica adequada para prevenir a perda de peso indesejada, que pode piorar a condição geral do paciente. Refeições pequenas e frequentes, incluindo alimentos de fácil mastigação e digestão, podem ser uma boa estratégia. Nesta fase, a manutenção de uma ingestão adequada de proteínas é vital para preservar a massa muscular e prevenir a perda de peso, que pode ocorrer à medida que a doença progride.
Intervenção Nutricional nos Estágios Intermediários do Alzheimer
Nos estágios intermediários da doença, os pacientes começam a enfrentar mais dificuldades com a alimentação, incluindo perda de apetite mais pronunciada, alteração no paladar e problemas de mastigação ou deglutição.
Nessa fase, adaptar a alimentação para atender às necessidades do paciente é fundamental:
Texturas adequadas: Para pacientes com dificuldade de mastigar ou engolir, é recomendável oferecer alimentos macios ou em forma de purê. Sucos e vitaminas também são uma excelente maneira de fornecer nutrientes sem sobrecarregar o processo de deglutição.
Refeições enriquecidas: O enriquecimento das refeições com proteínas em pó ou suplementos calóricos pode ser necessário para garantir que o paciente esteja recebendo a nutrição adequada.
Estímulo ao apetite: O uso de especiarias e diferentes texturas pode ajudar a tornar a alimentação mais atraente para o paciente, especialmente quando ele demonstra perda de apetite. Além disso, é fundamental um resgate dos alimentos mais aceitos e preferidos pelo paciente ao longo de sua vida.
A perda de peso é uma preocupação comum nos estágios intermediários do Alzheimer. Monitorar o peso regularmente e ajustar o plano alimentar conforme necessário é uma prática essencial. Uma maneira eficaz de prevenir a perda de peso é aumentar a densidade calórica das refeições sem aumentar o volume de comida – tais estratégias podem se basear tanto na suplementação quando no uso de alimentos mais calóricos.
Nutrição no Alzheimer Avançado: Como Adaptar a Alimentação
Nos estágios avançados do Alzheimer, os problemas de deglutição tornam-se mais graves. Além disso, o paciente pode perder completamente a capacidade de se alimentar de forma independente, necessitando de ajuda constante. Nessa fase, é crucial adaptar a alimentação para garantir que o paciente continue a receber os nutrientes necessários.
Em casos graves, onde a alimentação por via oral se torna impossível, a nutrição enteral, como sondas nasogástricas ou gastrostomias, pode ser considerada. No entanto, essa decisão deve ser tomada com cautela, por uma equipe multiprofissional, levando em conta a qualidade de vida do paciente e suas vontades, quando expressas anteriormente.
Para pacientes com disfagia, o uso de espessantes para líquidos pode ajudar a prevenir o risco de aspiração pulmonar, garantindo que os alimentos líquidos possam ser consumidos com mais segurança.
Nos estágios avançados, é comum que o paciente desenvolva infecções recorrentes, como infecções urinárias e pneumonias. A desnutrição agrava essas condições, portanto, é essencial garantir que o paciente esteja recebendo uma alimentação balanceada que apoie sua recuperação.
Os nutricionistas desempenham um papel crucial no manejo nutricional dos pacientes com Alzheimer, adaptando os planos alimentares às necessidades individuais (e realidades!) em cada estágio da doença. É essencial que eles se mantenham atualizados para fornecer orientações precisas e baseadas em evidências, mas com adequada comunicação.
A eficácia das intervenções nutricionais pode melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes, e este é o propósito e compromisso que todos os nutricionistas assumem quando se formam.
Texto por Felipe Daun: nutricionista, mestre e doutorando pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Aprimorando em Transtornos Alimentares pelo AMBULIM IPq-FMUSP. Professor do Instituto Nutrição Comportamental e colaborador da Academia da Nutrição.
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