O papel da Nutrição no Envelhecimento Saudável

Em 2018, foi a primeira vez na história que o mundo passou a ter mais pessoas idosas que crianças menores […]


Em 2018, foi a primeira vez na história que o mundo passou a ter mais pessoas idosas que crianças menores de 5 anos (UN DESA/POP, 2022), ou seja, a população, no geral, está envelhecendo. E essa estimativa vem acompanhada de diversas questões que envolvem toda a nossa dinâmica como sociedade quanto individual.   Isso porque o envelhecimento, apesar de não ser patológico, traz sim algumas perdas de funcionalidade de sistemas do organismo e outras mudanças biopsicossociais.   Além disso, o processo de envelhecer, em alguns casos, também pode vir acompanhado de uma série de doenças que aceleram a perda de funcionalidade, trazendo maiores consequências aos indivíduos, suas famílias e até mesmo ao nível social.   A partir disso, é observada a importância de um envelhecimento saudável, que, apesar de toda perda, não impossibilita a pessoa de realizar tarefas básicas e nem representa uma maior questão de saúde. E a nutrição tem um grande papel, nesse processo de se envelhecer de forma saudável.   O envelhecimento e suas mudanças biopsicossociais   Mudanças biológicas  Todo ser vivo está em constante processo de envelhecimento, mas é a partir dos 50 anos, e se intensificando dos 60 anos para cima (ou seja, na velhice), que toda a perda de funcionalidade do organismo fica mais visível, sendo mais sentida e até mesmo vista.   Existem dois tipos de envelhecimento:  a senesc��ncia  e a senilidade.  A senescência é um processo natural, não patológico, dos seres vivos, em que há uma perda de funcionalidade dos sistemas do organismo, que acontece aos poucos e pode ser minimizada pelo estilo de vida do indivíduo. Em outras palavras, é o envelhecimento saudável.  Já a senilidade é um processo patológico em que o “processo do envelhecimento” é intensificado: as perdas são maiores, mais rápidas e chegam a causar tamanho prejuízo funcional que incapacitam o indivíduo idoso.  Em se tratando do processo natural do envelhecimento, são observadas algumas mudanças: Diminuição da massa magra corporal; Redução do teor de água no organismo; Alteração do paladar e diminuição do olfato; Diminuição da termorregulação; Entre outras mudanças…  Mudanças psicológicas e sociais  Como a alimentação vai muito além do ato de consumir alimentos, também é importante ampliar a visão do momento psicossocial que o idoso está passando.   É bastante comum que o idoso seja aposentado, ou esteja em vias de cessar seu momento de vida economicamente ativo; e isso, vem acompanhado de uma grande mudança de rotina e de ciclo social.  Durante, praticamente toda a vida adulta, somos acostumados com a rotina e ciclo de amizades que envolvem a profissão, mas como será quando deixarmos de exercê-la?  Estar preparado para este momento, é uma forma de se envelhecer de forma saudável, evitando o sentimento de solidão e incapacidade, diante uma sociedade que valoriza tanto ser economicamente ativo.  Ainda, há outras questões que podem interferir diretamente na alimentação da pessoa idosa; e uma delas tem relação direta com a mudança de dinâmica familiar.   A pessoa idosa, que foi já foi pai, foi mãe, teve uma casa cheia e vários momentos de refeição compartilhada, quando encontra sua casa vazia, uma consequência do ciclo natural, em que os filhos deixam a casa dos pais na vida adulta, por vezes, se vê sem incentivo para preparar refeições completas ao longo do dia, trocando refeições por lanches e sucos ou até mesmo deixando de consumir o alimento de forma geral.   Sendo assim, é perceptível que o processo de envelhecer de forma saudável tem várias frentes que devem ser trabalhadas e a alimentação é uma das principais.  O panorama mundial do envelhecimento No Brasil, são consideradas idosas pessoas com 60 anos ou mais. (BRASIL, 2003)  Atualmente, há uma discussão sobre pessoas com 60 anos ainda serem consideradas idosas; uma vez que em diversos países, sobretudo os desenvolvidos, pessoas nesta idade ainda se encontram em um estado muito semelhante a classe dos adultos.   E isso se deve ao fato de que, em alguns lugares, as pessoas não somente vivem mais, como também vivem melhor; sendo assim, há países que consideram idosos pessoas com 65 anos ou mais.  E para saber como vai, de forma quantitativa, o segmento idoso de uma população, é calculado o IE (Índice de Envelhecimento).  O Departamento das nações Unidas de Assuntos Econômicos e Sociais, Divisão de População, calcula esse índice a partir da razão entre o número de pessoas idosas, pelo número de crianças menores de 5 anos (UN DESA/POP, 2022).  O envelhecimento no Brasil   De acordo com Closs e Schwanke (2012), no Brasil o cálculo do IE é realizado pela razão de pessoas com 60 anos ou mais pelas pessoas menores de 15 anos.   A nível oficial esse cálculo é realizado pelo IBGE a partir dos dados coletados pelo Censo, uma pesquisa populacional nacional que colhe uma série de dados de uma amostra estatisticamente significativa da população e que a partir destes é possível se gerar outros dados estatísticos tanto sobre a situação atual da população, por exemplo como o IE, assim como se fazer projeções.  No que se refere a IE, o IBGE mostra que há 10 anos atrás, em 2012, o índice se encontrava em 32,63%, atualmente em 2022 é de 51,22%, daqui a mais 10 anos em 2032 será de 77,30%, e daqui a 30 anos em 2052 será de 148,77%, ou seja, para cada 1 pessoa com menos de 15 anos haverá em torno de 148 – 149 pessoas com 60 anos ou mais (IBGE, 2017).  Dessa forma Giacomello e Toniolo (2021) declararam a sua preocupação em um artigo editorial publicado na Nutrients em dezembro de 2021.  Pois, apesar desses números serem um desfecho benéfico, representando o aumento da expectativa de vida, a partir do nosso ganho de qualidade de vida, que provém da melhora de cenários sociais como o da alimentação, do saneamento básico e do controle de epidemias; são números que por configuram uma transição demográfica; ou seja, geram também uma transição epidemiológica trazendo o aumento de condições como doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e questões de saúde mais atreladas ao processo de senescência e ou desenvolvidas a partir do estilo de vida (HE; SHARPLESS, 2017; MOURÃO et al., 2016).  Senescência e alimentação  Um dos fatores apontados pela ciência como gatilhos da senescência celular é o overnutrition: o comer em demasia, para além das necessidades nutricionais (AMAYAMONTOYA et al., 2020).  Então, falaremos aqui sobre como nós nutricionistas podemos atuar preventivamente para que essa crescente parcela idosa da população tenha cada vez mais qualidade de vida e por sua vez mais autonomia no seu dia a dia.  Mourão et al. (2016) listam que as quatro principais DCNT a se preocupar com a população idosa são: doenças cardiovasculares (DCV), neoplasias, doenças respiratórias crônicas e diabetes.  Com relação a neoplasias o que podemos fazer é educar, orientar e estimular os nossos pacientes a terem a melhor qualidade possível na sua alimentação, que ela seja adequada na ingestão de macro e micronutrientes, que seja rica em compostos bioativos, assim como manter os cuidados com relação a composição corporal, controlando o % de gordura corporal e sempre preservando ou estimulando (a partir do consumo proteico aliado a exercícios de força prescritos por um educador físico) o ganho de massa magra.  Todas essas condições não só diminuem a predisposição do indivíduo a desenvolver doenças como os tornam mais resistentes para se recuperarem caso sejam acometidos.  Com relação a doenças respiratórias crônicas, para além dos cuidados citados acima, precisamos também nos atentar a questões específicas como alimentos alergênicos, sensibilidades alimentares, e a cuidados mais comportamentais.  Aumentar o porcionamento para se conseguir diminuir os volumes, Verificar como está a dentição ou a prótese dentária e se necessário encaminhar a um dentista Abrandar proteínas e fibras Orientar que a comida seja mais úmida ou caldosa Cuidar para que a deglutição seja adequada (e caso haja algum comprometimento fisiológico, encaminhar para uma fonoaudióloga) e realizada com calma, sentada a mesa com tempo para a refeição em questão.  E com relação a DCV e diabetes, apesar de cada tipo de doença ter as suas especificidades, podemos unir de forma mais simplificada as orientações das duas em um combo só, que ainda deve ser adaptado de acordo com a particularidade de cada indivíduo:  A diminuição do consumo de gorduras saturadas e a sua substituição pelas gorduras mono e poli-insaturadas Cuidado especial ao consumo de fibras pois estas ajudam a excretar colesterol, a controlar o perfil glicêmico e insulinêmico, assim como a preservar e aprimorar as capacidades e benefícios da nossa microbiota intestinal Cuidado com a carga glicêmica das refeições sem terrorismos nutricionais e se atentando a cultura alimentar do indivíduo  E claro, sempre incentivar que seu paciente mantenha ativo. Somos nutricionistas e não educadores físicos, então não podemos prescrever séries, rotinas de exercício, nem modalidades específicas, mas podemos sim e devemos orientar o movimento estimulando:  Caminhadas; Idas a parques, cinemas, teatros, exposições, aulas para além da atividade física, estimularmos as atividades cognitivas e sociais Que o paciente procure uma academia para fazer musculação, funcional, pilates, ioga ou outro exercício que estimule o ganho de massa magra, com profissionais capacitados para os orientar nesse processo Dar ideias de atividades físicas dentro do dia a dia da pessoa Tentar buscar com o paciente ou tentar plantar nele um possível gosto por uma atividade física que ficou no seu passado ou que ele sempre teve vontade de aprender, mas nunca conseguiu, por qualquer que fosse o motivo.  Enfim, como Giacomello e Toniolo (2021) verificam em suas pesquisas uma relação direta entre o Índice de Fragilidade e a Diversidade Alimentar, sem estipular uma dieta ideal para todas as pessoas, devemos estimular a variedade alimentar nesses pacientes.  E você nutri, nos conte aqui nos comentários como são as suas abordagens com essa população?  Referências Bibliográficas AMAYA-MONTOYA, Mateo; PÉREZ-LONDOÑO, Agustín; GUATIBONZAGARCÍA, Valentina; VARGAS-VILLANUEVA, Andrea; MENDIVIL, Carlos O.. Cellular Senescence as a Therapeutic Target for Age-Related Diseases: a review. Advances In Therapy, [S.L.], v. 37, n. 4, p. 1407-1424, 17 mar. 2020. Springer Science and Business Media LLC. http://dx.doi.org/10.1007/s12325-020-01287-0. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s12325-020-01287-0. Acesso em: 09 nov. 2022.  CLOSS, Vera Elizabeth; SCHWANKE, Carla Helena Augustin. A evolução do índice de envelhecimento no Brasil, nas suas regiões e unidades federativas no período de 1970 a 2010. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, [S.L.], v. 15, n. 3, p. 443-458, set. 2012. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s1809- 98232012000300006. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbgg/a/HFQJzn6F8SZWBBykgbm8yjh/?lang=pt. Acesso em: 09 nov. 2022.  GIACOMELLO, Emiliana; TONIOLO, Luana. Nutrition, Diet and Healthy Aging. Nutrients, [S.L.], v. 14, n. 1, p. 190-191, 31 dez. 2021. MDPI AG. http://dx.doi.org/10.3390/nu14010190. Disponível em: https://www.mdpi.com/2072- 6643/14/1/190/htm. Acesso em: 09 nov. 2022.  HE, Shenghui; SHARPLESS, Norman E.. Senescence in Health and Disease. Cell, [S.L.], v. 169, n. 6, p. 1000-1011, jun. 2017. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.cell.2017.05.015. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5643029/pdf/nihms876385.pdf. Acesso em: 09 nov. 2022  INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Projeção da população do Brasil e das Unidades da Federação. 2017. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/index.html. Acesso em: 09 nov. 2022.  MOURÃO, Lucia Figueiredo; XAVIER, Danielle Akemi Neves; NERI, Anita Liberalesso; LUCHESI, Karen Fontes. Estudo da associação entre doenças crônicas naturais do envelhecimento e alterações da deglutição referidas por idosos da comunidade. Audiology – Communication Research, [S.L.], v. 21, p. 1-8, 2016. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/2317-6431-2015-1657. Disponível em: https://www.scielo.br/j/acr/a/VNFrd9hrLS8K4XG7dn4mpCz/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 09 nov. 2022.  UNITED NATIONS DEPARTMENT OF ECONOMIC AND SOCIAL AFFAIRS, POPULATION DIVISION – UN DESA/POP. World Population Prospects 2022: Summary of Results. UN DESA/POP/2022/TR/NO. 3. 2022. Disponível em: https://www.un.org/development/desa/pd/sites/www.un.org.development.desa.pd/files/ wpp2022_summary_of_results.pdf. Acesso em: 09 nov. 2022. 


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