Paradoxo de fim ano: Dietas malucas vs. Abundância das festas 

Todos os anos, à medida que o período de festas se aproxima, muitas pessoas começam a se deparar com um […]


Todos os anos, à medida que o período de festas se aproxima, muitas pessoas começam a se deparar com um comum sentimento ambivalente entre a vontade de emagrecer rapidamente e a dificuldade em lidar com a abundância de alimentos no período de festas de Natal e Ano Novo.  

Diversas são as razões daqueles que buscam emagrecer especificamente nesta época, e muitos são os determinantes da complicada relação com a comida, que culmina em conflitos internos durante as ceias em família.  

Entender mais sobre estes contextos capacita o nutricionista a acolher essas demandas sazonais, ampliando a sua agenda de pacientes para o próximo ano, e – de fato – ajudando pessoas que precisam de um olhar profissional, ético e respeitoso

Resultados do Google Trends mostram que dezembro e janeiro, desde o início dos registros de buscas online, são os meses campeões de buscas por “emagrecimento”.

Apenas por observação, é possível imaginar algumas razões por trás deste aumento expressivo no interesse por um corpo mais magro, que podem acontecer isoladamente ou ao mesmo tempo:  

  • o sentimento de renovação, a motivação de começar o ano com hábitos mais saudáveis e a obtenção de um ideal de corpo saudável;  
  • o sentimento de aceitação, baseado na ideia de um padrão de corpo socialmente aceito em eventos, festas e viagens de final de ano;  
  • a vontade de reconhecimento/ou o receio da reprovação, já que este período do ano é repleto de encontros com familiares e amigos com quem normalmente o indivíduo não convive que podem fazer infelizes comentários sobre um corpo que emagreceu ou engordou.  

É realmente um combo! 

Ao mesmo tempo, basta entrar nas redes sociais já no começo de novembro para encontrar os mais diversos conteúdos que rodeiam as ceias de Natal e ano novo: todo tipo de receita, das práticas às elaboradas e das preparações com e sem uva passa; conteúdos com tom humorístico e “memes” sobre comer exageradamente nestas ocasiões; e ainda aquele tipo de conteúdo que tenta ensinar maneiras de “não sair da dieta” da pior forma possível, com restrições extremas e um foco danoso na culpabilização.  

Não é à toa que as pessoas ficam confusas e com sentimentos ambivalentes em relação a tudo isso. 

E é nessa confusão que reside a oportunidade de ouro para o nutricionista atuar: 

Emagrecimento rápido

Como já abordado em outros momentos, especialmente em “É a hora de falar sobre o Projeto Verão”, é fundamental acolher a demanda do paciente, sem confrontos ou julgamentos, para investigar as motivações e crenças para a busca do emagrecimento rápido.  

Resgatar experiências anteriores e conversar sobre o “efeito sanfona” e suas consequências deletérias para a saúde também são estratégias possíveis no momento de tentar conquistar o paciente para um planejamento realista, mas com consequências positivas e duradouras. 

Renovação

É verdade que o final de ano traz à tona um sentimento de renovação e mudança. Este período simboliza um novo começo, uma tela em branco, oferecendo uma oportunidade única para incutir mudanças positivas e duradouras nos hábitos alimentares e de vida.  

Em vez endossar dietas extremas e temporárias, que levam ao insucesso e frustração, enfatize a importância de estabelecer metas sustentáveis. De fato, este pode ser o momento ideal para cultivar uma relação harmoniosa e duradoura com a alimentação saudável e o bem-estar geral. 

Aceitação e imagem corporal

 O ambiente familiar e o contexto no qual o indivíduo cresceu foram fortes determinantes na construção de sua própria imagem, e é natural que retornos pontuais a determinadas situações possam fazer emergir sentimentos conflitantes.  

A prática da alteridade revela-se essencial neste contexto, implicando na compreensão de que cada indivíduo carrega uma perspectiva e vivência emocional única, potencialmente distinta daquela do profissional.  

É interessante reconhecer que, mesmo com a capacidade de promover apoio e orientação especializada, existe uma limitação em compreender integralmente as emoções do paciente. Esse reconhecimento contribui para a criação de um ambiente seguro e confiável, no qual o paciente encontra um espaço para ser ouvido e respeitado. 

Abundância de comida

Aceitar que tais eventos são momentos pontuais no calendário, sem o poder de definir a saúde ou o bem-estar geral de uma pessoa, permite uma apreciação mais holística das tradições e memórias afetivas.  

A valorização da experiência alimentar, com ênfase no prazer e na satisfação sensorial, ao invés de focar em limites e regras, contribui para uma relação mais saudável e equilibrada com a comida, respeitando a individualidade de cada experiência. 

E mesmo considerando e conversando sobre todos estes aspectos, são grandes as chances de encontrar indivíduos determinados em encontrar uma validação profissional para comportamentos de riscos que ele já está predisposto a colocar em prática – nesses casos, além de informar os riscos e a ineficácia de certas “loucuras” para emagrecer, talvez a única coisa que possa ser feita é esperar um momento futuro para engajar uma mudança de comportamento e uma vida mais saudável, de verdade. 

Referências bibliográficas:

Alvarenga, M et al. (Org.). Nutrição comportamental. 2. ed. Barueri: Manole, 2019. 

Google Trends. “Emagrecimento” [Internet]. Google Trends; Acesso em 11 de dezembro de 2023. Disponível em: https://trends.google.com/trends/explore?q=emagrecimento 

Kirmayer LJ. Empathy and Alterity in Cultural Psychiatry. Ethos. 2008;36(4):457-74. doi: 10.1111/j.1548-1352.2008.00027 

Fonte das imagens: Canva

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