A colite ulcerativa é uma condição inflamatória idiopática do cólon, o que significa que sua causa é desconhecida. Esta condição provoca fragilidade e erosões superficiais na parede do cólon, resultando em graves sangramentos.
Parece haver um componente genético importante, já que um parente de primeiro grau de um paciente com colite ulcerativa tem um risco quatro vezes maior de desenvolver a doença. Além disso, a colite ulcerativa é mais comum em populações judaicas do que em outros grupos.
Embora não haja muitas evidências, sugere-se que a autoimunidade e alterações na composição da microbiota intestinal possam contribuir para o aparecimento da doença. Não havendo uma perspectiva de cura, há um agravo significativo da saúde física e mental – que precisa ser manejado por todos os profissionais de saúde, especialmente os nutricionistas.
No mundo, a maior incidência e prevalência de doenças inflamatórias intestinais ocorrem na Europa e na América do Norte. A doença está fortemente ligada a um ambiente e estilo de vida urbanizado, típico da cultura ocidental.
A colite ulcerativa tem uma incidência de 9 a 20 casos por 100 mil pessoas por ano, e uma prevalência de 156 a 291 casos por 100 mil pessoas por ano. Em adultos, a colite ulcerativa é mais comum que a doença de Crohn, mas em crianças, a doença de Crohn é mais prevalente. Saiba mais sobre a Doença de Crohn:
O tratamento medicamentoso da colite ulcerativa é baseado na extensão e na gravidade da doença, podendo conter a administração de medicamentos via oral ou retal. O prognóstico na primeira década após o diagnóstico é geralmente bom, com a maioria dos pacientes entrando em remissão.
Devido ao risco de câncer de cólon, recomenda-se a colonoscopia em intervalos regulares – o que implica em rotinas desconfortáveis para os pacientes, que influenciam não só a alimentação pontualmente, mas os hábitos regulares dos pacientes. Para pacientes graves pode ser indicada a colectomia, o que leva à “cura” uma vez que a doença é restrita ao cólon – mas as consequências da intervenção cirúrgica são permanentes e requerem acompanhamento especializado constante.
Não existem protocolos de referência específicos para a alimentação de pacientes com colite ulcerativa, mas algumas evidências recentes têm apontado associações interessantes com alguns padrões alimentares:
Dieta Mediterrânea
A Dieta Mediterrânea é recomendada pela Sociedade Europeia de Nutrição Clínica e Metabolismo como uma opção segura para pacientes com colite ulcerativa. Este padrão se baseia em uma alta ingestão de vegetais, frutas, legumes, grãos integrais, nozes, peixes e azeite de oliva.
Preconiza-se, ainda, o consumo de laticínios fermentados e ovos, enquanto recomenda-se o consumo esporádico de carne – é sempre importante destacar que este padrão não é uma reprodução da alimentação dos países do mediterrâneo, mas sim uma interpretação de um norte americano.
Ainda assim, é uma estratégia particularmente importante para pessoas com doenças inflamatórias intestinais, pois favorece a regulação da microbiota intestinal – uma vez que se distancia de alimentos ricos em gorduras saturadas e açúcares simples, que para algumas pessoas – quando em excesso – podem favorecer a disbiose e problemas maiores em consequência disso.
Estudos mostram que este padrão “mediterrâneo” melhora a proporção de microrganismos benéficos no intestino e reduz microrganismos patogênicos, ajudando a prevenir a inflamação. Especificamente sobre a colite ulcerativa, um estudo que acompanhou pacientes ao longo de seis meses, mostrou melhora de marcadores inflamatórios, bem como melhora da qualidade de vida.
Dieta de Exclusão para Colite Ulcerativa
A Dieta de Exclusão para Colite Ulcerativa é uma estratégia restritiva que pode se tornar uma opção para pacientes com colite ulcerativa grave que não responderam a outros tratamentos. Sua eficácia foi avaliada de forma preliminar em um estudo piloto multicêntrico em 2021, que forneceu a base para pesquisas futuras.
Este padrão visa modificar o ambiente intestinal, excluindo alimentos que possam afetar negativamente as células caliciformes, a mucosa intestinal e a microbiota gastrointestinal. Há uma redução da ingestão total de proteínas, especialmente aminoácidos contendo enxofre, uma limitação de gorduras animais, ácidos graxos saturados e poli-insaturados, bem como aditivos alimentares. Ao mesmo tempo, aumenta-se a ingestão de ácidos graxos monoinsaturados, triptofano, pectina e amido resistente.
Em um estudo com 24 pacientes pediátricos com colite ulcerativa, 37% dos pacientes alcançaram remissão clínica após a adoção desta estratégia, valor que aumentou para 50% quando a alimentação foi combinada com antibióticos específicos. Apesar dos resultados levemente promissores, são necessários estudos maiores, especialmente em adultos. A restrição desta estratégia é muito severa e pouco se aproxima da realidade de muitas pessoas, o que inviabiliza a sua utilização na prática clínica.
Dieta de Carboidratos Específicos (SCD)
Trata-se de uma estratégia comum em doenças inflamatórias intestinais, baseada na exclusão de polissacarídeos e dissacarídeos que, devido à baixa absorção no trato gastrointestinal, podem desequilibrar a microbiota intestinal e danificar o intestino. Elimina-se alimentos processados, enlatados, leite e a maioria dos grãos (como arroz, milho, trigo e cevada) da alimentação do indivíduo.
Os principais componentes dessa estratégia são açúcares simples como frutose, glicose e galactose, que são facilmente absorvidos e ajudam a combater o crescimento excessivo de microrganismos no intestino. Fontes recomendadas desses nutrientes incluem frutas e vegetais frescos, nozes, iogurte, carne e queijos duros.
Apesar de sua popularidade com alguns profissionais, existem poucas evidências robustas sobre sua efetividade.
Diminuição de Alimentos Ricos em Foodmaps
FODMAPs são oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis fermentáveis que não são bem absorvidos no trato gastrointestinal, causando dor abdominal, inchaço, diarreia e constipação. Esses compostos estão presentes em frutas, mel, produtos lácteos, cebolas, alho, trigo, alguns grãos, sementes, nozes e leguminosas. A lógica por trás desta estratégia de redução é justamente a diminuição da fermentação intestinal e a produção de gases, aliviando alguns dos sintomas gastrointestinais.
De fato, os benefícios observados em alguns são principalmente na redução de sintomas, mas não na inflamação intestinal. A restrição prolongada de FODMAPs pode levar a desnutrição e impacto negativo na microbiota intestinal, reduzindo prebióticos importantes. Mais pesquisas são necessárias para garantir a segurança e eficácia desta estratégia.
A maior riqueza de todos esses trabalhos é evidenciar o quão diferente é a teoria da prática – uma vez que diversas estratégias parecem ser excelentes ideias por se basearem em mecanismos já descritos, mas o resultado em humanos não é exatamente como se esperava.
Especialmente para pacientes com colite ulcerativa, o papel do nutricionista será ser um guia para manter a adequada nutrição do paciente, dentro do ele percebe que afeta mais ou menos a sua condição – mais do que nunca, as condutas devem ser individualizadas e pensadas para a realidade de cada um.
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