Modulação Intestinal: O Papel do Microbioma na Saúde Feminina

Nos últimos anos, a modulação intestinal emergiu como uma estratégia indispensável para promover a saúde integral. Pesquisas recentes destacam o […]


Nos últimos anos, a modulação intestinal emergiu como uma estratégia indispensável para promover a saúde integral. Pesquisas recentes destacam o papel central do intestino em uma variedade de condições de saúde, abrangendo desde distúrbios metabólicos até questões imunológicas e emocionais. Cuidar desse órgão crucial não é apenas uma questão de bem-estar, mas de transformar a saúde de seus pacientes. 

O intestino é frequentemente referido como o “segundo cérebro”, devido à sua complexa rede de neurônios e sua íntima ligação com o sistema nervoso central.  

Além de abrigar cerca de 70% das células imunológicas do corpo, o intestino é o lar de uma vasta comunidade de microrganismos conhecida como microbiota intestinal. Essa microbiota desempenha um papel crucial na digestão, síntese de vitaminas e proteção contra patógenos. 

Estroboloma e Saúde da Mulher: O Impacto do Microbioma na Saúde Hormonal 

O estroboloma é o conjunto de genes bacterianos no intestino que metabolizam estrogênios, desempenhando um papel crucial na circulação e excreção desses hormônios no corpo. Esses genes influenciam diretamente os níveis hormonais no sangue, contribuindo para o equilíbrio hormonal em condições normais.  

No entanto, a composição do estroboloma pode ser alterada por fatores como dieta, uso de antibióticos, obesidade e consumo de álcool, o que pode causar um desequilíbrio nos níveis de estrogênios e aumentar o risco de câncer de mama. 

A diversidade e a atividade das bactérias intestinais, especialmente aquelas que produzem a enzima beta-glucuronidase, são fundamentais nesse processo. Essa enzima converte estrogênios conjugados em sua forma ativa, possibilitando sua reabsorção no intestino e aumentando sua circulação sistêmica, o que pode impactar a saúde hormonal. 

O microbioma intestinal, composto por trilhões de microrganismos, desempenha funções vitais para a saúde, como a modulação do sistema imunológico e a manutenção da barreira intestinal.  

Alterações na microbioma, conhecidas como disbiose, estão associadas a diversas condições de saúde, incluindo o aumento do risco de câncer de mama. 

Essa disbiose, ou desequilíbrio na microbiota intestinal, pode levar ao desenvolvimento de neoplasias no trato reprodutivo feminino e à redução da diversidade microbiana, o que diminui os estrogênios circulantes e contribui para condições como obesidade, síndrome metabólica, endometriose e problemas de fertilidade.  

Além disso, também pode favorecer a proliferação de bactérias que aumentam a produção de estrogênios, exacerbando o risco de doenças hiperestrogênicas. 

Em mulheres pós-menopáusicas, níveis elevados de estrogênios livres estão associados a um maior risco de câncer de mama, sugerindo que um estroboloma desequilibrado pode ser um fator de risco significativo. 

Compreender a relação entre o microbioma intestinal e o risco de câncer de mama é essencial para novas estratégias de prevenção e tratamento. Modificações na dieta, uso de probióticos e prebióticos, e outras intervenções que visam ajustar o microbioma podem se tornar componentes-chave na redução do risco de câncer de mama.  

Além disso, o estroboloma pode servir como um biomarcador útil para identificar mulheres em risco, permitindo abordagens mais personalizadas na medicina preventiva. 

Microbiota Intestinal e Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) 

A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) é uma das condições endócrinas mais comuns, afetando entre 5% e 10% das mulheres em idade reprodutiva em todo o mundo. Essa condição está associada a sintomas como aumento de andrógenos, resistência à insulina, obesidade, irregularidades na ovulação e a presença de ovários policísticos.  

Aliás, a SOP impacta na composição do microbioma intestinal, exacerbando os sintomas da síndrome. 

Mulheres com SOP geralmente apresentam uma redução na biodiversidade intestinal, com alterações específicas na composição das bactérias intestinais. Essas mudanças no microbioma estão associadas a um maior risco de desenvolver distúrbios metabólicos, como obesidade e diabetes tipo 2.  

Além disso, a diminuição da diversidade bacteriana e a presença de certas bactérias, como Bacteroides e Collinsella, estão relacionadas a níveis elevados de testosterona, um dos principais indicadores de hiperandrogenismo na SOP. 

O uso de prebióticos e probióticos, além do transplante de microbiota fecal (FMT), está sendo investigado como uma abordagem para restaurar a diversidade microbiana e aliviar os sintomas da SOP. 

Pesquisas indicam que a modulação da microbiota intestinal pode influenciar diretamente a patogênese da SOP, oferecendo novas possibilidades terapêuticas, como o aumento dos níveis de IL-22, uma citocina importante para a regulação do sistema imunológico, e a alteração do metabolismo dos ácidos biliares, para tratar essa condição. 

Estratégias de Alimentação para Otimizar o Microbioma Intestinal 

Uma dieta rica em alimentos vegetais, que são fontes de fibras dietéticas fermentáveis, sustenta o crescimento de microrganismos benéficos e promove a produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs), essenciais para a melhoria da função da barreira intestinal e na modulação do sistema imunológico.  

Alimentos fermentados, como iogurtes e vegetais em conserva, são outra excelente fonte natural de probióticos, que ajudam a repovoar o intestino com microrganismos benéficos, promovendo um equilíbrio saudável na microbiota. 

Por outro lado, alimentos ultraprocessados, ricos em açúcares, sal e gorduras saturadas, podem prejudicar o microbioma intestinal, levando a inflamações e outros problemas de saúde, por conter aditivos como emulsificantes. 

Nos últimos anos, a dieta brasileira tem sido marcada um aumento considerável no consumo de alimentos ultraprocessados. Esse fenômeno, comum em países em desenvolvimento, levanta preocupações sobre a qualidade nutricional da alimentação e seus efeitos na saúde pública.  

Um estudo recente, baseado na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2009, destacou o impacto negativo desses alimentos na ingestão de micronutrientes pela população brasileira, evidenciando a necessidade de uma mudança nos hábitos alimentares. 

A adoção de uma alimentação equilibrada, rica em fibras e probióticos, é fundamental para a modulação intestinal e a prevenção de diversas condições de saúde. No entanto, pesquisas adicionais são necessárias para entender melhor as complexas interações entre dieta, microbioma e saúde. 

Além da alimentação, o estresse crônico e a falta de sono também afetam negativamente a saúde intestinal, aumentando os níveis de cortisol e alterando a composição da microbiota.  

A modulação intestinal, portanto, é uma ferramenta poderosa para promover a saúde integral, prevenindo e tratando uma ampla gama de condições e melhorando significativamente a qualidade de vida. 

Este artigo teve como inspiração na palestra Modulação Intestinal, realizada pelo nutricionista Murilo Pereira, na Natural Tech 2024.    

  

Para saber mais sobre a saúde intestinal da mulher, acesso o guia abaixo e saiba mais sobre o assunto:   

Referências bibliográficas:

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