Fitoterapia: O que o Nutricionista Pode Prescrever?

Descubra como a fitoterapia pode complementar a prática nutricional, oferecendo benefícios e cuidados no uso de plantas medicinais e fitoterápicos.


Desde os primórdios da civilização humana, a natureza desempenha um papel fundamental na área da saúde, onde a humanidade explora os benefícios de produtos minerais, vegetais e animais como forma de promover a cura e o bem-estar. Tal prática perdura até os dias atuais, a nível caseiro ou industrial, evidenciando a relevância contínua desses recursos naturais na saúde.  

Neste contexto, surgem os nutricionistasprofissionais que em seu cotidiano exploram a relação humana com os alimentos, essencialmente fora do âmbito farmacêutico (afinal, o alimento é alimento e nunca medicamento).  

Mas com a possibilidade da adoção da fitoterapia na prática dos nutricionistas, como fica a intersecção destas duas áreas do conhecimento?  

Afinal, o que é fitoterapia? 

O conceito de fitoterapia refere-se à prática terapêutica que utiliza medicamentos cujos princípios ativos são provenientes de plantas ou seus derivados. Essa abordagem terapêutica tem suas raízes no conhecimento e uso tradicional das plantas pela população. Entretanto, existe uma diferença entre fitoterápicos e plantas medicinais: 

Plantas medicinais são espécies vegetais com a capacidade de aliviar ou curar enfermidades, tendo um histórico de uso tradicional como remédios em determinada população ou comunidade.  

Para aproveitar seus benefícios terapêuticos, é necessário possuir conhecimento sobre a planta em questão, incluindo sua identificação precisa, local de colheita adequado e forma correta de preparação. Geralmente, as plantas medicinais são utilizadas na forma de chás e infusões

Quando uma planta medicinal passa por um processo de industrialização visando a obtenção de um medicamento, o resultado é um fitoterápico.  

Esse processo industrial oferece vantagens, como a eliminação de possíveis contaminações por micro-organismos e substâncias indesejadas, além da padronização da quantidade e da forma de uso, o que proporciona maior segurança na sua utilização. É importante ressaltar que os fitoterápicos industrializados devem passar por regularização junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) antes de serem comercializados.  

Outra forma de obter fitoterápicos é por meio da manipulação em farmácias de manipulação autorizadas pela vigilância sanitária. Nesse caso, os produtos não precisam de registro sanitário, porém devem ser prescritos por profissionais habilitados, incluindo nutricionistas. 

Fitoterapia na prática clínica do nutricionista 

A fitoterapia pode ser uma ferramenta adicional na prática clínica dos nutricionistas, contribuindo para o tratamento de diversas condições de saúde.  

Mas, para utilizar a fitoterapia de forma adequada, é essencial que os nutricionistas possuam conhecimento aprofundado sobre as plantas medicinais utilizadas, suas propriedades farmacológicas e possíveis interações com medicamentos convencionais. Além disso, é fundamental avaliar as evidências científicas disponíveis para embasar a prescrição fitoterápica. 

De acordo com Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) qualquer nutricionista está habilitado para prescrever Medicamentos Isentos de Prescrição (MIP) à base de vitaminas e/ou minerais e/ou aminoácidos e/ou proteínas isolados ou associados entre si.  

Da mesma forma que também pode prescrever infusão, decocção e maceração em água, além de drogas vegetais e óleos fixos, em formas farmacêuticas, que podem ser classificados como alimentos, novos alimentos e ingredientes, e suplementos alimentares.  

Entretanto, apenas aqueles que possuírem habilitação em fitoterapia (regulamentada pela Resolução CFN nº 680/2021) estarão aptos a prescrição de MIPs fitoterápicos

No entanto, é importante ressaltar que a fitoterapia não substitui a nutrição adequada nem o acompanhamento nutricional, sendo utilizada como um complemento terapêutico. 

Quais são os riscos? 

O consumo de fitoterápicos e plantas medicinais tem sido promovido com base na crença equivocada de que “se é natural, não faz mal”.  

Porém, ao contrário do que se acredita popularmente, esses produtos podem desencadear uma variedade de reações adversas, semelhantes às provocadas por qualquer outro medicamento. Essas reações incluem intoxicações, náuseas, irritações, edemas (inchaços) e até mesmo eventos fatais. 

Um exemplo bastante conhecido são os efeitos adversos do uso do chá verde em conjunto com o tratamento contra o câncer, já que suas catequinas se ligam a alguns quimioterápicos aumentando a sua toxicidade. Ao mesmo tempo que alguns flavonoides ainda podem diminuir a circulação sanguínea destas drogas, tornando o tratamento menos eficaz.  

Em relação a obesidade, um estudo pequeno realizado em Minas Gerais identificou que as pessoas que buscaram nas plantas medicinais a solução para a obesidade encontraram efeitos colaterais desagradáveis ao consumir chá verde, como náuseas, dor abdominal ao consumirem hibisco e diarreia ao consumirem sene.  

Outros bons exemplos são a promoção de edema e hipertensão da infusão de alcaçuz e ainda a hiperacidez gástrica e hipotensão que podem ser causadas pelo dente de leão

Infelizmente, o campo da fitoterapia (assim como o da nutrição) está suscetível a informações duvidosas e provenientes de aproveitadores. É comum encontrar propagandas e informações não embasadas cientificamente, que prometem resultados milagrosos com o uso de determinadas plantas medicinais ou fitoterápicos.  

Nesse sentido, é crucial que os nutricionistas sejam críticos ao avaliar essas informações – independentemente se possuem uma especialização ou não. Para que possam influenciar uma conduta, os estudos devem ter amostras representativas e métodos de coleta adequados e mesmo revisões devem ser avaliadas com rigidez. 

A nutrição e a fitoterapia são áreas complementares que podem contribuir significativamente para a saúde dos pacientes.  

Os nutricionistas podem desempenhar um papel importante na orientação sobre o uso adequado de plantas medicinais, quando se dedicarem adequadamente para isto. Ao manterem-se atualizados, exercitarem o pensamento crítico e evitarem informações duvidosas, esses profissionais podem oferecer um serviço completo e seguro visando sempre o bem-estar e a saúde dos indivíduos. 

Leituras recomendadas – clique para acessá-las: 

Referências

  • Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Práticas integrativas e complementares: plantas medicinais e fitoterapia na Atenção Básica/Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. – Brasília : Ministério da Saúde, 2012
  • Brasil. Resolução Nº 680 de 19 de janeiro de 2021. Diário Oficial da União. Brasília: Conselho Federal de Nutricionistas, 2021.
  • Camargo, S., & de Leça Pereira, V. B. (2013). A prática da Fitoterapia pelo Nutricionista–algumas reflexões. Revista da Associação Brasileira de Nutrição-RASBRAN, 5(1), 69-72.
  • Rodrigues, D. N., & Rodrigues, D. F. (2017). Fitoterapia como coadjuvante no tratamento da obesidade. Revista Brasileira de Ciências da Vida, 5(4), 19-19.
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