Condição inflamatória crônica que afeta de 10 a 15% das mulheres em idade reprodutiva, a endometriose ocorre quando o tecido semelhante ao endométrio se desenvolve fora do útero, causando diferentes graus de feridas que, se não houver tratamento, pode evoluir para um câncer.
A manifestação pode ocorrer de diferentes maneiras, dependendo do local e da quantidade das lesões, podendo ser superficial, profunda ou um cisto ovariano. A classificação das feridas se dá em quatro estágios com base em sua quantidade.
Infelizmente, muitas mulheres sofrem em silêncio com essa condição, sem um diagnóstico adequado. Para mudar esse cenário, é crucial ter uma equipe multidisciplinar envolvida no processo de diagnóstico e tratamento, inclusive o nutricionista.
Existem vários fatores de risco que podem contribuir para o desenvolvimento da endometriose, incluindo malformação uterina, baixo peso ao nascer, nascimento prematuro e menarca precoce. É importante que nutricionistas estejam atentos a esses fatores de risco e aos sintomas da endometriose em suas pacientes para oferecer um tratamento efetivo.
Com uma abordagem multidisciplinar, é possível melhorar a qualidade de vida das mulheres que sofrem com essa condição.
Etiologia e fisiopatologia da endometriose
Embora existam várias teorias sobre sua etiologia, nenhuma delas consegue explicar sozinha todos os casos dessa doença.
Uma das teorias é a das células-tronco extrauterinas, que sugere que algumas células são deslocadas para regiões extraectópticas, onde ocorre aderência em locais que não deveriam estar. Isso pode ocorrer por meio de uma menstruação retrógrada, disseminação linfovascular ou migração celular anormal, tanto do útero quanto da medula óssea.
Outra teoria é a da menstruação retrógrada e sugere que, em vez da menstruação ser eliminada, ela retorna às trompas, onde pode ocorrer inserção e desenvolvimento desse tecido extrauterino. A menstruação retrógrada pode ocorrer com 90% das mulheres em fase reprodutiva. Quando isso acontece, ocorre o recrutamento de células imunológicas, que favorecem o desenvolvimento de uma inflamação e, consequentemente, o crescimento de lesões.
A teoria da metaplasia celômica sugere que, durante o estágio embrionário, o tecido epitelial poderia se desenvolver de maneira errônea, alocando-se em locais extrauterinos.
Já a teoria genética sugere que a doença ocorreria a partir de um fundo genético, com auxílio de fatores imunológicos, inflamatórios, hormonais e estresse oxidativo.
Além disso, a endometriose é uma condição hormônio-dependente, na qual fatores hormonais, genéticos, imunes e ambientais estão todos relacionados ao grau e à progressão da doença.
Na condição normal, existem receptores de estrogênio em diversos locais. Quando se ligam ao estrogênio, eles estimulam a proliferação celular. Porém, na endometriose, existe uma resistência à ação da progesterona, que reduz seus efeitos anti-inflamatórios e antiproliferativos.
As células da endometriose possuem fosfolipídios de membrana celular que, por meio da enzima COX, levam à produção de ácido aracdônico, que está associado à elevação da produção de prostaglandina e à produção de fatores SF1 que aumentam a inflamação. Isso ocorre naturalmente, mas a proliferação tecidual da endometriose aumenta essas reações.
Por fim, fatores como estrogênio, menstruação retrógrada, angiogênese, inflamação, estresse oxidativo e células-tronco estão relacionados à endometriose, mas podem estar mais ou menos presentes nas diferentes mulheres.
Sinais, sintomas e tratamento médico da endometriose
A endometriose pode causar diversos sintomas, como dismenorreia (cólicas menstruais intensas), dispareunia (dor durante a relação sexual), dor pélvica crônica, isquemia (falta de sangue em algum tecido), disúria (dor ao urinar), mudanças no hábito intestinal e infertilidade.
A disbiose intestinal também pode estar relacionada à progressão da endometriose, por isso é importante tratar a saúde intestinal.
Para fechar o diagnóstico, é necessário avaliar os sintomas clínicos, além de realizar exames físicos e diagnósticos não invasivos, como biomarcadores (como o CA-125), ultrassom e ressonância magnética.
O tratamento da endometriose pode ser feito de forma clínica ou cirúrgica, onde o tratamento clínico visa controlar os sinais e sintomas da doença, melhorando a qualidade de vida da paciente, e pode envolver o uso de anticoncepcionais e outras classes de medicamentos.
Em casos mais graves, pode ser necessário realizar uma remoção cirúrgica das lesões.
A endometriose é uma doença crônica, portanto, é importante manter um acompanhamento médico regular.
E no que a Nutrição se relaciona com a endometriose?
Ainda há muitas perguntas sobre como a nutrição afeta o quadro da doença, mas é possível elaborar condutas visando prevenção ou tratamento.
Alimentos ricos em antioxidantes, fibras, fitoquímicos e gorduras insaturadas, como os da dieta mediterrânea, são ideais para reduzir a inflamação no corpo e diminuir o risco de desenvolver doenças dependentes de estrogênio.
Por outro lado, alimentos com alto teor de FODMAPs, gorduras saturadas, trans e pesticidas devem ser evitados.
A suplementação de vitaminas C e E, aliada ao consumo ou suplementação de curcuma/curcumina podem ajudar a reduzir o estresse oxidativo no corpo e melhorar a saúde das células.
Soja e fitoestrógenos são polêmicos
Existe a teoria do consumo de fitoestrogênio aumentar de maneira geral doenças dependentes de estrogênio, enquanto outra teoria diz sobre as isoflavonas da soja reduzindo a expressão dos receptores de estrogênio e diminuindo as lesões.
Com as referências adequadas, é possível tomar qualquer uma das condutas (adicionar ou remover soja da alimentação). Entretanto, para o bem ou para o mal, apenas serão observados efeitos mediante consumo de grandes quantidades de soja e derivados.
O consumo excessivo de álcool deve ser evitado, pois pode aumentar a biodisponibilidade de estrogênio no sangue e ser um fator de risco para o desenvolvimento da doença.
A nutrição desempenha um papel fundamental na prevenção e tratamento da endometriose, adotando uma abordagem preventiva que inclui um estilo de vida saudável e equilibrado, com um consumo regular de frutas e verduras e evitando o consumo excessivo de alimentos que possam piorar a doença.
Como é na sua prática clínica ao atender pacientes acometidas pela endometriose, nutricionista? Você teria alguma conduta com resultados efetivos que gostaria de compartilhar?
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Referências bibligráficas
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