no universo dos nutricionistas, o trato gastrointestinal é o cerne do conhecimento e tema de constante estudo. Dedica-se horas a fio estudando os meandros intestinais, conhecendo cada dobra e suas peculiaridades (afinal, a saúde intestinal desempenha um papel fundamental no bem estar geral das pessoas). No entanto, é engraçado que muitas vezes o trato gastrointestinal seja associado essencialmente com o intestino, apesar de ir muito além dele. O esôfago e o estômago, órgãos chave na digestão dos alimentos, também merecem nossa atenção – sendo conhecimentos indispensáveis para fornecer a melhor orientação nutricional aos pacientes. Olhando para além do intestinoA obtenção de dados precisos sobre a prevalência de distúrbios gastroesofágicos muitas vezes é um desafio devido à complexidade dos critérios diagnósticos específicos e aos custos associados aos exames necessários. Porém, estudos indicam que os sintomas autorreferidos relacionados ao esôfago e estômago – como a pirose (popular azia) – são bastante comuns, chegando a afetar até quase 20% da população brasileira (Figura 01). Reforça-se ainda que grupos etários e contextos de vida terão um peso fundamental nesta prevalência, já que um levantamento com estudantes de São Paulo indicou a presença de tais sintomas em 60% dos entrevistados (Suzuki et al., 2011). Figura 01. Prevalência de sintomas autorreferidos relacionados a distúrbios gastroesofágicos Adaptado de Eusebi et al., 2017. Pirose, regurgitação ácida, dor no peito, dor abdominal, n��useas e dificuldade de deglutição são os principais sintomas relacionados a problemas nesta porção do trato gastrointestinal, mas suas causas podem ter as mais diferentes origens. Em geral, as recomendações nutricionais serão semelhantes, como descrito adiante, mas destaca-se no Quadro 01 os principais distúrbios para o reconhecimento e investigação. Quadro 01. Principais distúrbios do trato gastroesofágico. adaptado de: Katz et al., 2022; Shaheen et al., 2022; Laine et al., 2021; Chey et al., 2017. Sem necessariamente um diagnóstico formal, o relato de sintomas já é o suficiente para a identificação de algum distúrbio, ainda que em seu estágio inicial, e já pode contar com alguma orientação do nutricionista – que deverá ainda encaminhar o indivíduo para um médico gastroenterologista. De acordo com a American College of Gastroenterology, não há nenhuma recomendação específica com alto nível de evidência científica que permita uma generalização da orientação, sendo, então, fundamental acompanhar a resposta do paciente e entender as individualidades dos episódios de refluxo (Katz et al., 2022). Entretanto, além do tratamento medicamentoso e mesmo com baixo ou moderado nível de evidência, alguns pacientes podem se beneficiar se: Evitarem alimentos desencadeantes(gatilhos): Identificar e evitar alimentos que possam agravar os sintomas da DRGE e da gastrite pode ser útil. Alguns alimentos conhecidos por desencadear o refluxo e estimular a acidez incluem alimentos gordurosos, fritos, picantes, cítricos, tomate, café, chocolate, menta e bebidas alcoólicas; Fizerem refeições menores e mais frequentes: Consumir refeições menores e mais frequentes em vez de grandes refeições pode ajudar a reduzir a pressão no esfíncter esofágico inferior e evitar o refluxo. Entretanto, em contextos reais, é bastante difícil colocar em prática uma alimentação que não seja “café da manhã, almoço e jantar”; Evitarem deitar-se imediatamente após as refeições: Aguardar pelo menos 2 a 3 horas após as refeições antes de deitar-se ou inclinar-se pode ajudar a reduzir o refluxo ácido; Elevarem a cabeceira da cama: Elevar a cabeceira da cama cerca de 10 a 15 centímetros pode ajudar a manter o ácido no estômago durante o sono e reduzir os sintomas noturnos de refluxo. Existem travesseiros e almofadas específicas para este fim que podem ser recomendadas. Perderem peso, se necessário: O excesso de peso pode aumentar a pressão no esfíncter esofágico inferior e contribuir para o refluxo. Mas dada a complexidade e o tempo para a perda de peso, esta não é a estratégia indicada para o alívio imediato dos sintomas. Assim, a atuação do nutricionista pode desempenhar um papel crucial no alívio de desconforto e melhoria da qualidade de vida de pacientes com distúrbios gastroesofágicos. Embora as orientações nutricionais mencionadas sejam pouco específicas, é essencial ter em mente que cada caso deve ser avaliado individualmente, levando em consideração as necessidades e os contextos de cada paciente. Felizmente, os nutricionistas têm acesso a recursos valiosos, como a Academia da Nutrição, que oferece guias práticos e embasados cientificamente para auxiliar na prática clínica. E para saber mais sobre Saúde Gastrointestinal, uma sugestão de assunto para se aprofundar é o famoso Eixo Intestino-Cérebro. Referências BibliográficasChey, William D MD; Leontiadis, Grigorios I MD; Howden, Colin W MD; Moss, Steven F MD. ACG Clinical Guideline: Treatment of Helicobacter pylori Infection. American Journal of Gastroenterology 112(2):p 212-239, February 2017. Eusebi LH, Ratnakumaran R, Yuan Y, Solaymani-Dodaran M, Bazzoli F, Ford AC. Global prevalence of, and risk factors for, gastro-oesophageal reflux symptoms: a meta-analysis. Gut. 2018 Mar;67(3):430-440. Katz, Philip O. MD; Dunbar, Kerry B. MD; Schnoll-Sussman, Felice H. MD; Greer, Katarina B. MD, MS; Yadlapati, Rena MD; Spechler, Stuart Jon MD. ACG Clinical Guideline for the Diagnosis and Management of Gastroesophageal Reflux Disease. The American Journal of Gastroenterology 117(1):p 27-56, January 2022. Laine, Loren MD; Barkun, Alan N; Saltzman, John R; Leontiadis, Grigorios I. ACG Clinical Guideline: Upper Gastrointestinal and Ulcer Bleeding. The American Journal of Gastroenterology 116(5):p 899-917, May 2021. Shaheen, Nicholas J. MD; Falk, Gary W. MD; Iyer, Prasad G. MD; Souza, Rhonda F; Yadlapati, Rena H. MD; Sauer, Bryan G. MD; Wani, Sachin. Diagnosis and Management of Barrett’s Esophagus: An Updated ACG Guideline. The American Journal of Gastroenterology 117(4):p 559-587, April 2022. Suzuki NM, Nakea TK, Castro PC, Bonadia, JCA. Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE): epidemiologia e qualidade de vida em estudantes universitários. Arq Med Hosp Fac Cienc Med Santa Casa São Paulo 2011;56(2):65-7.
Distúrbios esofágicos e estomacais – um guia rápido
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