Como as Nutricionistas Podem se Tornar Líderes em Áreas Científicas: Entrevista exclusiva com Karine Vincenzi

No Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, destacamos a importância das nutricionistas na pesquisa e inovação para o futuro da nutrição.


O Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, celebrado em 11 de fevereiro, evidencia a necessidade de ampliar a participação feminina em diversas disciplinas científicas. No campo da nutrição, predominantemente composto por mulheres, ainda há barreiras estruturais que dificultam a ascensão a posições de liderança na pesquisa e inovação.  
 
Com o avanço de áreas como nutrigenômica, alimentação personalizada, sustentabilidade alimentar e inteligência artificial aplicada à nutrição, torna-se imperativo preparar nutricionistas para liderar essas transformações paradigmáticas. 

Desafios para a Liderança Científica em Nutrição  

Nutricionistas enfrentam múltiplos desafios ao ingressar na carreira científica, incluindo a escassez de financiamento para pesquisa, a predominância de uma abordagem assistencialista no setor e a desigualdade de gênero na ocupação de cargos acadêmicos e corporativos.  
 
O subfinanciamento da ciência e a limitação de oportunidades em instituições de ensino e pesquisa impactam diretamente a produção científica e a inovação na área. Para mitigar esses entraves, torna-se essencial fomentar políticas institucionais de incentivo à pesquisa, promover a inserção de nutricionistas em projetos interdisciplinares e estimular a formação contínua em metodologias científicas avançadas. 

A Importância da Pesquisa Científica em Nutrição 

A nutrição, como ciência, está em constante evolução, impulsionada por novas descobertas sobre metabolismo, microbiota intestinal, nutrigenômica e prevenção de doenças crônicas. Para que nutricionistas se destaquem como líderes nessas áreas, é fundamental investir em educação continuada e participação ativa em pesquisas acadêmicas. Publicar artigos, colaborar com grupos de pesquisa e contribuir para revisões sistemáticas são estratégias eficazes para fortalecer a presença feminina na produção científica. 

Interdisciplinaridade e Inovação 

A ciência da nutrição interage com diversas outras disciplinas, como bioquímica, fisiologia, farmacologia e ciências sociais. A colaboração interdisciplinar é um caminho essencial para o desenvolvimento de soluções inovadoras em alimentação e saúde pública. Nutricionistas que expandem seu conhecimento para essas áreas podem assumir papéis de liderança na criação de políticas alimentares, desenvolvimento de produtos e formulação de diretrizes nutricionais baseadas em evidências científicas. 

O Papel da Tecnologia e da Nutrigenômica 

O avanço da tecnologia na saúde abriu novas possibilidades para a nutrição personalizada. A nutrigenômica, que estuda a interação entre genes e nutrientes, tem revolucionado a compreensão do impacto da dieta na expressão gênica e na prevenção de doenças. Nutricionistas que se especializam nessa área estão na vanguarda da ciência e podem liderar pesquisas sobre como diferentes perfis genéticos respondem a intervenções dietéticas. 

Estratégias para se Tornar Líder em Ciência Nutricional 

  1. Investimento em Formação Acadêmica e Pesquisa: A realização de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) e cursos de especialização em metodologia científica são fundamentais para aprimorar a capacidade analítica e investigativa das nutricionistas. 
  1. Engajamento em Redes Acadêmicas e Científicas: A participação ativa em sociedades científicas, congressos internacionais e grupos de pesquisa possibilita a construção de colaborações estratégicas e o acesso a avanços recentes na área. 
  1. Publicação Científica e Disseminação do Conhecimento: A produção e divulgação de artigos em periódicos indexados são essenciais para consolidar a autoridade científica e contribuir para o desenvolvimento da área. 
  1. Aplicação de Tecnologias Disruptivas: A interface entre nutrição e inteligência artificial, biotecnologia e análise de big data abre novas perspectivas para pesquisas inovadoras lideradas por nutricionistas. 
  1. Atuação em Políticas Públicas e Advocacy: O envolvimento na formulação e implementação de políticas públicas nutricionais permite ampliar o impacto social da ciência da nutrição. 

Promoção da Mentoria e Liderança Feminina: O estabelecimento de redes de apoio entre nutricionistas fortalece a troca de experiências, incentiva a equidade de gênero na ciência e contribui para a formação de novas lideranças femininas no setor acadêmico e industrial. 


 
Entrevista com Doutora Karine Vicenzi 


 
Nutrigeneticista, Mestre e Doutoranda pela UNIVILLE/SC, com pós-graduação em Nutrição Ortomolecular, Nutrição Esportiva Funcional e Nutrição Clínica. Coach certificada pela SBC, docente em cursos de pós-graduação e atuante em atendimento clínico há mais de 10 anos. 
 
1.Quais são os principais desafios na aplicação dos avanços científicos em nutrição na prática clínica? 

 
A ciência tem crescido muito no Brasil, mas infelizmente ainda encontramos muita limitação financeira. Há pouco tempo, uma fundação de amparo a pesquisa foi até a universidade onde faço estudo relatando um aumento significativo de investimento do governo na pesquisa. Estamos tendo cada vez mais aumento de reconhecimento, porém ainda estamos longe de suprir as necessidades de forma completa e necessária para os pesquisadores. Com relação da nutrição na pesquisa, vejo um número pequeno de nutricionista interessadas na pesquisa. Mas fico feliz quando vejo uma parceira de trabalho na minha linha, onde hoje tem somente eu de nutricionista. 
 
2. Como as evidências científicas atuais sustentam a personalização da nutrição, considerando fatores como perfil genético e microbioma? 

 
Os estudos em genética ainda são muito escassos. Hoje eu estudo nutrigenética e microbioma e são poucos estudos que relacionam a nutrição com tratamento nutrigenético e microbioma. Porém conseguimos extrair uma boa base para tomar condutas mais seguras. Me coloco a disposição caso precisem de material ou direcionamento, pois no começo tive bastante dificuldade. Hoje entendo que precisa de uma visão mais periférica para entender melhores tratamentos, vendo que temos poucas pesquisas em nutrigenética. 
 
3. Quais desafios e aprendizados marcaram sua trajetória profissional na pesquisa e como isso moldou sua visão sobre a nutrição baseada em evidências? 

 
A parte que eu mais amo do meu dia é sentar e ler sobre a ciência no mundo, eu realmente me sinto conectada com essa área. Confesso que ser nutricionista e pesquisadora tem um certo peso, porém é algo apaixonante. A ciência mudou completamente minha atuação como profissional. Sou uma nutricionista mais crítica, tenho mais argumentos e base científica para defender condutas. Com certeza não faria nada diferente. Meus pacientes se sentem muito seguros com meus tratamentos. Tenho uma, por exemplo, que tem um quadro clínico bem peculiar com várias situações clínicas, ela vive me mandando pesquisa sobre suplementos para o tratamento dela e sempre é uma confirmação do que eu já havia prescrito, trazendo mais e mais confiança no tratamento e consequentemente apresentando melhora no seu caso 
 
4. Ser mulher influenciou sua trajetória como pesquisadora na ciência da nutrição? Se sim, de que forma? 
 
Eu acredito que ser mulher limita um pouco. Hoje a ciência está muito dominada pelas mulheres, isso não há dúvidas. Mas só nós mulheres sabemos como é difícil equilibrar tudo, a vida pessoal, trabalho e lazer. A nutricionista também tem a cobrança de peso ideal, e na pesquisa, a saúde e o peso não são o foco das pessoas. Então o ambiente pesa um pouco na questão da saúde, principalmente porque grande parte dos pesquisadores lancham coisas rápidas gordurosas e com muito açúcar.  
 
5. Na sua visão, qual o papel das pesquisadoras na construção de um futuro mais inovador e inclusivo para a ciência da nutrição? 

 O papel é de muita importância. Falo isso como nutricionista, vejo que os cientistas precisam de um toque de um nutricionista no meio da saúde deles. E pelo fato da nutrição ser um caminho muito importante nas pesquisas. A nutrição é vista como a medicina preventiva, e é nosso papel como nutricionistas contribuir com a ciência no mundo e mostrar a importância da nossa área que só nós podemos dizer. (Destaca a relevância do Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência.) 

A nutrição, enquanto ciência em constante evolução, exige profissionais capacitados para liderar pesquisas inovadoras e integrar conhecimentos interdisciplinares. O Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência reforça a importância da equidade de gênero no meio acadêmico e destaca a necessidade de fortalecer a presença feminina em posições de liderança científica. 
 
Além disso, a colaboração interdisciplinar entre nutricionistas e especialistas de áreas como biotecnologia, inteligência artificial e saúde pública é imprescindível para impulsionar descobertas que impactem positivamente a saúde pública e a segurança alimentar global. 
 
A formação de líderes na ciência da nutrição não apenas transforma a área, mas também contribui para avanços significativos no enfrentamento de desafios nutricionais contemporâneos. 

Referências Bibliográficas:



UNESCO. Cracking the code: girls’ and women’s education in science, technology, engineering and mathematics (STEM) [Internet]. Paris: United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization; 2017 [citado em 2025 fev. 10]. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000253479

World Health Organization (WHO). Healthy diet: key facts [Internet]. Geneva: WHO; 2023 [citado em 2025 fev. 10]. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/healthy-diet

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