Cada vez mais, a importância da nutrição no manejo da depressão é reconhecida pela ciência, atuando na incidência dessa doença ou na gravidade dos sintomas associados, que afeta grande parte da população mundial e do Brasil. Assim, de forma a compreender mais sobre os efeitos preventivos e/ou terapêuticos de fatores dietéticos (padrões alimentares, grupos de alimentos, alimentos, bebidas e nutrientes) na depressão, entre adultos saudáveis ou deprimidos, trazemos uma revisão abrangente de meta-análises de estudos prospectivos publicada na revista Translational Psychiatry, do grupo de pesquisadores da Nature. Role of dietary factors in the prevention and treatment for depression: an umbrella review of meta-analyses of prospective studies Papel dos fatores dietéticos na prevenção e tratamento da depressão: o estudo de revisãoOs pesquisadores realizaram uma revisão sistemática e meta-análise de estudos de coorte prospectivos ou ensaios clínicos randomizados obtidos nas bases de dados PubMed, Embase e Cochrane Library. Após a busca inicial da literatura e a seleção do estudos publicados, aplicando-se os critérios pré-estabelecidos de inclusão e exclusão, chegou-se a 28 meta-análises com 40 tamanhos de efeito reanalisados sobre padrões alimentares ou índices de qualidade alimentar (n=8), grupos de alimentos (n=19), nutrientes ( n=13), em relação aos efeitos preventivos ou terapêuticos na depressão. O que os pesquisadores encontraram sobre a associação entre padrões alimentares e o risco de depressão? Após a análise estatística dos estudos, os autores avaliaram que a adesão maior versus menor a uma dieta saudável teve o potencial de diminuir o risco de depressão com qualidade de evidência moderada. E em relação aos grupos de alimentos, alimentos e bebidas e o risco de depressão? O alto consumo versus o baixo consumo de peixe se associou inversamente com o risco de depressão (ou seja, quem consome mais peixe pode ter um fator de proteção contra sintomas depressivos).Associações entre o aumento da ingestão de carne vermelha e processada e alimentos ultraprocessados e o aumento do risco de depressão foram encontradas, porém eram de baixa qualidade.Além disso, a associação inversa entre a ingestão de frutas (por incremento de 100 g) ou vegetais e o risco de depressão também foi classificada como de baixa qualidade. Evidências moderadas foram encontradas para o consumo leve a moderado de álcool e a associação inversa entre o consumo de café (500ml/dia) e o risco de depressão, bem como a associação positiva entre o consumo de bebidas adoçadas (2 xícaras/dia) e o risco de depressão. O consumo elevado de álcool também foi associado positivamente com o risco de depressão. E foi encontrada associação inversa entre ingestão de cafeína e depressão com evidência de baixa qualidade. Os pesquisadores também encontraram associações entre nutrientes e o risco de depressão A qualidade moderada da evidência foi descoberta para uma associação inversa entre o zinco dietético e o risco de depressão.Já a associação inversa entre ômega-3 e incidência de depressão na meta-análise foi classificada como evidência de baixa qualidade, assim como a associação inversa entre magnésio dietético e depressão foi classificada como muito baixa. E a suplementação nutricional: há alguma relação com o manejo da depressão? Segundo o estudo, a suplementação com probióticos, apesar de proporcionar pequenos efeitos, estes foram significativos para a depressão. Além disso, a suplementação de ômega-3 parece exercer papel na redução da gravidade dos sintomas depressivos, quando comparado ao placebo, com classificação de evidência de qualidade moderada. Qual os mecanismos associados a esses fatores dietéticos e a depressão? Os pesquisadores explicam que um padrão alimentar saudável, no qual há o consumo elevado de frutas e vegetais, peixes, leguminosas, nozes e cereais, com baixo consumo de carne vermelha e processada, atua como fator protetor contra a depressão pelo fato desses alimentos, devido a sua alta concentração de nutrientes e no caso das frutas e vegetais, fitoquímicos, auxiliarem na redução da inflamação e do estresse oxidativo, mecanismos associados à fisiopatologia da depressão. Ainda, o consumo excessivo de carnes vermelhas e processadas se associa à redução fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) e anormalidade na neuroplasticidade ou capacidade cognitiva, principalmente devido a alta concentração de gorduras saturadas.Já em relação ao consumo de ômega-3 como um fator protetor está relacionado com efeito anti-inflamatório, modulação neuroendócrina e ativação de neurotransmissores. Já a relação entre o consumo de bebidas açucaradas e incidência de depressão pode estar relacionado com o fato de o excesso de açúcar poder atuar ativando o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA) e levar à elevação dos glicocorticoides, além de afetar a resposta à insulina. Incluir estratégias que reduzem o consumo de bebidas açucaradas pode auxiliar o seu paciente:Água gaseificada aromatizada com limão ou laranja ou ainda, suchás gaseificados e kombucha pode ser uma solução! O papel protetor do café ainda não tem os mecanismos devidamente esclarecidos, mas os autores discorreram que um dos principais fatores relaciona-se com a presença de cafeína: uma vez que ela tem efeito estimulante e também é capaz de aumentar a neurotransmissão dopaminérgica.Além disso, outros compostos bioativos presentes no café como ácido clorogênico e trigonelina atuam na liberação de dopamina, contribuindo com a melhora dos sintomas depressivos. Pode ser interessante, durante a consulta, orientar o seu paciente sobre a torrefação do café, além da qualidade deste, uma vez que se torrado em excesso, pode haver alteração na concentração desses compostos bioativos. A associação entre o consumo de álcool e a depressão pode ser superestimada, principalmente pelo fato de os indivíduos com depressão serem mais propensos ao uso indevido de álcool como forma de aliviar os sintomas depressivos.No presente estudo os pesquisadores descobriram que a ingestão de mais de 48 g de álcool por dia não aumentou a incidência de depressão, com qualidade de evidência moderada. Mas isso não significa que o consumo de álcool deve ser estimulado! Os ômegas-3, especialmente o ácido docosaexaenoico (DHA) e o ácido eicosapentaenoico (EPA) exerce efeito protetor devido à atividade anti-inflamatória e à manutenção da integridade e fluidez da membrana neuronal.Já os benefícios dos probióticos tem total relação com a importante comunicação bidirecional complexa entre o intestino e o cérebro. Toda suplementação deve ser avaliada de forma individual para cada paciente! O que podemos concluir sobre o papel da nutrição na prevenção e no tratamento da depressão? A psiquiatria nutricional é uma área da nutrição em destaque atualmente e com evidências cada vez mais claras da sua importância dentro do contexto de saúde.Afinal, o bem-estar mental é um pilar primordial da saúde e da qualidade de vida. A nutrição mostra-se aliada na prevenção e no tratamento não só da depressão, mas de outros distúrbios psiquiátricos, principalmente pelo fato dos diferentes nutrientes e fitoquímicos exercerem diferentes mecanismos de ação protetores ou atuarem diretamente na produção, liberação e ação de neurotransmissores. Dessa forma, o nutricionista é um agende primordial no cuidado multidisciplinar do paciente com depressão! Estamos no final do Janeiro Branco, uma campanha importância do cuidado com a saúde mental, principalmente para a prevenção e o tratamento das doenças mentais: uma reflexão que deve ser mantida durante todo o ano. Aproveite para se atualizar com o artigo que publicamos sobre 5 estratégias nutricionais para auxiliar no manejo da ansiedade! Artigo por colaboração da Nutricionista Bruna Nogueira Referência Bibliográfica:Xu Y, et al. Role of dietary factors in the prevention and treatment for depression: an umbrella review of meta-analyses of prospective studies. Transl Psychiatry. 2021;11(1):478.
Qual o papel da nutrição na prevenção e no tratamento da depressão?
Cada vez mais, a importância da nutrição no manejo da depressão é reconhecida pela ciência, atuando na incidência dessa doença […]
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