Não é de hoje que os adoçantes geram dúvidas na população a respeito do seu uso seguro, mas se intensificaram mediante notícias divulgadas recentemente com posicionamentos da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em maio deste ano, debatemos duas novas diretrizes publicadas pela OMS sobre o uso de adoçantes para o controle de peso corporal.
Também entrevistamos as nutricionistas Malu Bastos e Paula Castilho, que trouxeram seus olhares e experiências com a prescrição de adoçantes na clínica.
O tema da discussão é o Aspartame, um dos adoçantes mais estudado e utilizado no mundo, que pode (ou não) ser considerado potencialmente carcinogênico, e no artigo de hoje você entenderá melhor o que está acontecendo, Nutricionista!
Começando pelo começo
A Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC) é um órgão pertencente à OMS e se dedicada à pesquisa e avaliação do câncer, identificando as causas e fornecendo informações científicas sobre os riscos associados a diferentes exposições.
A IARC classifica as substâncias analisadas em quatro categorias com base nas evidências científicas disponíveis sobre sua capacidade de causar câncer. São elas:
- Nível 1 – Carcinógeno: há evidências conclusivas de que a substância pode causar câncer. Exemplos: poluição atmosférica, carne processada, bebida alcoólica, radiação ultravioleta (UVA, UVB e UVC);
- Nível 2a – Provável carcinógeno: existem indícios de que a substância possa causar câncer, mas ainda não há conclusões definitivas. Exemplos: trabalhar como caldeireiro ou barbeiro, carne vermelha, bebidas quentes (acima 65°C);
- Nível 2b – Possível carcinógeno: há alguma evidência de que a substância possa causar câncer, mas não é conclusiva. Exemplos: extrato de aloe vera, extrato de ginkgo biloba
- Nível 3 – Não há evidência: não há evidências de que a substância seja carcinogênica. Exemplos: água oxigenada, cafeína, colesterol, selênio;
Você pode conferir a listagem completa de todas as substâncias já classificadas pela IARC em relação ao seu potencial carcinogênico no site oficial da Agência.
Atuando de maneira específica com produtos alimentícios, o Comitê Misto FAO/OMS de Especialistas em Aditivos Alimentares (JECFA) é formado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentaç��o (FAO) juntamente com a OMS
O JECFA é responsável por avaliar e estabelecer limites de segurança para aditivos alimentares, como corantes, conservantes e edulcorantes e, assim como a IARC, realiza revisões periódicas para atualizar as informações e posicionamentos oficiais.
Mas atenção, Nutricionista: o IARC e o JECFA não avaliam o risco real associado à exposição a uma substância específica de desenvolver câncer!
A IARC apenas aponta a existência de evidências que indicam que um determinado agente levar (ou não) à carcinogênese, mas não considera a dosagem e o tempo de exposição, impossibilitando estimar a verdadeira chance de cada item da lista de desenvolver câncer.
O JECFA, por sua vez, está mais envolvido na avaliação da segurança dos aditivos alimentares, se concentra principalmente na segurança dos aditivos alimentares e não aborda especificamente questões relacionadas a possíveis efeitos na saúde, como a associação com o desenvolvimento de doenças crônicas.
A avaliação do risco real associado à exposição a uma substância específica é realizada por outras agências e órgãos regulatórios especializados em segurança alimentar. No Brasil, essa tarefa cabe à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
E o Aspartame, onde entra?
A IARC e o JECFA estão em um processo de rever as evidências disponíveis a respeito do uso do Aspartame e, de acordo com a própria Organização Mundial da Saúde, é possível que o aspartame entre no grupo 2 da classificação da IARC.
Isso significa que o uso de adoçante está proibido? Não, longe disso.
É essencial entender que essa classificação se baseia em evidências preliminares e em estudos realizados principalmente em animais. A quantidade consumida e a duração da exposição são fatores-chave para determinar o risco associado ao aspartame.
Os doces possuem um papel importante na cultura alimentar, e por isso não devem ser demonizados ou alvo de terrorismo nutricional. Em uma alimentação equilibrada, todos os alimentos podem estar presentes. Entretanto, o consumo de açúcares e adoçantes deve sim ocorrer de maneira moderada, reduzindo sempre que possível.
E, na impossibilidade de consumir açúcar devido alguma condição de saúde, os adoçantes serão um importante artifício para compor esse sabor. A própria Diretriz da Sociedade Brasileira de Diabetes 2023 (versão preliminar) indica que podem ser utilizados para ajudar a reduzir o consumo de carboidratos e calorias.
Assim como nos outros campos da Ciência, não existe uma resposta definitiva e precisa a respeito desse assunto. Mas por aqui vamos continuar acompanhando as próximas atualizações dos órgãos oficiais e trazer para você, de maneira simples e descomplicada.
Compartilhe este artigo com seus colegas, e não deixe de comentar qual a sua opinião a respeito do uso de Aspartame.
Referências
- Food and Agriculture Organization. Food safety and quality: Chemical risks and JECFA. Disponível em: <https://www.fao.org/food/food-safety-quality/scientific-advice/jecfa/en/>. Acesso em: 06 Jul 2023.
- Jornal Estado de São Paulo. Aspartame, usado na Coca Zero, deve ser declarado como possivelmente cancerígeno pela OMS. Disponível em: <https://www.estadao.com.br/saude/aspartame-usado-na-coca-diet-deve-ser-declarado-como-possivelmente-cancerigeno-pela-oms-nprm/>. Acesso em: 11 jul. 2023.
- RIGBY, J. et al. Exclusive: WHO’s cancer research agency to say aspartame sweetener a possible carcinogen -sources. Reuters, 29 jun. 2023. Disponível em: <https://www.reuters.com/business/healthcare-pharmaceuticals/whos-cancer-research-agency-say-aspartame-sweetener-possible-carcinogen-sources-2023-06-29/>. Acesso em: 06 Jul 2023.
- Sociedade Brasileira de Diabetes. Terapia Nutricional no Pré-Diabetes e no Diabetes Mellitus Tipo 2. Disponível em: <https://diretriz.diabetes.org.br/terapia-nutricional-no-pre-diabetes-e-no-diabetes-mellitus-tipo-2/>. Acesso em: 06 Jul 2023.
- World Health Organization. List of Classifications – IARC Monographs on the Identification of Carcinogenic Hazards to Humans. Disponível em: <https://monographs.iarc.who.int/list-of-classifications/>. Acesso em: 06 Jul 2023.
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