As mulheres representam 43,7% dos pesquisadores brasileiros, porém elas somam menos de 10% dos membros da Academia Brasileira de Ciências e cerca de 21% das coordenações de projetos pela FAPESP, de acordo com dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
E você sabia que no dia 11 de fevereiro é comemorado o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência?
Essa data é uma iniciativa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO, criada para ajudar na promoção da igualdade entre os direitos de homens e mulheres na educação.
Como forma de prestar uma homenagem e valorizar o trabalho das inúmeras mulheres que estão diariamente trabalhando no fazer da ciência, mesmo com todas as dificuldades que se apresentam a elas, a Academia da Nutrição trouxe hoje um bate-papo com três nutricionistas que estão presentes e atuantes na pesquisa: Desire Coelho, Luciana Rossi e Nathália Saffioti.
Conheça um pouco mais sobre essas mulheres da ciência da nutrição:
Desire Coelho é Nutricionista, Bacharel em Esporte, Mestre e Doutora (com um período de sanduíche na França) pela USP. Na pesquisa, tem experiência na área de emagrecimento, principalmente lipoaspiração e efeito de diferentes gorduras na dieta e suplementação esportiva (com estudos com creatina).
Atualmente, tem atuado na clínica com comportamento alimentar e com divulgação científica através do portal Ciência InForma.
Luciana Rossi é Nutricionista, Mestre, Doutora e Pós-Doutora pela USP, especialista em Nutrição Esportiva pela ASBRAN e atualmente lidera e coordena o Departamento Científico Acadêmico da Federação Paulista de Karatê. Autora e organizadora de livros, capítulos e artigos.
Luciana também é faixa preta em Karatê Estilo Shotokan, sendo que sua mais recente conquista foi o Campeonato Paulista Master, na categoria 51/55. Tanto na pesquisa quanto na clínica, atua com atletas de alto rendimento nas artes marciais, lutas e esportes de combate.
Nathália Saffioti é Nutricionista e Mestranda pela USP, Pós-Graduada em Nutrição Comportamental e Clínica pela Uniguaçu e Antropometrista ISAK nível 2.
Em sua Iniciação Científica, trabalhou com as diferenças de carnosina muscular entre homens e mulheres, comparando também jovens e seniores.
Atualmente, pesquisa a influência das alterações de pH no sistema músculo-esquelético, além de trabalhar com nutrição clínica e esportiva.
As motivações que levam cada profissional para a pesquisa podem variar bastante, Luciana, que já era atleta de Karatê com alto rendimento, sentiu falta de estudiosos e de uma produção de conhecimentos sobre a área, o que serviu de motivação para que ela se tornasse esse profissional.
Desire, que foi apresentada ao laboratório em que trabalhou através de uma colega de curso, sentiu identificação com os temas nele trabalhados e optou por frequentar e desenvolver pesquisas.
Nathália, iniciou sua iniciação científica diante da possibilidade de desenvolver um trabalho remunerado que permitisse conciliar com outras atividades que realizava na graduação. Para além de identificação, paixão e propósito, a pesquisa ainda é um trabalho que merece reconhecimento e valorização!
No caso de Desire e Nathália, ambas nos contaram que seus grupos de pesquisa eram bastante acolhedores, respeitosos e permitiram que elas crescessem e se desenvolvessem, o que foi como foi importante para suas trajetórias na pesquisa.
De acordo com a Elsevier, empresa global de informações analíticas que contribui com instituições e profissionais para o progresso da assistência à saúde e da ciência, a presença feminina em pesquisas varia bastante, de acordo com a área de atuação.
Enquanto que na engenharia mecânica esse número não chega a 10%, desde 2009 as mulheres são a maioria dos pesquisadores presentes nas áreas médicas e bioquímicas.
Desire e Nathália nos contaram que nos grupos de pesquisa que têm contato, a quantidade de pesquisadores homens e mulheres é bastante equilibrada, existindo muito respeito a todos os membros, além do fato que as mulheres são a maioria das estudantes de nutrição.
Elas não se recordam de terem sofrido preconceitos, discriminações e desafios específicos por serem mulheres, e acreditam que seja devido a essa maior presença feminina na nutrição.
Luciana, por sua vez, já enfrentou maiores dificuldades quando começou a trabalhar, há mais 25 anos, com artes marciais – um campo no qual era extremamente raro ver mulheres pesquisando.
Seu primeiro grande desafio foi realizar sua primeira publicação, e relata que contou com o apoio do Prof Julio Tirapegui (FCF/USP).
Ela persistiu bastante em sua caminhada, transformando as dificuldades em oportunidades, e hoje já vê um considerável aumento nos trabalhos publicados, chegando inclusive a orientar alunos de Nutrição e Educação Física.
Desire também nos lembrou da desvalorização que a ciência tem vivido no Brasil, de uma forma geral.
Os investimentos têm sido reduzidos, os recursos para desenvolver as pesquisas são bem escassos e as bolsas-auxílio (quando existem) possuem baixos valores, dificultando que o profissional possa viver exclusivamente da sua pesquisa. Esse conjunto de fatores não afeta apenas as mulheres, mas certamente dificultam suas caminhadas.
Perguntamos a nossas entrevistadas se possuem uma cientista que as inspiram:
Desire lembrou de sua amiga Fabiana Benatti, nutricionista que lhe apresentou ao laboratório em que trabalhou na graduação e que atualmente leciona na UNICAMP.
Luciana citou Marilia Cerqueira Leite Seelaender, a primeira mulher faixa preta no Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São Paulo – CEPEUSP – com o Sensei Yasuyuki Sasaki e uma pesquisadora que nos representa além das fronteiras do Brasil, e também a nutricionista Fabiana Poltronieri, parceria acadêmica com quem divide a publicação de um Tratado de Nutrição e Dietoterapia.
Nathália falou de sua orientadora na Faculdade de Medicina da USP, Eimear Bernadette Dolan, uma mulher muito humilde, inteligente, respeitada pelos demais e excelente no que faz.
Por fim, pedimos que cada uma delas deixasse um conselho a uma mulher que esteja entrando agora na vida acadêmica, ou menina que sonhe em ser cientista:
“Entre em um grupo muito forte, esteja sempre cercada de pessoas que são referências da área, que você também vai se destacar. […] As pessoas têm características diferentes, modos diferentes de compreensão e inteligência, mas eu acho que o esforço e pertencer a um grande grupo é o que mais faz diferença na prática clínica. […] eu entendo que sou uma melhor nutricionista porque faço ciência, e sou uma melhor pesquisadora porque estou na clínica. Elas se complementam muito, e para mim são fundamentais.” – Desire Coelho.
“Acho que uma forma bem prática é escolher um assunto que realmente seja instigante e que traga uma mão de via dupla. O que quero dizer com isso? Nunca abri mão de ter minha atuação profissional junto com minha atuação científica e acadêmica. Para mim uma ciência que não seja aplicável é estéril.” – Luciana Rossi.
“Buscar um ambiente que seja confortável e que tenha uma perspectiva de crescimento, porque quando estamos em ambientes em que de certa forma são mais preconceituosos, é muito mais difícil causar uma mudança significativa ou fazer com que os outros nos ouçam quando estamos sendo atingidos. É claro que é possível, mas é preciso um suporte dentro dessa equipe vindo de alguém.” – Nathália Saffioti.
A Nutrição é uma ciência séria, que está sempre em atualização e precisa se basear na metodologia científica, e não em pseudociência e charlatanismo.
E ainda bem que temos profissionais comprometidos atuando na vida acadêmica e na prática clínica, batalhando sobretudo para que a ciência da nutrição tenha destaque na mídia e na sociedade!
Que sejamos nós, nutricionistas, as verdadeiras influencers na saúde e na nutrição, com base na ciência!
Referências bibliográficas
De Kleijn, M, Jayabalasingham, B, Falk-Krzesinski, HJ, Collins, T, Kuiper-Hoyng, L, Cingolani, I, Zhang, J, Roberge, G, et al: The Researcher Journey Through a Gender Lens: An Examination of Research Participation, Career Progression and Perceptions Across the Globe [Internet]. Lima F, editor. Elsevier; 2020 Mar [cited 2023 Feb 8].
Available from: https://www.elsevier.com/connect/gender-report PUCPR E.
A participação das mulheres na ciência: cenário atual e possibilidades [Internet]. ead.pucpr.br. Available from: https://ead.pucpr.br/blog/mulheres-na-ciencia
UNESCO celebra o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência | UNESCO [Internet]. www.unesco.org. [cited 2023 Feb 09]. Available from: https://www.unesco.org/pt/articles/unesco-celebra-o-dia-internacional-das-mulheres-e-meninas-na-ciencia
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