Acompanhamento Nutricional De Atletas Paralímpicos: Do Conhecimento Básico Aos Desafios 

Nutrição esportiva é uma área desafiadora para nutricionistas, já que o foco em desempenho testa os limites dos atletas profissionais […]


Nutrição esportiva é uma área desafiadora para nutricionistas, já que o foco em desempenho testa os limites dos atletas profissionais em diversos aspectos de saúde – o que faz com que condutas para atletas sejam impensáveis para o público em geral, seja no consultório ou no hospital. E se essa especializa��ão já requer um conhecimento de alto nível e uma personalização extrema de planos alimentares para atletas típicos, imagine só como este conhecimento deve ir além quando o público são os atletas paralímpicos.  

Mas, ainda longe da personalização, quais desafios e os conhecimentos básicos que todos os nutricionistas podem ter sobre esta área de atuação antes de buscar a atuação nesta área? 

As Paralimpíadas: História e desenvolvimento  

Jogos paralímpicos celebram o poder do esporte como ferramenta de inclusão, superação e transformação. Atletas de todo o mundo, portadores de diferentes tipos de deficiências físicas, sensoriais e intelectuais, competem ao mais alto nível, demonstrando habilidades excepcionais e desafiando preconceitos.  

Ao longo dos anos, essas competições evoluíram, não apenas em termos de participação, mas também em sofisticação técnica, abrindo novos horizontes para a pesquisa e o desenvolvimento de estratégias voltadas para a otimização do desempenho dos atletas paralímpicos – e, justamente, um dos aspectos cruciais desse desenvolvimento é a nutrição. 

Categoria dos atletas paralímpicos:entendendo as diferenças  

Os atletas paralímpicos competem em diversas categorias, que são classificadas com base no tipo e grau de deficiência. As categorias são desenhadas para garantir que os competidores tenham igualdade de condições, permitindo uma competição justa. Desenhadas pensando em cada modalidade, as principais categorias incluem: 

  • Deficiência física: Envolve amputações, lesões medulares, paralisia cerebral, entre outras condições que afetam a mobilidade, força e coordenação. 
  • Deficiência visual: Abrange atletas com diferentes graus de perda de visão, desde baixa visão até cegueira total. 
  • Deficiência intelectual: Inclui atletas com limitações cognitivas, que impactam a capacidade de processar informações e tomar decisões rápidas. 

Cada uma dessas categorias apresenta desafios específicos que afetam diretamente as necessidades nutricionais dos atletas. A compreensão profunda dessas particularidades é fundamental para desenvolver estratégias nutricionais que maximizem o desempenho, promovam a saúde e garantam uma recuperação eficiente. 

Particularidades nutricionais dos atletas paralímpicos  

Neste universo de atuação, as necessidades nutricionais são mais complexas devido às variações fisiológicas e metabólicas resultantes das diferentes deficiências.  

Os trabalhos acadêmicos usados para embasar condutas tendem a ser muito específicos, tanto para a modalidade esportiva quanto para o tipo de lesão – mas em todos os casos, as adaptações nutricionais são cuidadosamente planejadas para atender às demandas energéticas, garantir a ingestão adequada de nutrientes e minimizar o risco de lesões ou complicações de saúde.  

Algumas considerações mais gerais: 

1. Necessidades energéticas e gasto calórico 

As necessidades energéticas de um atleta paralímpico podem variar consideravelmente em função do tipo de deficiência, do nível de atividade e da categoria esportiva. A estimativa do gasto energético é mais complexa devido a fatores como a alteração na composição corporal (maior proporção de gordura corporal em alguns casos) e a menor mobilidade. 

Por exemplo, atletas com lesão medular podem apresentar um metabolismo basal reduzido devido à menor massa muscular ativa, o que pode levar a uma menor necessidade energética total. Por outro lado, atletas com amputações podem ter um gasto energético elevado, especialmente em atividades que exigem maior esforço devido à ausência de membros, que pode dificultar a locomoção ou demandar mais energia para o uso de próteses. 

A calorimetria indireta é amplamente indicada para o cálculo da taxa metabólica basal (TMB) em atletas paralímpicos. Este método é considerado o padrão-ouro para a medição do gasto energético em repouso e é preferível em comparação com equações preditivas, que muitas vezes subestimam ou superestimam a TMB, especialmente em populações tão específicas quanto esta. 

2. Composição corporal: avaliação e manutenção 

Manter uma composição corporal ideal é crucial para o desempenho atlético. No entanto, a definição de “ideal” pode variar significativamente entre atletas paralímpicos, dependendo do tipo de deficiência. A avaliação precisa da composição corporal, utilizando métodos como a bioimpedância ou a absorciometria de raios-X de dupla energia (DXA), é importante para monitorar a massa muscular, a massa gorda e a densidade óssea. 

Atletas com amputações, por exemplo, podem apresentar uma distribuição desigual da massa corporal, o que pode influenciar na mobilidade e no equilíbrio. Já os atletas com lesões medulares podem enfrentar desafios relacionados à perda de massa muscular nos membros inferiores, exigindo uma abordagem específica para a manutenção da força e da função muscular nos membros superiores. 

3. Micronutrientes essenciais: cálcio, ferro e vitamina D 

A deficiência de alguns micronutrientes pode ser mais prevalente em certos grupos de atletas devido às características específicas de suas deficiências. A saúde óssea é uma preocupação particular para atletas com lesões medulares ou amputações, que podem ter menor densidade óssea devido à redução da carga sobre os ossos. A suplementação pode ser necessária, especialmente em casos de exposição solar limitada, que afeta a síntese de vitamina D. 

E ainda, atletas paralímpicos podem estar em risco de deficiência de ferro, especialmente aqueles com amputações ou que praticam esportes de resistência. A monitorização dos níveis de ferritina e hemoglobina é recomendada, juntamente com a orientação sobre fontes alimentares ricas em ferro e a suplementação, se necessário. 

4. Hidratação: considerações especiais 

A hidratação é particularmente desafiadora para atletas paralímpicos, especialmente aqueles com lesões medulares que afetam a função do sistema nervoso autônomo, responsável pela regulação da temperatura e da sudorese. 

A sensação de sede pode ser diminuída em atletas com lesões na coluna, e a capacidade de suar pode estar comprometida, aumentando o risco de desidratação. A monitorização cuidadosa da ingestão de líquidos e o ajuste da hidratação em função das condições ambientais, intensidade do exercício e características individuais do atleta são fundamentais. 

Reitera-se que as considerações acima são gerais e que só elucidam a necessidade de uma busca específica e um amplo estudo para cada situação. 

Conclusão: o impacto da nutrição na vida dos atletas paralímpicos 

A nutrição esportiva para atletas paralímpicos é uma área rica e complexa, que exige um profundo entendimento das particularidades de cada atleta e uma abordagem individualizada.  

No entanto, o verdadeiro poder da nutrição no contexto paralímpico vai além dos números: Trata-se de um compromisso com a inclusão, de reconhecer a diversidade e de trabalhar para criar condições que permitam que cada atleta alcance seu pleno potencial. A jornada para dominar essa área é uma jornada de aprendizado contínuo, de empatia e de inovação. 

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