Abordagem Nutricional no Manejo do Lipedema

O lipedema é uma condição crônica caracterizada pelo acúmulo anormal de gordura subcutânea, geralmente nas pernas e braços, que afeta […]


O lipedema é uma condição crônica caracterizada pelo acúmulo anormal de gordura subcutânea, geralmente nas pernas e braços, que afeta predominantemente mulheres. Estima-se que a prevalência do lipedema na população feminina brasileira seja de 12,3%

Uma abordagem nutricional personalizada desempenha um papel essencial no manejo do lipedema, ajudando a aliviar sintomas e melhorar a saúde geral das pacientes com essa condição. 

Entendendo o Lipedema 

O lipedema é frequentemente desencadeado por alterações hormonais, como aquelas que ocorrem durante a puberdade, gestação e menopausa. A fisiopatologia do lipedema envolve inflamação, acúmulo de macrófagos, necrose tecidual e hipoxia local. Além disso, a fibrose e a disfunção mitocondrial são comuns nessa condição. 

Esta condição é classificada em cinco tipos com base na distribuição do tecido adiposo lipoedematoso e em quatro estágios com base na gravidade da doença.  Pode causar dor, edema e sensibilidade, sendo frequentemente confundida com outras condições mais comuns, como obesidade, lipodistrofia ginóide e linfedema. 

O diagnóstico do lipedema é essencialmente clínico, sendo definido como acúmulo desproporcional e simétrico de gordura nos membros inferiores, acompanhada de queixas de edema ortostático e frequentemente de dor. Exames de imagem como ultrassonografia, ressonância magnética e tomografia computadorizada podem confirmar o diagnóstico. 

Abordagem Nutricional para Identificação de Lipedema 

Uma abordagem nutricional eficaz começa com uma anamnese detalhada, que inclui perguntas relacionadas a hereditariedade para lipedema, menarca, tratamentos hormonais, gestações e menopausa, hábito intestinal, presença de edema, dor, sensibilidade ao toque, dor articular, hematoma, dificuldade de emagrecimento, além de outras questões relacionadas ao histórico de doenças, deficiências nutricionais, cirurgias e procedimentos estéticos, rotina diária (alimentação, trabalho, atividade física), uso de medicamentos e suplementos, qualidade do sono, alergias e intolerâncias alimentares e alterações de humor ou distúrbios de imagem. 

Além disso, a solicitação de exames laboratoriais é essencial para avaliar deficiências nutricionais e monitorar marcadores inflamatórios e oxidativos, como hemograma completo, relação neutrófilo/linfócito, creatinina, sódio, ureia, selênio Vitamina D, PCR, ácido úrico, fator plaquetário 4 e entre outros. 

Estratégias Nutricionais para o Manejo do Lipedema 

Uma dieta equilibrada e saudável pode ser benéfica no gerenciamento do lipedema. Embora não exista uma dieta específica para o lipedema, a redução do consumo de alimentos processados, açúcares, gorduras saturadas e aumento no consumo de alimentos antioxidantes e anti-inflamatórios pode ajudar a controlar o peso, reduzir a inflamação associada à condição e melhorar a qualidade de vida das pacientes. 

Além disso, as estratégias terapêuticas conservadoras para o lipedema focam na redução dos sintomas, prevenção de complicações e progressão da doença, sendo essencial encontrar uma abordagem dietética que promova a perda de peso e redução de massa gorda nas áreas afetadas, como os membros inferiores, além de diminuir a dor causada pelo edema ortostático e a inflamação do tecido subcutâneo. 

O tratamento nutricional para lipedema envolve uma dieta cetogênica inspirada na dieta mediterrânea, com baixa ingestão de carboidratos, sal e açúcares simples, sem alimentos processados e rica em alimentos antioxidantes como peixes oleosos, nozes e azeite de oliva extravirgem, que possuem um efeito anti-inflamatório e alimentos antioxidantes, como vitaminas C, D e E. 

Ademais, como parte do tratamento nutricional, outras estratégias podem ser benéficas, como tratar o intestino e carências nutricionais, trabalhar a destoxificação do estrogênio e redução de edema, inflamação (mitocôndria e estresse oxidativo), dores e alterações articulares, saúde da pele e redução de fibrose. 

Soma-se a isso, manter uma ingestão de água em 35 ml/kg/dia para uma boa hidratação, consumo de fibras em 30g/dia para melhorar a função intestinal e utilização de PEG 4000 para obstipação, 2 a 4g/dia de chlorella, glutamina e probiótico também são recomendados para auxiliar nos sintomas de pacientes com lipedema. 

Em conclusão, o manejo do lipedema exige uma abordagem complexa, com a nutrição desempenhando um papel fundamental na redução dos sintomas e na melhoria da qualidade de vida. Embora não exista uma dieta específica para o lipedema, uma alimentação balanceada, rica em antioxidantes e anti-inflamatórios, aliada a estratégias para redução de inflamação e suporte à função intestinal, pode ser altamente benéfico no manejo dessa condição. 

Este artigo teve como inspiração na palestra Lipedema: conduta nutricional, prescrição e tratamento, realizada pela nutricionista Luisa Wolpe, no Momento Nutrir. 

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Artigo: Exames laboratoriais: abordagem no cuidado da saúde da mulher 

Masterclass: Saúde da mulher, as principais demandas e protocolos  

Referências Bibliográficas 

  • Amato ACM, Amato FCM, Amato JLS, Benitti DA. Lipedema prevalence and risk factors in Brazil. J Vasc Bras. 2022 May 23;21:e20210198. doi: 10.1590/1677-5449.202101981. 
  • Cunha Senra Barros, Bernardo & Barros, Carolina & Dionisyo, Ana & Guertzenstein, Solange & Marques, Marcos & Lewandrowski, Kai-Uwe & Fiorelli, Stênio & Fiorelli, Rossano. (2023). Lipedema: Um Desafio Clínico. CADERNOS BRASILEIROS DE MEDICINA. 36. 1-91. 
  • Laura Di Renzo, Gualtieri P, Samanta Zomparelli, Lou G, Seraceno S, Zuena C, et al. Modified Mediterranean-Ketogenic Diet and Carboxytherapy as Personalized Therapeutic Strategies in Lipedema: A Pilot Study. Nutrients. 2023 Aug 20;15(16):3654–4. 
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