3 mitos sobre Colesterol: Um guia para nutricionistas

O colesterol é fundamental para o funcionamento adequado do organismo humano, pois está presente nas membranas celulares, auxilia na produção […]


O colesterol é fundamental para o funcionamento adequado do organismo humano, pois está presente nas membranas celulares, auxilia na produção de hormônios e vitamina D, além de participar do processo digestivo. No entanto, ele pode se tornar um fator de risco significativo para doenças cardiovasculares, como a aterosclerose, quando não é carregado adequadamente pelo corpo. Como nutricionistas, compreender os mitos e verdades em torno do colesterol é essencial para oferecer orientações adequadas e embasadas cientificamente aos pacientes, especialmente em tempos de tanta desinformação espalhada pela internet (e fora dela!).

“COLESTEROL É RUIM” – MITO

Só existe um colesterol (e ele é bom!). Trata-se de um composto químico pertencente ao grupo dos álcoois, apresentando uma textura e aparência semelhantes a uma cera gordurosa. Embora tenha uma reputação negativa, é indispensável para o funcionamento adequado do organismo e por ser insolúvel em meios aquosos, depende de condução por meio de lipoproteínas – essas sim, geralmente, classificadas entre “boas” e “ruins”, a depender de sua densidade e função:

O LDL colesterol, lipoproteína de baixa densidade, é responsável por transportar o colesterol para as células, podendo causar o depósito em excesso nas artérias, formando placas que aumentam o risco de doenças cardiovasculares, como o infarto e o derrame, em um processo denominado aterosclerose. Por essa razão, o LDL é popularmente conhecido como “mau colesterol”, e manter seus níveis baixos é recomendado.

Já o HDL, lipoproteína de alta densidade, desempenha a importante função de remover o colesterol das células, permitindo sua eliminação. Ele contribui para evitar o entupimento das artérias, sendo denominado como “bom colesterol”. É recomendável manter seus níveis altos para promover uma saúde cardiovascular adequada.

O consumo direto de colesterol, outrora fortemente desaconselhado, já não figura entre as principais diretrizes das sociedades médicas, uma vez que não há evidência o suficiente que o associe com doenças cardiovasculares. Apoiando-se em tal premissa, as regras atuais de rotulagem no Brasil já não trazem mais a necessidade de descrição da quantidade de colesterol dos alimentos industrializados (o que, a parte da discussão sobre colesterol, também serve como reflexão e reconhecimento sobre a flutuação de conhecimentos e evidências científicas – característica essencial para ser um bom comunicador em saúde, como todo nutricionista é.).

Assim, o que irá regular a elevação (ou diminuição) dos níveis de colesterol não será necessariamente a sua ingestão direta, mas sim a expressão das lipoproteínas que o carregam – e a proporção entre elas.

“O CONSUMO DE GORDURA AUMENTA O COLESTEROL” – MITO

Avaliando a dieta de 135 mil pessoas, distribuídas em 18 países, um importante estudo mostrou que um maior consumo de gorduras (35% das calorias totais ingeridas em um dia) está relacionado a uma menor mortalidade, quando comparado a um menor consumo (10% das calorias totais ingeridas em um dia) – dessa forma, a cega condenação de todo e qualquer tipo de gordura mostra-se um ato de desconhecimento e irresponsabilidade.

Diversos trabalhos já mostram que as gorduras saturadas, de fato, são responsáveis pela elevação da expressão do LDL – enquanto as gorduras monoinsaturadas e, especialmente, as gorduras poli-insaturadas não afetam esta expressão. Todavia, algumas considerações sobre estas colocações devem ser feitas, a fim de evitar condutas e orientações perigosas:

As gorduras saturadas não são iguais entre si: aquelas encontradas em carnes e no óleo de coco estão mais relacionadas com a expressão do LDL, enquanto que o leite apresenta em maior quantidade um tipo de gordura saturada que não altera os níveis de LDL;

Não há garantia que uma dieta livre de carnes (seja vegana ou vegetariana) seja uma opção melhor quando o assunto é colesterol – uma vez que a exclusão de um grupo de alimentos torna mais difícil que a alimentação seja balanceada (no mundo das pessoas reais, que trabalham e tem pouco tempo para comer e cozinhar);

Ao contrário das gorduras saturadas, as gorduras trans realmente apresentam um perigo – já que além de aumentar a expressão de LDL também são responsáveis por diminuir a expressão de HDL. Amplamente presentes nos produtos industrializados (inclusive naqueles destinados a vegetarianos e veganos), este é o único tipo de gordura que deve ser evitado de fato.

“APENAS PESSOAS GORDAS PRECISAM SE PREOCUPAR COM O COLESTEROL” – MITO

Embora o excesso de peso seja um fator de risco para o colesterol elevado (a depender da localização do acúmulo de gordura), pessoas eutróficas também podem apresentar níveis elevados de colesterol LDL. A genética, o comportamento alimentar, o tabagismo e a atividade física desempenham um papel importante nos níveis de colesterol, e é fundamental que exames periódicos sejam feitos para monitorar esses valores. Mudanças no estilo de vida (independentemente do peso) são fundamentais no controle do colesterol e mesmo assim, em muitos casos, podem não ser o suficiente e intervenções medicamentosas podem ser necessárias para evitar desfechos desfavoráveis a saúde.

Em tempos de desinformação generalizada, a informação também será uma poderosa aliada no controle do colesterol – não só por prevenir, diretamente, condutas equivocadas, mas também por propiciar saúde e qualidade de vida em todos os sentidos.

  • REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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