Intestino inflamado, paciente irritado: Orientações para os principais distúrbios intestinais

Frequentemente chamado de segundo cérebro, devido à sua capacidade de se comunicar diretamente com o sistema nervoso central e afetar […]


Frequentemente chamado de segundo cérebro, devido à sua capacidade de se comunicar diretamente com o sistema nervoso central e afetar diretamente o humor e o bem-estar mental (saiba mais), o intestino é uma parte crucial do sistema digestivo humano, responsável pela absorção de nutrientes vitais para a saúde e bem-estar e manutenção do sistema imunológico. Por estar em constante atividade, o intestino é muito suscetível a problemas – seja por questões genéticas ou pelo modo de vida que adotamos hoje – sendo, então, fundamental para o nutricionista reconhecer os principais distúrbios e saber como melhor orientar o paciente.  Entre os distúrbios intestinais mais comuns, destacam-se: a Síndrome do intestino irritável (SII), que compreende principalmente a Doença de Crohn e a Colite ulcerativa; Diverticulite; Hemorroidas; e Câncer colorretal (já aprofundado neste artigo).  Síndrome do intestino irritável (SII), Doença de Crohn e Colite Ulcerativa A SII é um distúrbio funcional crônico do intestino. É caracterizada por uma combinação de sintomas, incluindo dor abdominal, inchaço, diarreia e/ou constipação, que podem se estender por meses e anos (dá para entender porque não é só intestino que fica irritado nesta situação, né?). A causa exata da SII ainda não foi determinada, mas sabe-se que uma combinação de fatores favorece o seu desenvolvimento, incluindo problemas de motilidade do cólon, sensibilidade visceral e fatores psicológicos (Rodiño-Janeiro et al., 2018; Weber et al., 2022).  Uma revisão de estudos ao redor do mundo encontrou a prevalência média global de SII, entre adultos, de 8,8% – mas com uma enorme variação entre as regiões (cerca 1% para a França e 35% para o México), destacando como as diferenças culturais e genéticas que podem afetar a incidência da doença em diferentes populações. (Sperber et al., 2017).  No âmbito hospitalar, com a doença em níveis mais graves, mais de 90% dos indivíduos podem apresentar desnutrição. O que acontece especialmente por conta da inflamação, das lesões no intestino e a dificuldade de absorção (Sök��lmez et al., 2014; Kobayashi et al., 2020; Aslam et al., 2022).   A principal recomendação nutricional é evitar alimentos que desencadeiam os sintomas, o que irá variar de pessoa a pessoa, mas pode incluir lactose, frutose, alimentos ricos em gordura, alimentos apimentados e fibras insolúveis (Camilleri, 2021; Xiang et al., 2022). Mas com tantos modismos e propagandas de medicamentos, é importante ficar atento se existe realmente alguma consequência negativa relacionada a alguma substância, como por exemplo a lactose, ou se é apenas uma percepção enviesada do paciente – inclusive um estudo espanhol aponta que a restrição de produtos lácteos e fibras piorou os sintomas de pacientes em um centro de tratamento (Lopes et al., 2014).  A Associação Americana de Gastroenterologia (AGA) também destaca a importância da atenção aos alimentos que podem causar gases, o que pode agravar a intensidade dos sintomas na SII. Aponta-se o feijão, brócolis e cebola como principais pontos de atenção – mas, novamente, é importante um acompanhamento individualizado, uma vez que cada alimento pode ter diferentes efeitos para cada pessoa (Manning L, 2021). Casos graves de Doença de Crohn podem requerer o tratamento por meio da nutrição enteral exclusiva por um período de 6 a 12 semanas, a depender da avaliação médica. Entretanto, ainda que seja uma estratégia não medicamentosa que traga uma suavização importante dos sintomas, cansaço e fome serão efeitos colaterais inevitáveis de se considerar na avaliação multiprofissional (Gajendran et al., 2018; Schuchmann C, 2021). Diverticulite e hemorroidas Ainda que pouco comentada (especialmente por quem é acometido por essas condições), a diverticulite as hemorroidas são importantes alterações na porção final do trato gastrointestinal que podem ser (muito) influenciadas pelo comportamento alimentar, e logo, podem contar com a ajuda do nutricionista.  A diverticulite é uma inflamação ou infecção dos divertículos (pequenas bolsas que se formam na parede do intestino grosso), causa especialmente por um intestino com atividade lentificada. Os sintomas compreendem dor abdominal intensa, febre, náusea, vômito e alterações no funcionamento do intestino. Sempre com acompanhamento médico, a diverticulite pode ser tratada, em geral, com antibióticos e, em casos graves, com cirurgia (Peery et al., 2021).  As hemorroidas são manifestações inflamatórias similares que ocorrem na região retal e anal, causando dor, sangramento e desconforto. A sua principal, tão como a diverticulite, é a constipação. O tratamento costuma ser tópico com uso de cremes ou supositórios que, quando ineficazes, podem levar a necessidade de uma ação cirúrgica (Sun et al., 2016).  Com um paciente nestas condições (uma, outra ou ambas), o objetivo do nutricionista será reduzir a inflamação e prevenir a recorrência dos sintomas. A combinação de água+fibras solúveis nunca foi tão essencial e mais do que recomendar a hidratação e alguns alimentos, é importante encontrar estratégias que estimulem a perpetuação destas práticas – inclusive exercícios para a maior percepção da sede.  Em síntese, a atenção ao trato gastrointestinal é crucial tanto para o público em geral quanto para os profissionais da saúde, já que a relação direta entre a alimentação e o funcionamento do intestino é evidente, embora muitas vezes não seja levada em conta. O nutricionista desempenha um papel essencial no tratamento e prevenção dos diversos distúrbios intestinais, utilizando uma abordagem nutricional e comportamental adequada e individualizada. Cada indivíduo apresenta características e necessidades únicas, portanto, recomendações generalizadas podem não ser eficazes – e podem inclusive trazer consequências indesejadas. Assim, é fundamental que haja atenção individualizada em primeiro lugar para obter resultados positivos para a saúde e melhor qualidade de vida para pacientes com problemas intestinais, sejam eles crônicos ou pontuais. Saúde Intestinal é um tema que tem estado cada vez mais em pauta, e por isso é fundamental acompanhar as tendências e se manter atualizado. E para continuar nessa missão, confira mais esses dois conteúdos:Disbiose intestinal e transtornos psíquicos: a comunicação entre microbiota e cérebroExistem benefícios no uso dos probióticos BB12 bifidobacterium animalis? Referências Bibliográficas  aslam N, Lo SW, Sikafi R, Barnes T, Segal J, Smith PJ, Limdi JK. A review of the therapeutic management of ulcerative colitis. Therap Adv Gastroenterol. 2022 Nov 29;15:17562848221138160. Camilleri M. Diagnosis and Treatment of Irritable Bowel Syndrome: A Review. JAMA. 2021 Mar 2;325(9):865-877. Gajendran M, Loganathan P, Catinella AP, Hashash JG. A comprehensive review and update on Crohn’s disease. Dis Mon. 2018 Feb;64(2):20-57. Kobayashi, T., Siegmund, B., Le Berre, C. et al. Ulcerative colitis. Nat Rev Dis Primers 6, 74 (2020). Lopes, M. B., Rocha, R., Lyra, A. C., Oliveira, V. R., Coqueiro, F. G., Almeida, N. S., … & Santana, G. O. (2014). Restriction of dairy products; a reality in inflammatory bowel disease patients. Nutricion hospitalaria, 29(3), 575-581. Manning L. What is the diet?. American Gastroenterological Association (2021). Disponível em: https://patient.gastro.org/ibd-diet-tips/ Peery AF, Shaukat A, Strate LL. AGA Clinical Practice Update on Medical Management of Colonic Diverticulitis: Expert Review. Gastroenterology. 2021 Feb;160(3):906-911.e1. Rodiño-Janeiro BK, et al. A Review of Microbiota and Irritable Bowel Syndrome: Future in Therapies. Adv Ther, 2018; 35(3):289-310. Schuchmann C. Crohn’s disease: exclusive enteral nutrition. American Gastroenterological Association (2021). Disponível em: https://patient.gastro.org/exclusive-enteral-nutrition-een-for-crohns-disease/ Sökülmez P, Demirbağ AE, Arslan P, Dişibeyaz S. Effects of enteral nutritional support on malnourished patients with inflammatory bowel disease by subjective global assessment. Turk J Gastroenterol. 2014 Oct;25(5):493-507. Sperber AD, Dumitrascu D, Fukudo S, et alThe global prevalence of IBS in adults remains elusive due to the heterogeneity of studies: a Rome Foundation working team literature reviewGut 2017;66:1075-1082. Sun Z, Migaly J. Review of Hemorrhoid Disease: Presentation and Management. Clin Colon Rectal Surg. 2016 Mar;29(1):22-9. Weber J. B., Weber C. de S. B., & Ferraz A. R. (2022). Síndrome do Intestino Irritável: uma revisão de literatura. Revista Eletrônica Acervo Médico, 18, e11009. Xiang Q, Tang X, Cui S, Zhang Q, Liu X, Zhao J, Zhang H, Mao B, Chen W. Capsaicin, the Spicy Ingredient of Chili Peppers: Effects on Gastrointestinal Tract and Composition of Gut Microbiota at Various Dosages. Foods. 2022 Feb 25;11(5):686. 


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