Depressão e Ansiedade: Novas Demandas na Prática Clínica

Nutrição no tratamento da ansiedade e depressão: como a alimentação influencia a saúde mental e pode ser aliada no controle desses transtornos emocionais


A depressão e a ansiedade são, sem dúvida, dois dos maiores desafios emocionais enfrentados pela sociedade atual, afetando mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Ambas as condições têm impacto direto na vida cotidiana, prejudicando atividades como trabalho, estudos, sono e a capacidade de aproveitar as experiências diárias. Para entender melhor como esses transtornos afetam as pessoas e como a nutrição pode desempenhar um papel importante no tratamento, foi interessante o bate-papo com o nutricionista Malek Toum durante o evento Orgulho em Nutrir, em parceria com a Natural Tech.

Conexão entre Nutrição e Saúde Mental

O nutricionista Malek Toum destacou a importância de desenvolver uma conexão verdadeira com o paciente, o que é essencial para entender não apenas suas necessidades nutricionais, mas também o seu estado emocional e comportamental. Para isso, ele propôs algumas estratégias fundamentais para a prática clínica de nutrição:

  1. Estabelecer um relacionamento próximo com o paciente: A base de qualquer atendimento de sucesso é o vínculo e a confiança. Isso permite que o paciente compartilhe de forma mais aberta suas dificuldades emocionais e alimentares.
  2. Realizar uma anamnese completa: Entender a história de vida do paciente, seus hábitos alimentares e a relação que ele tem com a comida é crucial para um plano de intervenção eficaz.
  3. Recordatório alimentar: Saber como o paciente se alimenta é fundamental para avaliar a qualidade da dieta e identificar possíveis deficiências nutricionais ou comportamentos alimentares prejudiciais.
  4. Exames bioquímicos: Através de exames laboratoriais, é possível identificar possíveis deficiências de vitaminas e minerais, como o magnésio, vitamina D ou vitaminas do complexo B, que podem estar associados a problemas emocionais, como ansiedade e depressão.

O Papel da Nutrição no Tratamento da Ansiedade e Depressão

A nutrição tem um papel fundamental no tratamento da ansiedade e depressão, mesmo que o trabalho seja multidisciplinar e envolva médicos e psicólogos. Malek Toum ressaltou que o comportamento alimentar dos pacientes pode ser profundamente afetado por suas condições emocionais. O que o paciente come, como se alimenta e a frequência das refeições têm impacto direto em seu estado mental. Desvios alimentares, como desequilíbrios nutricionais, dietas restritivas e padrões alimentares desregulados, podem agravar ou até mesmo desencadear condições de ansiedade e depressão.

A Influência dos Neurotransmissores

Neurotransmissores, como a serotonina, desempenham um papel importante no controle da ansiedade. A serotonina é conhecida como o “hormônio da felicidade”, e sua produção está diretamente relacionada à dieta. A serotonina é sintetizada a partir do triptofano, um aminoácido presente em alimentos, especialmente de origem animal e vegetal.

Alguns alimentos que favorecem a produção de serotonina incluem:

  • Arroz integral
  • Aveia
  • Peixes (como salmão e atum)
  • Amendoim, nozes e castanhas
  • Leite e queijo
  • Banana e abacate
  • Leguminosas (como feijão e lentilha)
  • Tofu e linhaça
  • Mel

Esses alimentos são fontes importantes de nutrientes que auxiliam na produção de serotonina e outros neurotransmissores essenciais, promovendo o controle da ansiedade e melhora do humor.

Como Montar um Plano Alimentar para Pacientes com Ansiedade ou Depressão?

A criação de um plano alimentar para pacientes que enfrentam ansiedade ou depressão exige a combinação de todas as informações coletadas durante a consulta e a avaliação nutricional. O nutricionista deve:

  1. Identificar deficiências nutricionais: O plano alimentar deve suprir as deficiências de nutrientes, como vitaminas e minerais, essenciais para o funcionamento adequado do cérebro e a regulação do humor.
  2. Priorizar alimentos ricos em triptofano: Incluir fontes alimentares que estimulem a produção de serotonina e favoreçam o equilíbrio emocional.
  3. Evitar alimentos processados e ricos em açúcares refinados: Esses alimentos podem contribuir para a inflamação e desequilíbrio hormonal, agravando os sintomas de depressão e ansiedade.
  4. Orientar sobre a frequência das refeições: Comer de forma equilibrada e regular ajuda a evitar picos de glicemia, que podem afetar o humor e a disposição emocional.
  5. Considerar a personalização do plano alimentar: O nutricionista deve sempre levar em conta as necessidades e preferências individuais do paciente, adaptando a dieta conforme o estilo de vida, preferências alimentares e estado emocional.

Não existe saúde sem saúde mental, e a nutrição tem um papel central nesse processo. O atendimento nutricional deve ser holístico, considerando não apenas as necessidades alimentares, mas também os aspectos emocionais e psicológicos dos pacientes. A nutrição personalizada, com foco em alimentos que favorecem a produção de neurotransmissores como a serotonina, pode ser uma aliada importante no controle e no tratamento de condições como depressão e ansiedade.

A integração entre nutricionistas, psicólogos e médicos é essencial para um tratamento completo e eficaz, sempre com base em embasamento científico e no bem-estar do paciente.

Referências

  • ARAÚJO, A. S. F.; VIEIRA, I. N. U.; SILVA, J. N. F.; FARIA, S. P.; NUNES, G. L.; KHOURI, A. G.; SOUZA, A. P. S.; MORAIS, M. C.; SILVEIRA, A. A. Avaliação do consumo alimentar em pacientes com diagnóstico de depressão e/ou ansiedade. Revista Referencias em Saúde da Faculdade Estácio de Sá de Goiás – RRS-FESGO. Goiás. Vol.03, n.1, pp. 18-26, jan./jul. 2020.
  • BERNIK, Vladimir; LOPES, Katrini Vianna. Estresse, depressão e ansiedade. RBM rev. bras. med, v. 68, n. 3 n. esp, 2011;3 – https://www.paho.org/pt/topicos/depressao  
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