A cirurgia bariátrica tem se tornado uma intervenção cada vez mais comum à medida que a obesidade atinge proporções epidêmicas, visto que é um procedimento que promove uma perda de peso substancial, com resultados que podem persistir por toda a vida do paciente.
Dessa forma, a cirurgia bariátrica contribui significativamente para a melhora das comorbidades relacionadas à obesidade e para a redução da mortalidade.
Os candidatos à cirurgia são geralmente aqueles que não obtiveram sucesso com métodos de perda de peso menos invasivos, como a dieta e exercício físico. As técnicas cirúrgicas podem ser restritivas, disabsortivas ou ambas, como o bypass gástrico, gastrectomia vertical e banda gástrica¹.
Cuidados pré-operatórios
A preparação para a cirurgia bariátrica envolve um comprometimento significativo do paciente com mudanças de estilo de vida, que incluem seguir as orientações médicas e nutricionais rigorosamente³.
Muitos pacientes, devido às alterações metabólicas e comportamentais associadas à obesidade, apresentam uma alimentação pré-operatória inadequada com várias deficiências nutricionais, o que demanda uma atenção especial na correção desses desequilíbrios. Por exemplo, micronutrientes como ferro, vitamina D, vitamina B12 e cálcio são as deficiências mais comumente encontradas, e podem impactar negativamente os resultados cirúrgicos².
O acompanhamento com o paciente é crucial, visto que é necessário estabelecer um plano alimentar adequado para que o organismo esteja preparado para a cirurgia. A adesão a uma dieta de baixa caloria rica em proteínas nas semanas que antecedem a intervenção é recomendada para reduzir o tamanho do fígado e minimizar o risco durante o procedimento. A dieta deve ser cuidadosamente planejada para atender às necessidades nutricionais sem comprometer o estado nutricional, por isso o nutricionista deve trabalhar em estreita colaboração com o paciente para garantir a adesão e ajustar a dieta conforme necessário¹.
Além disso, a suplementação na fase pré é vital para equilibrar os nutrientes e prevenir complicações durante e após a cirurgia. A anemia por deficiência de ferro é uma das carências de micronutrientes mais frequentes, afetando entre 12% e 47% dos pacientes após procedimentos que resultam em mal absorção⁴.
Adicionalmente, esta deficiência já pode ser encontrada em até 44% dos adultos antes mesmo da realização da cirurgia bariátrica. Esta condição pode estar associada à inflamação crônica de baixo grau, comum na obesidade, que provoca a liberação de hepcidina, que por sua vez, bloqueia as proteínas responsáveis pela absorção de ferro, exacerbando o déficit desse nutriente⁴.
Cuidados nutricionais pós-operatórios
Após a cirurgia, o trato digestivo é significativamente alterado, o que resulta na dificuldade de absorção de nutrientes essenciais como macronutrientes, ferro, e vitaminas lipossolúveis. A redução da área de absorção devido à ressecção de partes do estômago e do intestino delgado limita o contato dos alimentos com as enzimas digestivas e a borda em escova, essencial para a absorção de nutrientes².
A transição da dieta pós-cirurgia bariátrica é um processo estratégico e gradativo, essencial para a recuperação e sucesso a longo prazo do paciente. Inicialmente, a dieta é líquida, composta principalmente por água, caldos, sucos diluídos sem açúcar e gelatinas. Esta fase dura geralmente de uma a duas semanas e visa minimizar o estresse sobre as suturas estomacais e garantir a hidratação adequada².
Segue-se uma fase de alimentos pastosos, que inclui purês de frutas, vegetais cozidos e carnes muito macias. Este estágio ajuda o paciente a se adaptar gradualmente a texturas mais complexas sem causar desconforto ou obstrução ao estômago recém-modificado².
Após algumas semanas, o paciente pode começar a reintroduzir alimentos sólidos, começando com proteínas facilmente digeríveis como frango ou peixe cozido. A progressão para uma dieta mais sólida ocorre geralmente entre quatro e seis semanas após a operação e deve ser rica em proteínas e baixa em carboidratos simples, gorduras e fibras não solúveis, para evitar o dumping syndrome, uma condição comum pós-cirurgia que causa náuseas, vômitos e diarreia quando o alimento é esvaziado no intestino delgado rapidamente demais².
A adesão a este regime dietético não só promove a cicatrização adequada, mas também maximiza a perda de peso e facilita a adaptação a novos hábitos alimentares que serão fundamentais para a manutenção do peso a longo prazo¹.
Cumprir com as recomendações de suplementação também é fundamental para evitar deficiências nutricionais pós-operatórias. Estudos indicam que a adesão média à suplementação vitamínica é de apenas 29,8% nos seis meses após a cirurgia. O monitoramento contínuo do estado nutricional é vital para detectar e tratar precocemente qualquer deficiência que possa se desenvolver nos anos seguintes¹.
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Guia Nutricional Para Pacientes Bariátricos
Referências Bibliográficas
- Linhares MR et al. Os desafios para absorção de nutrientes no paciente bariátrico: análise abrangente de literatura. Studies in Health Sciences. 2024; v.5 (n.1): 378-397.
- Donha GSF, Almeida DC. Nutritional deficiencies in bariatric patients: literature review. J Health Sci Inst. 2023;41(1):37-41
- Ferraro DR, Management of the bariatric surgery patients: lifelong postoperative care. Clinical Reviews 2004; 14(2): 73-9
- Neves OSR. Evolução da composição corporal e indicadores de anemia de doentes obesos submetidos a cirurgia bariátrica. Porto: Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação, Universidade do Porto; 2015.
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