Em 2012, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu um conjunto de seis metas globais para a nutrição a serem alcançadas até 2025. Tais metas focam na saúde materno-infantil e foram descritas como essenciais para reduzir a desnutrição e suas consequências para milhões de pessoas ao redor do mundo.
Em 2013, acrescentou-se uma nova meta pensando em adultos de forma mais ampla. E em 2017, as seis metas originais foram revisadas e o “prazo” foi estendido até 2030 – mas o que exatamente isto significa?
Entenda para que servem as metas globais para a Nutrição e como os nutricionistas podem se envolver com estas questões.
Quais são as metas globais para a nutrição?
Redução de 50% no número de crianças menores de 5 anos com atraso no crescimento
O atraso no crescimento infantil (baixa estatura para a idade) continua sendo um problema global, afetando 161 milhões de crianças mundialmente no último levantamento. Estima-se que o atraso no crescimento leve à perda de desenvolvimento físico e cognitivo, com implicações de longo prazo.
Em 2016, um estudo em 137 países identificou que a restrição do crescimento fetal e o saneamento inadequado são os principais fatores associados ao atraso no crescimento.
Redução para 3% na desnutrição infantil mundial
A desnutrição infantil afeta um grande número de crianças, com uma prevalência estimada em 7,5% globalmente. Em certas regiões, a prevalência é maior, como na África Subsaariana, onde a desnutrição aguda chega a 18% em alguns países.
Redução para 3% no sobrepeso infantil mundial
A prevalência global de sobrepeso ou obesidade em crianças menores de 5 anos é um problema crescente. Em um estudo, a prevalência global foi estimada em 5,3%. Em algumas regiões (incluindo o Brasil), a coexistência de desnutrição e sobrepeso é preocupante, exigindo estratégias de intervenção específicas para lidar com ambos os extremos do espectro nutricional.
Redução de 50% na anemia em mulheres em idade reprodutiva
A anemia continua sendo uma grande preocupação de saúde global, afetando uma média de 29,4% das mulheres em idade reprodutiva mundialmente.
Em países de baixa e média renda, a prevalência é ainda maior, com variações regionais significativas. Em países do sudeste asiático, como as Maldivas, a prevalência pode chegar a 63%. Estima-se que apenas três países de baixa e média renda têm uma probabilidade elevada de atingir a meta de redução da anemia pela metade até 2030
Reduzir em 30% o número de crianças com baixo peso ao nascer
Globalmente, no último relatório, a prevalência de baixo peso ao nascer foi estimada em 14,6%, com aproximadamente 20,5 milhões de nascimentos afetados, sendo 91% desses em países de baixa e média renda. As regiões mais afetadas foram a Ásia Meridional (48%) e a África Subsaariana (24%).
Fatores como nutrição materna inadequada, falta de cuidados pré-natais e condições socioeconômicas desempenham papéis importantes na prevalência do baixo peso ao nascer.
Aumentar para 70% a taxa de amamentação exclusiva nos primeiros seis meses de vida
A amamentação exclusiva durante os primeiros seis meses é fundamental para a saúde e o desenvolvimento do bebê. Atualmente, a prevalência global da amamentação exclusiva varia, com alguns países alcançando taxas de até 60%, enquanto outros apresentam níveis bem mais baixos.
Um maior incentivo à amamentação é necessário, uma vez que práticas inadequadas de alimentação infantil podem contribuir para a desnutrição e o aumento de doenças.
Interromper o crescimento das taxas de obesidade na idade adulta
A prevalência da obesidade em adultos tem aumentado globalmente. Entre 1980 e 2013, a proporção de adultos com IMC igual ou superior a 25 aumentou de 28,8% para 36,9% nos homens e de 29,8% para 38% nas mulheres.
Em 2015, estima-se que 603,7 milhões de adultos eram obesos, e se as tendências continuarem, a obesidade global pode chegar a 18% nos homens e mais de 21% nas mulheres até 2025.
Qual o nosso papel nas metas globais para nutrição?
A definição de metas por organizações mundiais serve como um norte para que governos, profissionais de saúde, empresas e a sociedade se alinhem em torno de um objetivo comum.
Na prática, isso significa orientar políticas públicas para criar programas de segurança alimentar e campanhas educativas, direcionar investimentos para agricultura e produção de alimentos, e mobilizar a sociedade para agir em prol de si mesma.
Além disso, incentiva pesquisas em nutrição e novas tecnologias, promovendo inovação e estratégias mais efetivas. Mais do que um objetivo por si só, as metas facilitam o monitoramento e a avaliação do progresso, tornando governos e setores privados mais responsáveis e prontos para ajustar suas ações conforme necessário.
As metas globais de nutrição para 2025 — agora estendidas para 2030 — representam uma esperança para um mundo melhor, mas também expõem a dura realidade de nossos sistemas alimentares falidos e a falta de compromisso coletivo com a solução de problemas globais.
Nós, nutricionistas, precisamos nos perguntar: qual é o nosso verdadeiro papel nesse cenário? Será que estamos dispostos a olhar ao nosso redor e para buscar pequenas ações que contribuam para um cenário maior?
Texto por Felipe Daun: nutricionista, mestre e doutorando pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Aprimorando em Transtornos Alimentares pelo AMBULIM IPq-FMUSP. Professor do Instituto Nutrição Comportamental e colaborador da Academia da Nutrição.
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