O leite materno é amplamente reconhecido por seus benefícios que o classificam como o “padrão ouro” na alimentação infantil, incluindo o fornecimento dos nutrientes essenciais para o crescimento saudável do bebê, a promoção da imunidade, e o fortalecimento do vínculo afetivo entre mãe e filho. Essas vantagens são bem conhecidas e destacadas por profissionais de saúde ao redor do mundo.
No entanto, algumas pesquisas têm revelado uma série de benefícios adicionais do aleitamento materno que vão muito além dessas características amplamente divulgadas.
A seguir, explore tais descobertas e adquira uma visão mais abrangente e profunda sobre os efeitos surpreendentes e menos discutidos do leite materno na saúde materno-infantil.
- Promoção da inteligência
Um estudo com mais de 400 crianças, acompanhadas ao longo de 7 anos, encontrou uma associação positiva entre a amamentação exclusiva e o aumento do QI. As crianças foram submetidas a testes psicométricos regulares desde a infância até a idade pré-escolar – em cinco pontos diferentes do tempo.
Os resultados mostraram que crianças amamentadas exclusivamente por até três meses tinham QIs, em média, 2 pontos mais altos em comparação com outras crianças. Para aquelas amamentadas por 4-6 meses, a vantagem foi de aproximadamente 2,5 pontos, e para as amamentadas por mais de seis meses, o aumento foi de quase 4 pontos – diferença pequena, mas estatisticamente significativa.
Os mecanismos propostos para explicar essa relação incluem a boa nutrição fornecida pelo do leite materno e a interação mãe-bebê: boa parte do crescimento cerebral acontece no primeiro ano de vida, onde áreas chaves para o neurodesenvolvimento precisam se consolidar – e o aleitamento materno exclusivo garante os nutrientes necessários para este fim; além disso, com o aleitamento materno exclusivo há uma garantia de várias horas de interação social significativa nos primeiros meses de vida, com trocas de olhares e falas da m��e, que irão fomentar o desenvolvimento psicossocial e sensorial da criança – o que contribuirá diretamente para o seu desenvolvimento.
- Menor risco de obesidade
Diversos estudos sugerem que bebês que são amamentados exclusivamente com leite materno recebem leptina diretamente através do leite materno, hormônio crucial para a regulação do apetite e do equilíbrio energético:
Um estudo conduzido por Andrews et al. (2019) analisou 40 pares de mães e bebês, medindo a concentração de leptina no leite materno e observando a composição corporal dos bebês ao longo do tempo. Este estudo encontrou que níveis mais altos de leptina no leite estavam associados a um aumento da massa magra nos bebês durante o primeiro ano de vida.
Concomitantemente, Chatmethakul et al. (2022) realizaram um estudo com bebês prematuros, utilizando um desenho de crossover para comparar os efeitos do leite materno fresco versus o leite doador. Eles descobriram que os níveis de leptina no sangue dos bebês correlacionavam-se com os níveis de leptina no leite materno, sugerindo que a leptina do leite materno pode ser absorvida pelos bebês e contribuir para a regulação energética desde o início da vida.
- Uma fonte de células-tronco
As células-tronco do leite materno podem sobreviver ao ambiente ácido do trato gastrointestinal do bebê e integrar-se ao sistema circulatório. Essas células podem se diferenciar em vários tipos celulares funcionais, incluindo neurônios e células produtoras de insulina, sugerindo um papel no desenvolvimento saudável e na prevenção de doenças metabólicas. Tirkani et al. (2019) compararam a eficiência de formação de colônias de células-tronco derivadas do leite de mães que tiveram partos prematuros com aquelas que tiveram partos a termo. O estudo encontrou que a eficiência era maior no leite de mães com partos prematuros, sugerindo um mecanismo compensatório para ajudar no desenvolvimento dos tecidos dos bebês prematuros – e, portanto, fundamentais para o desenvolvimento global de todos neonatos.
- Saúde mental garantida para as mães
O aleitamento materno não apenas beneficia a saúde física do bebê, mas também desempenha um papel crucial na promoção da saúde mental das mães. Trabalhos mostram que mães que amamentam seus bebês exclusivamente apresentam menores índices de depressão pós-parto e níveis reduzidos de estresse em comparação com aquelas que não amamentam ou que combinam amamentação com alimentação artificial. A amamentação foi associada a uma melhor qualidade do sono e uma maior sensação de vínculo e satisfação com seus bebês.
Os mecanismos propostos para explicar os benefícios do aleitamento materno na saúde mental das mães incluem: a produção de ocitocina, um hormônio que promove a sensação de bem-estar e relaxamento, além de fortalecer o vínculo entre mãe e filho; a prática regular da amamentação ajuda a reduzir os níveis de cortisol, um hormônio associado ao estresse; além disso, mães que amamentam frequentemente recebem mais apoio social e desenvolvem uma maior sensação de competência e autoeficácia, o que contribui para uma melhor saúde mental.
Diante destas evidências, fica claro que ainda há muito a ser explorado e compreendido sobre o impacto profundo dessa prática na saúde materno-infantil. O papel dos nutricionistas torna-se, assim, essencial não só na disseminação dessas informações, mas também na promoção ativa do aleitamento materno, tanto no consultório quanto nas redes sociais. Ao se apropriarem de conhecimentos recentes e continuarem a se atualizar sobre novas descobertas, nutricionistas podem desempenhar um papel crucial na educação das famílias, incentivando a amamentação e, consequentemente, contribuindo para um futuro mais saudável para mães e bebês.
Referências Bibliográficas:
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