16 Perguntas para fazer ao paciente e compreender o seu ambiente alimentar 

O Dia Mundial da Alimentação, comemorado em 16 de outubro em vários países do mundo, é uma data significativa para […]


O Dia Mundial da Alimentação, comemorado em 16 de outubro em vários países do mundo, é uma data significativa para refletir sobre a complexidade do ato de se alimentar e da cadeia de produção de alimentos que sustenta nossas necessidades diárias.  

De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde, essa ocasião estimula a avaliação de questões cruciais como a fome, a segurança alimentar e nutricional, bem como a importância da alimentação saudável. 

É fundamental, nesse contexto, ampliar a nossa visão sobre a alimentação global e, em particular, questionar o quanto estamos explorando de forma abrangente a alimentação de nossos pacientes.  

Ambiente alimentar e sua relação direta com o padrão alimentar e com a saúde 

Imagine alguns cenários: uma criança com problemas odontológicos que tem a disposição o melhor aparelho que existe, mas não o usa porque zombam dela na escola; um idoso que recebeu orientação de fazer caminhadas pelo bairro, mas mora em uma região muito acidentada e perigosa; uma mulher com deficiência de vitamina D foi orientada a tomar mais sol, mas precisa sair de casa para trabalhar às quatro da manhã e chega só durante a noite.

Apesar de fantasiosos, esses exemplos ajudam a iniciar o entendimento sobre um conceito fundamental na nutrição: o ambiente alimentar. 

O ambiente alimentar é um construto que se desdobra em quatro aspectos (ambiente físico; ambiente político; ambiente econômico; ambiente sociocultural) e está diretamente relacionado as oportunidades e limitações dos indivíduos na construção do próprio padrão alimentar e, por consequência, da própria saúde. 

  • Ambiente físico é aquele que caracteriza a disponibilidade e facilidade de acesso aos alimentos nos locais onde as pessoas vivem, trabalham e estudam. Para uma análise mais direta e simples de entender pode-se imaginar uma criança em casa e com fome: ela irá buscar o alimento que está ao seu alcance (seja nas prateleiras ou geladeira) para se alimentar. Em uma esfera mais profunda, podemos analisar os pontos de vendas de alimentos próximos a residência do paciente, ou mesmo o circunda o seu trajeto cotidiano de ida e volta do trabalho. 
  • Ambiente político amplia ainda mais esta esfera e analisa como as políticas públicas influenciam na produção e distribuição de alimentos de uma determinada região. Sem ir muito longe da realidade do nutricionista que atende em consultório, as determinações acerca da rotulagem de alimentos são características do ambiente alimentar político e influenciam diretamente na escolha e compra dos alimentos pelos pacientes. 
  • Ambiente econômico diz respeito tanto a renda dos indivíduos quanto aos custos dos alimentos nas regiões frequentadas por eles. 
  • Ambiente sociocultural é aquele que varia de acordo com contexto e companhias e dita o que é ou não é aceitável ser consumido, ou mesmo quanto é aceitável ser consumido. Ter um bolo recheado a disposição em um aniversário repleto de gente é diferente de ter um bolo recheado a disposição em casa. 

O entendimento sobre estes quatro aspectos do ambiente alimentar está muito distante da avaliação de composição corporal e dos cálculos de necessidades nutricionais.  

Por outro lado, está extremamente próximo da realidade do seu paciente e, consequentemente, do sucesso da sua intervenção nutricional – seja trabalhando com metas ou planos alimentares calculados.

Na prática, o que eu devo perguntar? 

Para ir além do consumo, algumas perguntas podem te ajudar a montar um “mapa” do cotidiano do paciente, com insights do que pode funcionar mais ou menos para atingir os objetivos e necessidades dele.  

As perguntas listadas abaixo não são, de maneira nenhuma, um roteiro a ser seguido, tampouco estão em qualquer ordem de questionamento. Use-as quando e como achar necessário, com as suas palavras, e dentro do contexto seu atendimento. 

  1. Onde você costuma se alimentar, tanto as grandes refeições, como os lanchinhos durante o dia? 
  2. Você leva alimentos ou tem algo a disposição para comer no trabalho? Onde e como eles ficam armazenados? 
  3. Qual a região do seu trabalho e quais restaurantes, lanchonetes e cafés são mais próximos? 
  4. Quais os restaurantes você costuma frequentar em momentos de lazer? 
  5. Quais supermercados e feiras você costuma frequentar? 
  6. Quem escolhe quais alimentos são comprados para a casa? 
  7. Quem paga pelas compras de alimentos de casa? 
  8. Qual a frequência da compra de alimentos? 
  9. As compras de alimentos pesam muito nas contas do mês? 
  10. O que você acha mais caro no mercado?  
  11. Como os alimentos são levados para a casa? (ir a pé ao mercado é bem diferente de sair de carro
  12. Onde você guarda as frutas e os snacks em casa? Qual a facilidade de acesso a cada um deles? (Uma fruta na gaveta da geladeira é sempre mais difícil que uma porção de balas em cima da mesa
  13. Em casa, quem prepara o seu café da manhã/almoço/jantar? O que muda nos finais de semana? 
  14. Com quem você faz cada refeição, tanto nos dias de trabalho quanto nos dias de descanso? 
  15. Você gosta mais de comer sozinho ou comer acompanhado? 
  16. O que você costuma fazer para se divertir? (O ambiente da resposta “assistir séries na Netflix” é completamente diferente do ambiente da resposta “andar de bicicleta no parque” – mas não se engane, ambos podem levar a padrões saudáveis ou não saudáveis de alimentação

Todas essas perguntas são bastante genéricas, e em cada caso você irá encontrar a melhor forma de explorar os ambientes do paciente – inclusive indo muito além das perguntas listadas.  

Esses conhecimentos sobre mercados, trajetos, restaurantes e locais onde o paciente passa o seu tempo são essenciais para o desenvolvimento de um plano alimentar compatível com cada realidade.  

Compreender o paciente como um indivíduo inserido dentro de um contexto maior te ajuda a ter mais cautela, ser mais assertivo em suas sugestões, integrar o paciente no próprio planejamento e ter a flexibilidade necessária para o sucesso. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

Borges CA, Gabe KT, Canella DS, Jaime PC. Caracterização das barreiras e facilitadores para alimentação adequada e saudável no ambiente alimentar do consumidor. Cad Saúde Pública. 2021. 

FAO. High Level Panel of Experts on Food Security and Nutrition. Nutrition and food systems. A report by the High Level Panel of Experts on Food Security and Nutrition. Rome: High Level Panel of Experts on Food Security and Nutrition, Committee on World Food Security; 2017.  

Machado AD. Até que ponto escolhemos aquilo que comemos? Revista Sustentarea; setembro 2022. 

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