Vitamina D em dia, só alegria? | Descobertas da relação do nutriente com a saúde mental

A vitamina D está na moda. E por mais absurda que esta colocação possa parecer, nunca se falou tanto deste […]


A vitamina D está na moda. E por mais absurda que esta colocação possa parecer, nunca se falou tanto deste nutriente no âmbito clínico e nunca se pesquisou tanto sobre o assunto.  

Muito além da saúde óssea, hoje, é possível encontrar dezenas de trabalhos que exploram os mecanismos da vitamina D e suas eventuais associações com câncer, doenças coronarianas, diabetes, infecções, dor crônica e até mesmo COVID-19.  

Entretanto, como dizem alguns pesquisadores europeus em uma ampla revisão sobre o assunto, “certamente, a vitamina D não é uma panaceia.” (Amrein et al., 2020) – em seu artigo, eles discutem o quão falho são os estudos que insistem em “encontrar” causalidade entre a vitamina D e os mais diversos desfechos negativos de saúde, especialmente por amostras insignificantes ou graves erros metodológicos.  

Ainda assim, estes mesmos pesquisadores reconhecem que a prevalência de deficiência desta vitamina é elevada e, considerando o baixo custo de sua suplementação, ela pode ser uma interessante aliada dos profissionais da saúde.  

Com a emergente conscientização sobre a necessidade de dar-se mais atenção à saúde mental, alguns estudos têm se proliferado e se destacado por apontarem possíveis associações deste nutriente neste âmbito da saúde.  

Neste contexto, faz-se necessária uma atualização dos nutricionistas, não necessariamente para mudanças em condutas (até porque as referências de dosagem do nutriente e sua ingestão continuam as mesmas) mas principalmente para uma atenção mais ampla no cotidiano que pode permitir investigações que antes nem passariam pela cabeça. 

Qual é o mecanismo desta associação? 

A vitamina D atua no cérebro como um neuroesteróide, influenciando múltiplas funções cerebrais. Ela desempenha um papel fundamental no desenvolvimento do cérebro (ainda na gestação), incluindo a diferenciação, maturação e crescimento das células nervosas.  

Além disso, a vitamina D regula enzimas que são cruciais para a produção de neurotransmissores, como dopamina, adrenalina, noradrenalina e serotonina. Tais neurotransmissores desempenham um papel importante na regulação do humor e comportamento. 

A vitamina D também age como um neuroprotetor, estimulando a expressão de genes que levam à formação de glutationa, o antioxidante mais importante do cérebro. Isso ajuda a proteger as células nervosas contra o estresse oxidativo e morte celular.  

Quais prejuízos a deficiência de vitamina D traz para a saúde mental? 

Limitações naturais da ciência, como se desenrola hoje, impedem conclusões definitivas e válidas para todas as pessoas. Mas alguns estudos podem ser destacados por trazerem resultados interessantes e que, mesmo em diferentes regiões do planeta, tendem a se equiparar. 

Aparentemente, a deficiência de vitamina D pode estar relacionada com menores funções cognitivas (tal como memória e capacidade de resolver problemas do cotidiano). Esta relação foi observada em um estudo russo realizado com 120 idosos longevos, mas também em um estudo turco conduzido com mulheres mais jovens (entre 25 e 45 anos). O mesmo resultado também foi observado em um trabalho realizado com 60 dependentes químicos em tratamento. 

Maiores níveis de estresse e depressão também surgem relacionados a deficiência da vitamina. Uma metanálise que compilou 9 trabalhos sobre o tema, somando uma amostra de cerca de 1350 pessoas identificou que a suplementação da vitamina D, em pessoas com deficiência da mesma, melhorou os parâmetros de depressão. Um estudo italiano realizado durante a pandemia de COVID-19 sugeriu que a vitamina D pode ter sido uma mediadora dos níveis de estresse e depressão durante o lockdown. Concomitantemente, um estudo iraniano com 260 mulheres também encontrou que o estresse global destas mulheres estava associado a menores níveis de vitamina D – sem identificação de relação de causalidade. 

Em crianças e adolescentes, foram encontrados resultados similares que associaram os níveis adequados de vitamina D com menores índices de depressão e melhores indicadores de bem-estar, de acordo com uma recente revisão. Especialmente entre adolescentes, foi encontrado um resultado extremamente valioso em estudo realizado em um hospital dos EUA que encontrou que os jovens que deram entrada no serviço de emergência por tentativa de suicídio apresentavam níveis extremamente baixos de vitamina D em comparação com jovens que chegavam ao hospital por outras causas. 

E agora, o que eu faço, na prática? 

Mesmo com todos estes dados nas mãos, ainda não é possível fazer campanhas com o slogan “Seja feliz, tome vitamina D” – até mesmo por conta do risco de toxicidade por uma hipervitaminose, que neste caso está associada com hipercalcemia e hipercalciúria.  

Mas todas essas pesquisas são fundamentais para ajudarem o profissional a enxergar possibilidades

Com um panorama da alimentação e o estilo de vida de um paciente já é possível ter uma noção se uma investigação mais aprofundada sobre os níveis séricos de vitamina D pode ser necessária. Agora, insights sobre o comportamento e estado de saúde mental também podem colaborar para esta visão global sobre a saúde do paciente. 

Ainda que a prevalência de deficiência desta vitamina seja alta, não é possível assumir que todas as pessoas precisem de fato de alguma suplementação – até mesmo por conta do grande número de alimentos industrializados que já recebem um reforço deste nutriente e podem fazer parte da rotina de muitos pacientes e potenciais pacientes.  

Obviamente, quando diagnosticada uma deficiência de vitamina D, a suplementação será indicada – a informação nova é que além das conhecidas melhorias na saúde que a manutenção deste nutriente trará, haverá possibilidade de melhores também no âmbito da saúde mental

Referências Bibliográficas

  • Amrein, K., Scherkl, M., Hoffmann, M. et al. Vitamin D deficiency 2.0: an update on the current status worldwide. Eur J Clin Nutr 74, 1498–1513 (2020). 
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