“Um toque da Nutrição”: Qual é a relação da alimentação com o câncer de próstata?

De acordo com a estimativa para 2023 do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de próstata foi o mais […]


De acordo com a estimativa para 2023 do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de próstata foi o mais incidente entre os homens no Brasil, ultrapassando os 70 mil casos.

Os dados mais recentes de mortalidade do INCA, de 2021, apontam o câncer de próstata também como o mais fatal entre os homens – com mais de 16 mil casos fatais, representando quase 14% de todas as mortes decorrentes de neoplasias no ano analisado.

Predisposição genética e a idade são os maiores fatores de risco do desenvolvimento da doença (75% dos casos ocorrem em homens com mais de 65 anos), mas alguns estudos recentes também têm encontrado o sobrepeso e obesidade como um fator de risco para o câncer de próstata.

Adicionalmente, trabalhos preliminares in vitro ou com ratos têm encontrado possíveis benefícios de substâncias encontradas nos alimentos para a prevenção de neoplasias na próstata. Assim, o quão promissor é o papel do nutricionista na prevenção desta condição clínica masculina? 

A próstata e a saúde dos homens 

A saúde masculina frequentemente é associada a uma menor expectativa de vida, muitas vezes interpretada como resultado da negligência ou falta de cuidado por parte dos homens em relação à sua saúde.

No entanto, é crucial lembrar que, até muito recentemente, o estilo de vida masculino era essencialmente diferente do feminino. Tradicionalmente, os homens eram frequentemente expostos a ambientes de trabalho mais arriscados, engajados em atividades físicas mais intensas e, por vezes, vulneráveis a substâncias potencialmente tóxicas (diversos produtos da indústria química e mecânica estão associados ao câncer de próstata, por exemplo).

Tais fatores, juntamente com as expectativas sociais e as representações tradicionais da masculinidade, podem ter contribuído para a disparidade em questões de saúde.  

A próstata, glândula exclusiva do sistema reprodutor masculino, encontra-se anatomicamente localizada na região inferior do abdômen. Com um formato semelhante ao de uma maçã, a próstata reside adjacente à base da bexiga e anterior ao reto, a parte terminal do intestino grosso. Esta glândula envolve a porção inicial da uretra, o canal responsável pela eliminação da urina armazenada na bexiga.

Além de desempenhar um papel crucial na função urinária, a próstata contribui para a produção seminal, um líquido denso que incorpora os espermatozoides, liberado durante a atividade sexual.

O câncer de próstata materializa-se quando as células prostáticas iniciam uma proliferação desregulada, culminando na formação de tumores. Embora muitos casos exibam um crescimento lento e uma baixa letalidade, a identificação precoce e a compreensão dos fatores de risco emergem como imperativos cruciais para a eficácia do tratamento e a preservação da qualidade de vida.

É importante destacar, porém, que o Ministério da Saúde e o INCA – apesar de diversas campanhas de conscientização sobre a doença – não recomendam o rastreamento do câncer de próstata na população geral, devido à ausência de evidência científica até o momento de que essa prática traga mais benefícios do que riscos (como o sobretratamento de um câncer indolente, por exemplo). 

Obesidade e câncer de próstata 

A condição de excesso de peso corporal, englobando sobrepeso e obesidade, demonstra uma associação significativa com um aumentado risco de câncer de próstata em estágio avançado. Diversos mecanismos biológicos têm sido propostos para elucidar essa correlação, destacando-se o desequilíbrio no metabolismo esteroide sexual, a presença de hiperinsulinemia e a elevação dos níveis de citocinas pró-inflamatórias. Entretanto, é relevante salientar que as evidências vinculando de maneira específica essas vias biológicas ao câncer de próstata são, até o momento, limitadas em sua abrangência e profundidade de compreensão.  

Um estudo recente identificou uma associação direta entre um maior Índice de Massa Corporal (IMC) e o risco para o câncer de próstata em adultos com menos de 60 anos. Ao mesmo tempo, foi identificado que um dos marcadores de risco para este câncer está reduzido em pessoas com sobrepeso e obesidade, o que poderia explicar a associação do estado nutricional com a doença em estágio avançado, uma vez que a identificação precoce está prejudicada.  

Um outro trabalho, com 5.725 participantes ao longo de 10 anos, identificou que, além da idade, a qualidade da alimentação esteve associada com o risco de alterações dos marcadores de saúde prostática. Ressalta-se, porém, que pesquisas adicionais são fundamentais para clarificar os mecanismos subjacentes e consolidar a associação entre o excesso de peso e o risco agravado de câncer de próstata. 

Tomate, licopeno e a prevenção do câncer pela alimentação 

Em 1995, com a divulgação de resultados de um estudo observacional com mais de 40 mil pessoas, surgiu a hipótese que o consumo de tomate (e licopeno) seria um fator protetor para o desenvolvimento do câncer de próstata. Desde então, modelos animais têm conseguido demonstrar de fato esse papel importante do licopeno e outras substâncias do tomate na prevenção do câncer. Todavia, estudos mais aprofundados com humanos não têm obtido a mesma clareza de resultados.

Uma pesquisa recente com mais de 7000 indivíduos não encontrou associações entre os níveis de antioxidantes comuns da alimentação (Vitamina A, C, D, E, B2, selênio, licopeno) e o risco para o desenvolvimento do câncer de próstata. Tais incertezas fazem com que as instituições de referências sejam firmes em afirmar a multicausalidade e predisposição genética para o desenvolvimento do câncer, a fim de não reforçar alegações tendenciosas sobre a prevenção da doença. 

Em vista das evidências apresentadas, torna-se claro que a adoção de uma alimentação saudável, diversificada e equilibrada, especialmente quando orientada por um nutricionista, permanece a melhor opção para a promoção de uma vida saudável.

O excesso de peso não apenas aumenta o risco de câncer de próstata, mas também está associado a diversas consequências adversas para a saúde, exigindo abordagens populacionais abrangentes e quando no cuidado individualizado, respeito e compaixão. Apesar de a maioria das consultas nutricionais ainda serem direcionadas a mulheres, é imperativo que haja conhecimento substancial sobre a saúde masculina, particularmente em relação a condições tão prevalentes quanto o câncer de próstata. Isso não apenas permite a orientação de uma alimentação saudável adaptada a cada indivíduo, mas também fornecer informações e esclarecer mitos relacionados à saúde. 

Referências Bibliográficas

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