Cynthia Antonaccio –
Nutricionista idealizadora da Nutrição Comportamental e da Academia da Nutrição
Como nutricionista, você já refletiu se a suplementação isolada basta para zelar pela saúde mental dos seus pacientes?
Sem dúvida, o mercado de ingredientes tem evoluído e a prescrição de suplementos e alimentos inovadores, voltados para melhora do sono, redução do estresse e da ansiedade, pode ser uma estratégia em constante evolução. No entanto, o cuidado com a saúde mental exige uma abordagem mais abrangente, responsável e multidisciplinar.
A campanha “Janeiro Branco” ressalta a importância desse tema para profissionais de saúde e pacientes. No Brasil, líder mundial em ansiedade, estima-se que 9,3% da populaç��o sofre com este transtorno. A Organização Mundial da Saúde alerta: uma em cada quatro pessoas no país enfrentará algum tipo de transtorno mental ao longo da vida.
Como nutricionista, qual é o seu papel neste contexto? E como você cuida de si para oferecer o melhor aos seus pacientes?
Além do encaminhamento para psicólogos ou psiquiatras, como a nutrição pode ser integrada? Como abordar a mudança comportamental e a suplementação adequada?
Sintomas como insônia, estresse, ansiedade e alterações de humor podem estar relacionados à nutrição e à relação com a comida. Vamos explorar algumas estratégias para orientar seus pacientes:
1. Alimentação Intuitiva e Abordagem Não-Dieta
Compreender a relação do paciente com a comida, seus pensamentos e sentimentos, é crucial para entender como isso afeta seu humor e ansiedade.
A mentalidade de dieta constante pode gerar estresse, desencadeando compulsão alimentar ou “comer emocional”.
Contrariamente ao que se pensa, uma abordagem não-dieta ajuda a desenvolver uma relação mais saudável com a comida, diminuindo a ansiedade e o estresse.
Insônia também pode ser influenciada por atividades noturnas, incluindo hábitos alimentares inadequados.
A introdução de uma dieta restrita, como as clássicas de 1200 calorias, pode aumentar o cortisol, causando estresse, irritação e compulsão. Estudos mostram que a restrição calórica pode elevar o estresse fisiológico (Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, 2008).
Em vez de limitar, oriente os pacientes a descobrirem a alegria e sintonizar com seus sinais internos de fome e saciedade.
2. O Comportamento Alimentar
Nutricionistas podem utilizar diversos métodos para abordar a saúde mental relacionada à alimentação, considerando a influência da mentalidade de dieta e padrões estéticos rígidos. Veja algumas abordagens:
Atuar como Terapeuta Nutricional (TN), compreendendo a psicologia alimentar e promovendo mudanças de comportamento. Essa abordagem inclui uma escuta ativa e um interesse genuíno pelo paciente, utilizando técnicas como a entrevista motivacional.
Implementar o auto-monitoramento para avaliar o impacto das escolhas alimentares no sono, na ansiedade e no humor, e identificar gatilhos emocionais e situacionais.
Ao longo das consultas, o nutricionista pode co-criar estratégias de higiene do sono e manejo do estresse, renegociar metas, e fortalecer a autonomia e a resiliência do paciente.
Espero que este texto amplie seu repertório e inspire a prática de uma nutrição mais integrada à saúde mental e sempre leve em conta as emoções, pensamentos e comportamentos do seu paciente.
Compartilhe suas experiências e contribuições, enriquecendo nossa comunidade com mais conhecimento.
Cynthia Antonaccio
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