Guia rápido sobre a doença de crohn para nutricionistas

A doença de Crohn é uma condição inflamatória crônica do trato gastrointestinal, parte das doenças inflamatórias intestinais. Ainda que sua […]


A doença de Crohn é uma condição inflamatória crônica do trato gastrointestinal, parte das doenças inflamatórias intestinais. Ainda que sua prevalência seja extremamente baixa (em comparação com outras enfermidades comuns aos nutricionistas), trata-se de uma condição muito grave, onde o acompanhamento nutricional é fundamental para a manutenção da qualidade de vida. 

Características e sintomas da Doença de Crohn 

A inflamação característica da doença de Crohn pode afetar qualquer parte do trato gastrointestinal, mas é mais comum no íleo terminal e no cólon direito. Esta doença apresenta um curso de recaídas e remissões, com episódios de agravamento e melhora que ocorrem de maneira imprevisível. 

A patogênese da doença de Crohn envolve uma combinação de predisposição genética e respostas imunes inadequadas a fatores ambientais como toxinas ou infecções. Pesquisas identificaram mais de cem genes associados à suscetibilidade à doença, e mutações específicas têm sido relacionadas a formas mais graves da doença, especialmente em jovens. 

Os sintomas da doença de Crohn incluem dor abdominal, diarreia (que pode conter sangue e muco), febre, perda de peso e fadiga. A inflamação persistente pode levar à formação de fístulas, estruturas, abscessos e eventualmente a obstrução intestinal. Complicações sérias como perfurações intestinais e até mesmo câncer de cólon podem ocorrer em casos avançados. 

A doença é diagnosticada através de uma combinação de exames de sangue, testes de fezes, e técnicas de imagem como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética, que ajudam a visualizar a extensão da inflamação e identificar complicações. A endoscopia por cápsula também pode ser usada para avaliar áreas

Tratamento e manejo da Doença de Crohn 

O tratamento da doença de Crohn varia de acordo com a gravidade dos sintomas e pode incluir medicamentos como corticosteroides, imunomoduladores, e agentes biológicos que visam bloquear componentes específicos do sistema imunológico envolvidos na inflamação. Identifica-se quem tem maior risco de desenvolver uma forma agressiva da doença e quem pode necessitar de tratamentos intensos e precoces.  

Os fatores de risco para uma doença mais agressiva incluem diagnóstico antes dos 30 anos, ampla área do corpo afetada, presença de doença perianal, úlceras profundas, cirurgias anteriores e doença que causa estreitamento ou perfuração.  

Um dos desafios mais significativos da doença de Crohn é que, após 20 anos de atividade da doença, 80% dos pacientes precisarão de cirurgia e cerca de 30% necessitarão de cirurgia nos primeiros 5 anos após o diagnóstico. Embora o objetivo do tratamento médico seja manter a doença sob controle sem necessidade de cirurgia, intervenções cirúrgicas podem se tornar necessárias se houver complicações como estreitamento ou formação de fístulas. Como a cirurgia não cura a doença de Crohn, muitos pacientes necessitarão de múltiplas cirurgias ao longo da vida. 

Apesar dos avanços no tratamento, os pacientes frequentemente enfrentam desafios significativos relacionados à qualidade de vida (vale destacar que um efeito colateral comum dos principais medicamentos é a náusea e a inapetência), requerendo manejo contínuo de longo prazo e acompanhamento regular para monitorar a atividade da doença e ajustar o tratamento conforme necessário. 

Acompanhamento nutricional e prevenção na Doença de Crohn 

A alimentação pode desempenhar um papel fundamental tanto na prevenção quanto no manejo da Doença de Crohn. Estudos observacionais sugerem que uma dieta rica em fibras, especialmente aquelas derivadas de frutas, pode reduzir o risco de desenvolver a doença. A fibra dietética é metabolizada por bactérias intestinais em ácidos graxos de cadeia curta, que possuem propriedades anti-inflamatórias e ajudam a manter a integridade da barreira epitelial.  

É importante, porém, saber que estas informações apenas colaboram para a compreensão sobre o importante papel das frutas na nossa alimentação e que não ser divulgadas como método de prevenção, uma vez que se trata de uma doença complexa e multifatorial. 

A doença de Crohn aumenta o catabolismo e as necessidades energéticas, resultando frequentemente em desnutrição energético-proteica, o que torna o suporte nutricional essencial, especialmente antes de procedimentos cirúrgicos. A nutrição enteral é recomendada como tratamento primário para induzir a remissão em pacientes pediátricos e apresenta benefícios como terapia de manutenção em adultos, sendo uma opção quando medicamentos não são adequados ou são recusados.  

Deficiências nutricionais, embora raras em casos leves, podem ocorrer em casos mais severos, com as mais comuns sendo deficiências de ferro, vitamina D e vitamina B12. A avaliação dos níveis desses nutrientes é recomendada antes da suplementação para garantir um cuidado individualizado.  

Além disso, a ingestão adequada de proteínas é essencial para a recuperação e cicatrização do intestino e de feridas pós-operatórias. Atualmente, não há evidências suficientes para recomendar o uso de probióticos ou ácidos graxos ômega-3. 

O medo de se alimentar e a evitação de diversos grupos de alimentos é muito comum em pacientes com a Doença de Crohn, entretanto é necessário avaliar cada caso para que restrições desnecessárias não sejam incentivadas e uma alimentação diversificada seja priorizada – tal conduta não só prevê uma nutrição adequada, mas também permite que o paciente não seja excluído de contextos sociais da alimentação. 

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2 respostas para “Guia rápido sobre a doença de crohn para nutricionistas”

  1. alev.sou44

    Conteúdo bem didático e fácil entendimento.

    1. Academia da Nutrição Team

      Que bom que gostou do nosso conteúdo. 🙂 Agradecemos pelo feedback!

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