No mês dedicado às conquistas e desafios das mulheres, é essencial ampliar o foco para incluir aspectos fundamentais da saúde feminina que frequentemente não recebem a atenção merecida. Um desses aspectos é a saúde intestinal, um pilar vital para o bem-estar geral que transcende os limites do sistema digestivo, influenciando desde a saúde mental até a imunológica e metabólica. No cenário atual, onde o estresse e a alimentação inadequada se tornam cada vez mais prevalentes, entender e cuidar da saúde intestinal é mais importante do que nunca.
Saúde Intestinal: A Base do Bem-Estar
A saúde intestinal não se limita à ausência de desconfortos digestivos; ela é um aspecto fundamental da saúde e do bem-estar geral. A microbiota intestinal, um ecossistema complexo de micro-organismos que reside no nosso trato digestivo, desempenha um papel crucial nesse processo. Esta comunidade de bactérias não só auxilia na digestão dos alimentos e na absorção de nutrientes, mas também tem um papel fundamental na modulação do sistema imunológico, na proteção contra patógenos e na produção de compostos vitais, como vitaminas e neurotransmissores.
Estudos recentes têm reforçado a ideia de que um intestino saudável é sinônimo de um corpo e mente saudáveis. Alterações na composição ou função da microbiota intestinal – conhecidas como disbioses – têm sido associadas a uma ampla gama de condições, incluindo doenças inflamatórias intestinais, obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e até mesmo transtornos de humor e ansiedade. Essas descobertas sublinham a importância de uma abordagem holística da saúde que inclua o cuidado com o sistema digestivo.
Além disso, a barreira intestinal, uma interface crítica entre o lúmen intestinal e o restante do corpo, atua como um filtro seletivo que permite a absorção de nutrientes essenciais enquanto bloqueia a entrada de substâncias prejudiciais. Uma barreira comprometida pode levar à translocação de bactérias e toxinas para a corrente sanguínea, desencadeando respostas inflamatórias e imunológicas que afetam negativamente a saúde em todo o corpo.
Impacto do Estresse na Saúde Intestinal da Mulher Moderna
Na sociedade contemporânea, a mulher multitarefa emerge como uma figura emblemática, equilibrando as responsabilidades domésticas, profissionais e o cuidado com a família. Este papel multifacetado, embora empoderador, carrega consigo um custo: o estresse crônico.
O estresse crônico pode desencadear uma série de reações adversas no sistema gastrointestinal, incluindo alterações na microbiota intestinal. Este desequilíbrio, conhecido como disbiose, pode contribuir para o desenvolvimento de condições inflamatórias, síndrome do intestino irritável e outras doenças gastrointestinais. A conexão entre o cérebro e o intestino, mediada pelo eixo cérebro-intestino, explica como o estresse psicológico pode levar a manifestações físicas, alterando a composição e função da microbiota intestinal.
A mulher moderna, ao navegar por essas múltiplas exigências, pode inadvertidamente comprometer sua saúde intestinal. Portanto, é essencial adotar estratégias de manejo do estresse, como práticas de mindfulness, exercícios físicos regulares e uma nutrição adequada, para preservar a saúde intestinal e, por extensão, o bem-estar geral.
Dieta e Microbiota
A alimentação desempenha um papel fundamental na determinação da composição e saúde da microbiota intestinal. Uma dieta rica em fibras, provenientes de frutas, vegetais, leguminosas e grãos integrais, pode fomentar uma microbiota diversa e resiliente, beneficiando a saúde intestinal e sistêmica. As fibras servem como prebióticos, alimentando bactérias benéficas como Lactobacillus e Bifidobacterium, que, por sua vez, produzem ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), fundamentais para a saúde do epitélio intestinal e a modulação do sistema imune.
Por outro lado, dietas ricas em gorduras saturadas, açúcares refinados e alimentos processados podem promover a proliferação de bactérias prejudiciais, contribuindo para a disbiose, inflamação intestinal e o desenvolvimento de doenças metabólicas e cardiovasculares. Este desequilíbrio na microbiota não só impacta a digestão e absorção de nutrientes, mas também pode influenciar o humor e o comportamento, evidenciando a interconexão entre dieta, saúde intestinal e saúde mental.
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Estrogênio, Estroboloma e os Probióticos
Quando pensamos no microbioma estamos nos referindo a todos os genes dos microrganismos que formam uma microbiota intestinal, e são responsáveis pela codificação de enzimas que atuam em diferentes vias metabólicas. Dentro desse conjunto, está o estroboloma: conjunto de genes microbianos capazes de metabolizar o estrogênio. Esta função do microbioma é particularmente relevante no contexto do câncer de mama positivo para receptor de estrogênio na pós-menopausa.
Estudos já demonstraram que a composição e funcionalidade do estroboloma podem impactar significativamente o risco de uma mulher desenvolver câncer de mama causado pelo estrogênio. Ao modular o estroboloma através de vários fatores (como dieta, genética e medicamentos), pode ser possível influenciar o risco de câncer. As revisões destacam o potencial para o desenvolvimento de biomarcadores baseados em microbiomas e intervenções alimentares destinadas a reduzir o risco de câncer.
A qualidade do estroboloma afeta a circulação entero-hepática do estrogênio, modulando sua reabsorção e excreção. Um estroboloma enriquecido em bactérias com enzimas que favorecem a desconjugação do estrogênio pode levar a níveis mais elevados do hormônio circulante, aumentando potencialmente o risco de doenças malignas dependentes de hormônios.
A suplementação de probióticos representa uma estratégia poderosa para aprimorar a saúde intestinal, especialmente em um mundo onde o equilíbrio da microbiota pode ser facilmente desestabilizado por fatores como dieta inadequada, estresse e uso de antibióticos. Para mulheres multitarefas, enfrentando o ritmo acelerado da vida moderna, a suplementação com probióticos pode ser um complemento valioso à dieta, oferecendo uma medida preventiva ou terapêutica contra distúrbios gastrointestinais, além de contribuir para um bem-estar geral mais robusto.
Em resumo, a saúde intestinal não deve ser vista como uma preocupação isolada, mas como um pilar central do bem-estar integral, especialmente para as mulheres, que enfrentam desafios únicos em suas vidas multifacetadas.
A conscientização sobre a importância da saúde intestinal, acompanhada do encorajamento ativo para adotar práticas dietéticas saudáveis, o manejo do estresse e, quando necessário, a suplementação de probióticos, são etapas cruciais para manter um equilíbrio saudável e promover uma vida longa e próspera.
Ao colocar a saúde intestinal como prioridade, incentivamos não apenas a prevenção de doenças, mas também a promoção de uma qualidade de vida melhorada, permitindo que cada mulher alcance seu potencial máximo de saúde e bem-estar.
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Referências Bibliográficas
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