A desnutrição continua sendo um grave problema de saúde pública, especialmente no Brasil, afetando principalmente crianças e gestantes, mesmo com os avanços sociais e econômicos. Dados recentes do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) de 2020 indicam que 14,2% das gestantes apresentaram baixo peso para a idade gestacional e 6,1% das crianças com menos de 5 anos estavam com magreza absoluta. Além disso, 13% das crianças apresentavam baixa estatura para a idade. Esses dados revelam que a insegurança alimentar ainda é uma realidade no país, impactando principalmente os mais vulneráveis.
O Impacto da Desnutrição e a Necessidade de Políticas Públicas
A desnutrição é uma doença de origem socioeconômica, com consequências devastadoras, como alto índice de mortalidade, morbidade, retardo no crescimento e aumento do risco de doenças como infecções respiratórias e diarreia. Para reduzir esses efeitos, é essencial que políticas públicas de saúde estejam focadas na melhoria das condições alimentares e nutricionais de toda a população. A desnutrição materna também desempenha um papel crucial, pois o baixo ganho de peso gestacional pode levar a baixo peso ao nascer, prejudicando a imunidade e o desenvolvimento da criança.
A primeira infância é um período fundamental para o crescimento e desenvolvimento adequados. A desnutrição nesta fase pode comprometer o rendimento escolar e afetar a saúde na vida adulta, o que destaca a importância do acompanhamento nutricional e da promoção de uma alimentação saudável para crianças.
Guia Rápido para o Acompanhamento de Gestantes e Crianças com Desnutrição
O Ministério da Saúde disponibilizou um Guia Rápido para o Acompanhamento de Gestantes e Crianças com Desnutrição, destinado a apoiar profissionais de saúde na gestão de gestantes e crianças com desnutrição leve e moderada. O guia inclui orientações sobre protocolos nutricionais, recomendações alimentares e práticas de acompanhamento. A seguir, destacamos alguns pontos importantes do guia.
Etapas para o Acompanhamento de Gestantes
O acompanhamento nutricional de gestantes deve seguir algumas etapas essenciais, conforme o guia. Entre as principais, destacam-se:
- Classificação do estado nutricional segundo o IMC para idade gestacional.
- Cálculo do ganho de peso esperado durante a gravidez.
- Avaliação dos hábitos alimentares da gestante.
- Identificação da insegurança alimentar e nutricional no domicílio.
- Acesso a alimentos variados e adequados.
- Análise de exames clínicos e bioquímicos.
- Identificação de deficiências nutricionais e necessidade de suplementação.
- Avaliação da prática de atividade física ou sedentarismo.
O profissional deve monitorar atentamente o ganho de peso e identificar mudanças que possam representar riscos à saúde, encaminhando para acompanhamento médico quando necessário.
Primeira Infância: Período Crítico para o Desenvolvimento
Os dois primeiros anos de vida são cruciais para o crescimento e desenvolvimento infantil. Durante essa fase, as crianças em situação de vulnerabilidade social têm maior risco de desnutrição, o que pode prejudicar seu desenvolvimento físico e cognitivo. O acompanhamento nutricional contínuo e a promoção de uma alimentação saudável são essenciais para garantir um crescimento saudável e prevenir desnutrição.
Etapas para o Acompanhamento das Crianças
No acompanhamento nutricional das crianças, o guia sugere as seguintes etapas:
- Aferição de peso e estatura.
- Cálculo do IMC para avaliar o estado nutricional.
- Classificação do estado nutricional (peso para a idade, estatura para a idade e IMC para a idade).
- Avaliação dos hábitos alimentares.
- Verificação da situação de insegurança alimentar e nutricional da família.
- Realização e análise de exames clínicos e bioquímicos.
- Identificação de deficiências nutricionais.
- Avaliação da necessidade de suplementação.
O monitoramento do ganho de peso é fundamental, pois um aumento inadequado pode levar à desnutrição. A identificação precoce das causas de desnutrição e a implementação de medidas corretivas são essenciais.
Causas da Desnutrição: Além da Falta de Alimentos
Embora a falta de acesso a alimentos seja uma das causas principais da desnutrição, outras condições como doenças infecciosas, parasitoses, alergias e intolerâncias alimentares também contribuem para o agravamento da saúde infantil. Casos graves de desnutrição devem ser encaminhados para atenção especializada.
Recomendações Alimentares para Gestantes e Crianças com Desnutrição
Nos casos de desnutrição leve ou moderada, as recomendações alimentares devem ser baseadas nos Guias Alimentares específicos para gestantes e crianças, como o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de Dois Anos e o Guia Alimentar para a População Brasileira. Essas orientações visam promover o peso adequado e hábitos alimentares saudáveis, com o foco na prevenção da desnutrição e no desenvolvimento infantil adequado.
O nutricionista desempenha um papel fundamental nesse processo, garantindo que a alimentação da gestante e da criança seja balanceada e atenda às suas necessidades nutricionais.
Mais Informações no Guia Rápido
Além dos pontos abordados, o Guia Rápido do Ministério da Saúde também inclui três anexos úteis para a prática:
- Avaliação do estado nutricional de gestantes.
- Ficha de marcadores de consumo alimentar.
- Avaliação do estado nutricional de crianças.
Esses recursos são ferramentas valiosas para os profissionais de saúde no acompanhamento adequado da saúde nutricional de gestantes e crianças em situação de risco.
Referência:
- Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Promoção da Saúde. Guia Rápido para o Acompanhamento de Gestantes e Crianças com Desnutrição na Atenção Primária à Saúde. Brasília: DF, 2021.
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