No Brasil, as taxas de mortalidade por Câncer de Mama ainda são elevadas, devido, em parte, ao diagnóstico em estágios avançados. Globalmente, a sobrevida média após cinco anos é de 61%. Em 2022, foram estimados 73.610 novos casos de câncer de mama no Brasil, com 18.032 mortes em 2020.
Aproximadamente 20% das mulheres latinas com câncer de mama têm menos de 44 anos, em contraste com 8% a 12% na América do Norte. O Estudo Amazona III (2020), que envolveu quase três mil pacientes, revelou que um quarto das mulheres tinham entre 40 e 50 anos e 17% foram diagnosticadas com menos de 40 anos. No Brasil, o Ministério da Saúde não preconiza mamografias nessa faixa etária.
Uma pesquisa desenvolvida pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) em conjunto com a Universidade Federal de Goiás (UFG) mostrou redução no rastreamento de câncer de mama no SUS entre mulheres com 70 anos ou mais, contribuindo para um aumento nos casos graves da doença no Brasil, especialmente preocupante devido ao envelhecimento da população.
Outubro está apenas começando, mas já é possível ver propagandas da campanha anual de Conscientização sobre o Câncer de Mama nos variados veículos de comunicação, incluindo conteúdos que relacionem a Nutrição com prevenção e tratamento.
O artigo de hoje, por outro lado, convida os Nutricionistas a darem um passo para trás e relembrarem o panorama geral do Câncer de Mama para, assim, conseguirem planejar intervenções dietéticas mais assertivas possíveis.
Por dentro da patologia
Essa é uma condição complexa que envolve a multiplicação desordenada de células anormais no tecido mamário, e se divide em três diferentes tipos:
Carcinoma Ductal Invasivo: origina nos ductos mamários e, à medida que progride, as células cancerosas invadem os tecidos circundantes, incluindo os lóbulos mamários, levando à formação de tumores sólidos que têm potencial para se espalhar para outras partes do corpo. É o tipo mais comum de Câncer de Mama.
Carcinoma Lobular Invasivo: começa nos lóbulos mamários e, à medida que avança, invade os tecidos adjacentes. Menos comum que o anterior, mas ainda representa parte significativa dos casos.
Tumor Filoide: é um tipo peculiar de câncer de mama que se desenvolve no tecido conjuntivo (estroma) da mama. É muito raro e a maioria dos casos é benigna.
A fisiopatologia envolve também alteração genética das células mamárias normais, resultando em uma proliferação descontrolada e um acúmulo que formar tumores e pode até invadir os tecidos vizinhos. A migração do tecido tumoral para outras partes do corpo se dá por meio do sistema linfático ou circulatório, a famosa metástase.
Embora o câncer de mama seja mais comum em mulheres, é fundamental mencionar que também afeta homens, embora seja uma ocorrência rara, representando apenas cerca de 1% de todos os casos da doença.
Mapeando os fatores de risco
Assim como outros tipos de câncer, este é uma doença multifatorial com uma interação complexa de fatores de risco individuais e ambientais.
Um dos principais fatores de risco é a idade. O Câncer de Mama é incomum antes dos 35 anos e sua incidência aumenta progressivamente a partir dos 40 anos, atingindo o pico entre os 55 e 69 anos. A idade média de diagnóstico gira em torno dos 60 anos.
Mulheres com parentes de primeiro grau, como mãe, irmã ou filha, que tiveram câncer de mama, especialmente antes dos 50 anos, também enfrentam um risco aumentado. Outros fatores de risco hereditários incluem casos de câncer de ovário na família e mutações genéticas, como as nos genes BRCA1 e BRCA2, que podem aumentar substancialmente o risco.
Fatores endócrinos e história reprodutiva também estão relacionados, incluindo menarca precoce (primeira menstruação antes dos 12 anos), menopausa tardia (após os 50 anos), primeira gravidez após os 30 anos e nuliparidade (não ter filhos).
A obesidade é outro fator de risco relevante, principalmente após a menopausa. O consumo excessivo de álcool, a falta de atividade física e a exposição excessiva à radiação ionizante, seja durante a radioterapia no tórax em idade jovem ou devido à exposição frequente à mamografia, também podem aumentar o risco.
Existem outros fatores que podem contribuir para o risco de câncer de mama, como lesões precursoras – hiperplasia ductal atípica e carcinoma ductal in situ são alguns exemplos –, além de exposições ocupacionais a substâncias químicas, como agrotóxicos, benzeno e campos eletromagnéticos.
A conscientização sobre esses fatores e a importância da detecção precoce são cruciais para a prevenção e o tratamento eficaz.
E quanto à prevenção?
Ainda não é possível garantir uma prevenção completa, mas já é de conhecimento da medicina a maneira que o estilo de vida adotado pela população se relaciona com o desenvolvimento de doenças.
Um dos principais pilares da prevenção é a prática regular de atividade física e controle da gordura intra-abdominal visando o fortalecimento do sistema imunológico, diminuição do estresse oxidativo e da inflamação sistêmica de baixo grau, dentre outros aspectos que equilibrem a homeostase.
A prática da amamentação também desempenha um papel protetor contra o Câncer de Mama ao diminuir a proliferação excessiva de células mamárias e encurtas os ciclos menstruais, o que diminui a exposição da mulher a hormônios que possam estar relacionados com o desenvolvimento tumoral.
Evitar o tabagismo e o etilismo são fatores fundamentais, juntamente com o estímulo ao consumo de alimentos vegetais e integrais devido teor de fitoquímicos e compostos bioativos, tema este que ainda será explorado com maior profundidade em conteúdos futuros.
Rastreio e diagnóstico
O diagnóstico precoce é crucial para aumentar as chances de tratamento bem-sucedido e melhorar a qualidade de vida das pacientes.
A mamografia é um exame radiológico que tem o potencial de identificar lesões antes mesmo de se tornarem perceptíveis por meio do autoexame ou de exames clínicos. Embora seja uma ferramenta valiosa, é preciso ficar atento aos possíveis riscos, como exposição excessiva à radiação e resultados falso-positivos ou até de cânceres que não representariam ameaça à vida, resultando em tratamentos desnecessários.
A confirmação do diagnóstico é obtida por meio da biópsia, que envolve a retirada de um fragmento do tecido suspeito. Outros exames, como ultrassom, tomografia e ressonância magnética, podem auxiliar no diagnóstico e na avaliação da extensão da doença. A análise histopatológica e de imuno-histoquímica da biópsia permite determinar o tipo específico de câncer de mama.
O Câncer de Mama se dissemina principalmente pela via linfática, embora também possa ocorrer metástase para os ossos e os pulmões. O estadiamento da doença, do estágio I (localizado) ao estágio IV (metastático), depende do tamanho do tumor, envolvimento dos linfonodos e presença de metástases.
No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda a realização de mamografia de rastreamento a cada dois anos para mulheres entre 50 e 69 anos, seguindo orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de países com programas de rastreamento bem-sucedidos. Mulheres com alto risco de câncer de mama devido a predisposição genética ou histórico familiar devem discutir opções de rastreamento com seus médicos.
No caso de mulheres com alto risco genético, como mutações nos genes BRCA1 e BRCA2, é necessária uma abordagem de acompanhamento clínico individualizado. Além disso, a história de radioterapia na região do tórax em idade jovem, como parte do tratamento do linfoma de Hodgkin, também aumenta o risco de câncer de mama.
Conheça os sinais e sintomas
O Câncer de Mama pode se manifestar de várias maneiras, com sinais e sintomas que podem variar de uma mulher para outra. Dentre os principais, temos:
- Nódulo mamário;
- Retração do mamilo;
- Secreção no mamilo;
- Aumento do volume da mama;
- Dor na mama ou no mamilo;
- Vermelhidão na pele da mama;
- Espessamento da pele da mama;
- Nódulo aumentado na axila;
É importante ressaltar que nem sempre a presença de um desses sinais significa Câncer de Mama, e que na presença de quaisquer dúvidas Nutricionistas devem realizar o encaminhamento a um médico especializado no assunto.
Possibilidades de tratamento
O tratamento é uma abordagem multidisciplinar que requer uma análise cuidadosa das características da doença e das condições da paciente. Após a confirmação do diagnóstico, são realizados exames adicionais para determinar a extensão do Câncer e definir a melhor estratégia terapêutica.
O tratamento é individualizado e pode envolver várias modalidades, dependendo do estágio da doença, tipo de tumor e idade e estado de saúde da paciente. As modalidades de tratamento do câncer de mama incluem:
Cirurgia: é frequentemente parte do tratamento do câncer de mama e pode envolver várias abordagens, como mastectomia (remoção completa da mama), mastectomia radical modificada (remoção da mama e linfonodos axilares), cirurgia conservadora da mama (remoção apenas do tumor) e reconstrução mamária.
Radioterapia: uso de radiação de maneira localizada para atacar o tumor, pode ser usada após a cirurgia para eliminar células cancerosas remanescentes ou como tratamento primário em alguns casos.
Quimioterapia: envolve o uso de medicamentos para destruir células cancerosas. Pode ser usada antes ou depois da cirurgia, dependendo das necessidades do paciente.
Hormonioterapia: para cânceres de mama que expressam receptores hormonais (receptor de estrogênio e progesterona), a hormonioterapia é uma opção que visa bloquear os efeitos dos hormônios no crescimento das células cancerosas.
Terapia alvo: em casos que expressam o receptor HER2, a terapia alvo é uma abordagem específica que visa as proteínas HER2 nas células cancerosas.
Imunoterapia: abordagem mais recente no tratamento que envolve o estímulo do sistema imunológico para combater as células cancerosas.
Independentemente da fase da doença, é essencial que a equipe médica e a paciente discutam detalhadamente as opções de tratamento, levando em consideração os potenciais benefícios e riscos.
Nutricionista, comente abaixo o que achou do artigo e continue acompanhando a Academia da Nutrição para conferir os conteúdos futuros relacionados a alimentação e oncologia.
Referências Bibliográficas
- Bottallo, Ana. Conhecimento sobre câncer de mama é menor entre mulheres pretas e pardas, diz Datafolha. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2023/09/conhecimento-sobre-cancer-de-mama-e-menor-entre-mulheres-pretas-e-pardas-diz-datafolha.shtml. Publicado/Atualizado em: 27 Set 2023.
- Instituto Nacional de Câncer – INCA. Câncer de Mama. Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/tipos/mama. Publicado/Atualizado em: 02 Out 2023.
- Registro de Câncer de Base Populacional – RCBP de Campinas. Boletim N°3. Edição Especial: Câncer de Mama. Disponível em: https://saude.campinas.sp.gov.br/vigilancia/info_epidemiologicas/rcbp/publicacoes/Boletim_RCBP_03_Cancer_Mama.pdf. Publicado/Atualizado em: Out 2021.
- Sociedade Brasileira de Mastologia. Mulheres idosas têm menos acesso ao diagnóstico de câncer de mama. Disponível em: https://www.sbmastologia.com.br/mulheres-idosas-tem-menos-acesso-ao-diagnostico-de-cancer-de-mama/. Publicado/Atualizado em: 04 Ago 2023.
- Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica. Detecção precoce do câncer de mama pode aumentar em até 90% as chances de cura. Disponível em: https://sboc.org.br/noticias/item/3029-deteccao-precoce-do-cancer-de-mama-pode-aumentar-em-ate-90-as-chances-de-cura. Publicado/Atualizado em: 03 Out 2023.
- Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica. SBOC participa de ações de Outubro Rosa no Congresso Nacional. Disponível em: https://sboc.org.br/noticias/item/2713-sboc-participa-de-acoes-de-outubro-rosa-no-congresso-nacional. Publicado/Atualizado em: 24 Out 2022.
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