Microbiota Intestinal e Sua Relação com Padrões Dietéticos

A microbiota intestinal e a dieta estão interligadas, impactando doenças metabólicas e inflamatórias. Estudo explora dietas e a saúde intestinal de forma personalizada.


O artigo de Christopher L. Gentile e Tiffany L. Weir, The gut microbiota at the intersection of diet and human health (“A microbiota intestinal e a interseção na dieta e na saúde humana”), explora como a microbiota intestinal e os padrões alimentares estão interligados e como essa relação pode influenciar a saúde humana, especialmente no contexto de doenças metabólicas e inflamatórias.

Efeito da Dieta na Microbiota Intestinal 

A microbiota intestinal tem um papel central na forma como os nutrientes e compostos bioativos dos alimentos são processados, e diferentes padrões dietéticos podem ter impactos distintos sobre ela. 

1. Dieta Cetogênica 

A dieta cetogênica é caracterizada por uma ingestão extremamente baixa de carboidratos e alta de gorduras. Originalmente criada para tratar epilepsias infantis refratárias, a dieta promove uma seleção de espécies microbianas que favorecem a produção de ácido g-aminobutírico (GABA) e glutamato, compostos que podem ajudar a controlar as convulsões. No entanto, essa seletividade microbiana pode ter efeitos não benéficos a longo prazo, o que significa que a dieta cetogênica pode não ser adequada para todos, especialmente em termos de saúde microbiota. 

2. Dieta Paleolítica 

A dieta paleolítica busca replicar as escolhas alimentares dos nossos ancestrais antes da agricultura, com um foco em alimentos de origem animal, proteínas e baixos carboidratos. Na prática clínica, ela tem sido utilizada para tratar doenças como a doença inflamatória intestinal (DII), embora os resultados ainda não sejam conclusivos. Alguns estudos comparando essa dieta com a alimentação ocidental mostraram que a dieta paleolítica pode aumentar a diversidade bacteriana, mas isso não é uma regra, pois comunidades que já apresentam uma grande diversidade bacteriana, como os Hadza, podem não observar os mesmos benefícios. 

3. Dietas Vegetarianas e Veganas 

As dietas vegetarianas e veganas são ricas em carboidratos acessíveis à microbiota (MACs) provenientes de vegetais e leguminosas, além de fitoquímicos que têm efeitos benéficos na microbiota intestinal. Embora não haja grandes diferenças entre as microbiotas de vegetarianos e onívoros, os vegetarianos tendem a produzir maiores quantidades de Ácidos Graxos de Cadeia Curta (AGCCs), que são benéficos para a saúde intestinal. Além disso, compostos como isoflavonas (encontradas na soja) são metabolizados pela microbiota, produzindo equol, um composto com potencial para aumentar a bioatividade e biodisponibilidade de outros nutrientes. 

4. Dieta Mediterrânea 

A dieta mediterrânea foca no consumo de alimentos de origem vegetal (frutas, legumes, grãos integrais) e gorduras saudáveis, como as monoinsaturadas e poli-insaturadas, com uma quantidade limitada de carnes. Diversos estudos demonstraram que essa dieta pode reduzir o risco de mortalidade e doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), além de promover perfis microbianos favoráveis à saúde intestinal. O importante na dieta mediterrânea é a diversidade alimentar, que favorece uma microbiota saudável e estável. 

5. Dietas Direcionadas à Microbiota 

Existem dietas específicas voltadas para modificar a microbiota, como: 

  • Dieta de Carboidratos Específicos (SCD): Restringe carboidratos complexos e açúcares refinados. 
  • Dieta da Síndrome do Intestino e Psicologia (GAPS): Exclui certos alimentos e inclui preparados como caldos de ossos, visando restaurar a mucosa intestinal. 
  • Dieta de Baixo FODMAP: Comprovada para pacientes com síndrome do intestino irritável, embora seja difícil de manter a longo prazo. 

Alimentos Fermentados 

Alimentos fermentados, como iogurte, são populares por seu teor de probi��ticos, que ajudam a melhorar a microbiota intestinal. No entanto, os iogurtes contêm apenas pequenas quantidades de probióticos, e não está claro se seus benefícios vêm diretamente desses probióticos ou de outros nutrientes que favorecem a produção de metabólitos microbianos

Microbiota, Saúde e Doenças 

O conceito de disbiose descreve alterações na composição da microbiota intestinal, muitas vezes associadas a doenças como obesidade, diabetes e doenças inflamatórias. Estudos com ratos indicam que recolonizar uma microbiota intestinal pode ser difícil após uma dieta de baixa diversidade microbiana. A modificação dietética pode ser mais difícil de aplicar depois que a diversidade bacteriana é reduzida por uma dieta não equilibrada. 

Impacto da Microbiota na Saúde 

Cada indivíduo possui uma microbiota única, moldada pela genética, estilo de vida e dieta, o que significa que intervenções dietéticas podem ter efeitos variados. A inteligência artificial já está sendo usada para prever, por exemplo, como um paciente responderá a uma dieta baseada em seu perfil microbiômico, como o ganho de peso após uma mudança dietética. 

A compreensão de como a microbiota intestinal interage com a dieta pode abrir portas para práticas mais personalizadas e eficazes na prevenção e tratamento de doenças. No entanto, é crucial considerar a individualidade do paciente, pois sua história alimentar, genética e estilo de vida desempenham papéis importantes. O bom senso e o enfoque individualizado são fundamentais para qualquer abordagem clínica. 

Referências 

  • GENTILE, Christopher L.; WEIR, Tiffany L.. The gut microbiota at the intersection of diet and human health. Science, [S.L.], v. 362, n. 6416, p. 776-780, 15 nov. 2018. American Association for the Advancement of Science (AAAS). http://dx.doi.org/10.1126/science.aau5812. Acesso em: 20 jul. 2021. 

 

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