O mês de agosto é sempre um momento significativo para a promoção e incentivo à amamentação, pois é quando se celebra o “Agosto Dourado“. Essa campanha anual tem como objetivo sensibilizar e mobilizar a sociedade em prol da importância do aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida do bebê. O dourado foi escolhido como a cor deste momento de conscientização já que o aleitamento materno é uma indicação “padrão ouro”, termo comumente utilizado na área da saúde para classificar um alto nível de recomendação.
No Brasil, desde 2017, a Lei nº 13.435/2.017 determina que, no decorrer deste mês, sejam intensificadas ações intersetoriais de conscientização e esclarecimento sobre a importância do aleitamento materno. Entretanto, o reconhecimento de se falar todos os anos sobre o tema é mais antigo e data do início da década de 1990, quando um encontro entre a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) criou a Aliança Mundial de Ação Pró-Amamentação, que todos os anos traz temas a serem explorados nesta época do ano.
Em 2023, o tema proposto é “Apoie a amamentação: Faça a diferença para mães e pais que trabalham”, onde o objetivo é sensibilizar governos, sistemas de saúde e comunidades para exercerem seus papéis críticos na promoção da amamentação – especial no contexto do trabalho, destacando-se a importância da licença maternidade com remuneração suficiente, para possibilitar o aleitamento materno exclusivo nos primeiros 6 meses de vida do bebê, e também do suporte ao local de trabalho adequado para receber a nutriz.
Ok, mas porque tem que falar disso sempre?
Ainda em 2023, estudos mostram que a falta de orientação adequada a nutriz é um dos principais fatores relacionados ao desmame precoce, o que compreende a crença do “leite fraco”, introdução alimentar inadequada e o uso precoce de chupetas. Além disso, a falta de orientação também está por traz das dificuldades e dores relacionadas ao momento da amamentação, que muitas vezes é realizada de forma e em posição inadequada, desestimulando tanto a mãe quanto o bebê.
Tais premissas deixam clara a importância da recorrência e resgate deste debate, uma vez que, por mais óbvios que sejam os benefícios da amamentação (na cabeça dos profissionais de saúde), a realidade e conhecimento das mães pode ser outro.
As vantagens da amamentação
Assim como o nutricionista que trabalha com o público geral precisa, constantemente, quebrar mitos sobre a alimentação e nutrição – qualquer profissional que estiver em contato com mães (sejam de primeira viagem, ou não) precisa ter em mente que este é um público muito vulnerável em relação as informações sobre a própria saúde e a saúde da criança e reforçar as vantagens da amamentação pode ser muito importante, sendo papel do profissional decidir o que precisa ser mais destacado, com o intuito de promover o maior tempo de aleitamento para a criança.
Para as mães extremamente preocupadas com a saúde de seus filhos, hoje e no futuro, é interessante destacar o papel do leite materno no desenvolvimento e proteção da criança. Neste momento, é fundamental conversar sobre o mito do leito fraco e pode ser conveniente dizer que o corpo dela prioriza de tal forma a nutrição do bebê que a qualidade da sua alimentação pouco influencia a qualidade nutricional do leite – claramente, reforçando que a alimentação saudável e equilibrada da mãe será vital para que ela enfrente todo este processo. O leite materno é um alimento completo e contém uma combinação ideal de macronutrientes, vitaminas e minerais para o desenvolvimento da criança – físico e cognitivo. Além disso, o seu consumo exclusivo nos primeiros 6 meses de vida relaciona-se com um melhor desenvolvimento do sistema imunológico, o que significa não só uma maior proteção contra doenças mas também uma menor chance de desenvolvimento de alergias alimentares.
Já para as mães mais assustadas com a toda a situação, é benéfico mostrar como o processo de amamentação será importante para ela neste período pós-parto. Durante a prática, é liberado no organismo da mãe altas quantidades do hormônio ocitocina, que será responsável por prevenir sangramentos pós-parto, bem como reduzir os níveis de estresse e mau humor. Ao mesmo tempo, já estão claros os mecanismos de desenvolvimento de vínculo entre a mãe e o seu filho por meio da amamentação.
Dessa forma, ao trazer a amamentação para o debate anualmente, os profissionais de saúde têm a oportunidade de reforçar os benefícios da amamentação e oferecer o apoio necessário para que as mães possam vivenciar esse momento tão especial e importante na vida de seus filhos – mas não só para elas, e sim para toda a sociedade onde estão inseridas. O conhecimento e o suporte adequado podem fazer toda a diferença para que a amamentação seja uma experiência positiva e gratificante tanto para a mãe quanto para o bebê. Então, todos os anos, abrace esta causa e trabalhe para que a amamentação seja uma realidade acessível e bem sucedida para as mães ao seu redor.
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Referências
- ROCHA N, GARBIN A. J, GARBIN C. A, SALIBA O, MOIMAZ S. A. Estudo Longitudinal sobre a Prática de Aleitamento Materno e Fatores Associados ao Desmame Precoce. Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada. 2013;13(4):337-342.
- Brasil. Lei nº 13.435, de 12 de abril de 2017. Diário Oficial da União. Brasília: 2017.
- Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Bases para a discussão da Política Nacional de Promoção, Proteção e Apoio ao Aleitamento Materno / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2017
- Ferreira HLOC, Oliveira MF de, Bernardo EBR, Almeida PC de, Aquino P de S, Pinheiro AKB. Fatores Associados à Adesão ao Aleitamento Materno Exclusivo. Ciênc saúde coletiva. 2018 Mar;23(3):683–90.
- Lira, R. F., Coelho, S. de J. F., & Carvalho, L. R. B. (2023). Fatores determinantes do desmame precoce: uma revisão de literatura. Brazilian Journal of Health Review, 6(3), 12668–12688.
- Rocha NB, Garbin AJI, Garbin CAS, Saliba O, Moimaz SAS. Estudo Longitudinal sobre a Prática de Aleitamento Materno e Fatores Associados ao Desmame Precoce. Pesq Bras Odontoped Clin Integr 2013; 13(4):337-342.
- Rocha, Isabela Silva et al. Influência da autoconfiança materna sobre o aleitamento materno exclusivo aos seis meses de idade: uma revisão sistemática. Ciência & Saúde Coletiva. 2018, v. 23, n. 11, pp. 3609-3619.
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