A obesidade é de etiologia multifatorial, envolve estilo de vida, questões ambientais, emocionais, genes. Desta forma, o tratamento também é complexo, sendo fundamental avaliar suas causas e ter uma base multidisciplinar.
Um fato sobre o tratamento da obesidade é que os métodos convencionais nem sempre se traduzem em adesão do paciente, o que pode refletir em prejuízos nos resultados.
Todavia, a procura por condutas alternativas é crescente entre a população, inclusive o uso de suplementos como solução para perda de peso.
Mas, o que a Diretriz Brasileira de Obesidade nos diz sobre o uso de suplementos fitoterápicos para o tratamento da obesidade?
Hoje trazemos esse assunto para discussão - que pode até ser considerado polêmico - e trabalharemos com o conteúdo e evidências apresentadas na Diretriz Brasileira de Obesidade de 2016, no capítulo que trata sobre Terapias Heterodoxas e Suplementos Nutricionais para Perda de Peso.
Vale destacar o que diz a Diretriz sobre fitoterápicos / nutracêuticos:
Suplementos alimentares e herbais são regidos sob o ato DSHEA de 1994 (Ato de Educação em Suplemento Dietético de Saúde), e não são atualmente regulados pelo FDA (Federal Drug Administration), tendo seus perfis de segurança mal estudados e, portanto, desconhecidos.
O que diz a Diretriz Brasileira de Obesidade sobre algumas plantas fitoterápicas:
Ephedra sinica ou “ma-huang”
Também chamada de efedrina, seu uso para perda de peso é comum.
Porém, estudos mais atuais (com concentrações de 60 a 150g) demonstram que os efeitos são somente modestos, caracterizados por perda de 1kg do grupo intervenção quando comparado ao controle.
A Ephedra apresenta riscos sérios a saúde, como o aumento de 2 a 3,5 vezes o risco de eventos psiquiátricos, gastrointestinais, cardíacos e acidente vascular cerebral.
Erva-de-são joão (Hypericum perforatum)
Seu uso na obesidade se deve ao fato de ser uma erva utilizada para tratamento de depressão, já que apresenta ação serotoninérgica.
No entanto, os estudos publicados não podem ser considerados topos de pirâmide de evidência, e assim, não podem pautar guidelines e condutas clínicas.
Garcinia cambogia
Possui na sua composição o ácido hidroxicítrico que apresenta a ação de inibir a clivagem enzimática do citrato.
Quando as nossas células percebem que a concentração de citrato está elevada, quer dizer que o processo de lipogênese precisa ser iniciado, e é esse início que a Garcinia quer impedir.
Os estudos têm durações curtas, além de não serem de caso-controle nem serem randomizados.
E, ainda assim, os estudos com metodologias bem conduzidas não mostraram perda de peso representativa entre os indivíduos de intervenção e os controles.
Já com relação a efeitos adversos, não se tem o registro de casos significantes. Contudo, não se pode afirmar a ausência desses efeitos, já que os estudos são todos de curta duração, com menos de 12 semanas.
Ou seja, não se tem conhecimento se num uso mais prolongado haveriam efeitos colaterais.
O que se sabe é que ainda não existem evidências cabais que tornem o uso da Garcínia para obesidade, algo de prática segura nos consultórios.
Ioimbina (Pausinystalia yohimbe)
Seus efeitos colaterais relatados até hoje foram irritabilidade e dores articulares e de cabeça.
O seu ativo, iombina, é um antagonista adrenérgico α2. Portanto, como o receptor α2 atua inibindo a lipólise quando acionado, a iombina como antagonista tem a ação de inibir, seu efeito. Ou seja, estimular a lipólise.
Para este composto, temos ensaios clínicos randomizados, porém os resultados são conflitantes e os maiores efeitos ocorrem quando a iombina é associada a efedrina e a cafeína.
Diante disso, não existem ainda evidências suficientes que corroborem o seu uso clínico.
Psyllium (Plantago ovata)
Fibra solúvel, obtida da casca da semente da Plantago ovata, usada com o objetivo de aumentar a saciedade e, portanto, reduzir a ingestão alimentar, assim como demais fibras alimentares.
Os estudos até agora não apresentam grandes diferenças de perda de peso entre o grupo intervenção e o controle.
Além de que, seu uso com anticoagulantes, antibióticos e digitálicos deve ocorrer com cautela, pois ela exerce ação potencializadora do primeiro citado, e diminui a ação dos últimos dois.
Irvingia gabonenses
Atua inibindo o PPAR- γ, o que faz com que haja um bloqueio da adipogênese.
Porém, seus estudos envolveram ainda amostras muito pequenas e tempo curto de duração, o que faz com que os resultados não possam ser levados em conta para diretrizes.
Chia (Salvia hispanica)
Uma semente com grandes grandes quantidades de ômega-3, 6 e fibras.
Também participou de estudos nos quais a perda de peso ocorrida no grupo intervenção não foi significativa.
Portanto, não é um alimento que pode ser prescrito com objetivo de perda de peso.
Outras plantas em que não há estudos que demonstrem qualquer ação significativa de redução do peso corporal:
- Ácido pinolênico
- Cactus indiano
- “Pholia magra”
- Centella asiática
- “Laranja amarga”,
- “Forscolin”
- Faseolamina
Logo, não há segurança para o seu uso no tratamento da obesidade.
Após análise da Diretriz Brasileira de Obesidade, o que se pode concluir sobre uso de fitoterápicos para tratamento da obesidade?
Em tratamentos convencionais ou não, é fundamental que consideremos as evidências científicas, com corroboração de dados.
Para tanto, direcionar o tratamento dos pacientes com o tripé orientado por todos os guidelines de evidência:
- Alimentação
- Exercício Físico
- Comportamento
Segundo as Diretrizes Brasileiras de Obesidade, é importante dar foco na modificação dos hábitos de vida, "relacionados com orientações nutricionais para diminuir o consumo de calorias na alimentação e exercícios para aumentar o gasto calórico".
E o tratamento farmacológico é tido como adjuvante a essas orientações.
Mas, para fortalecer ainda mais a sua conduta, entre outras opções de consulta e base para estudos, podemos citar:
- o Guia Canadense sobre Obesidade
- o Guideline Recommendations for Obesity Management
- o Guideline Europeu para Obesidade Adulta
- e o Practice Guidelines for medical care of patients with obesity
E você, Nutricionista?
Como você aborda o tratamento da obesidade na sua prática clínica?
Que práticas você utiliza na conduta, e em que guidelines você se baseia?
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Referência Bibliográfica:
MANCINI, M. C. et al. Diretrizes Brasileiras de Obesidade. 2016. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. 4ª ed. São Paulo, 2016. Acesso em: 31 ago. 2021.