Várias pesquisas recentes procuram elucidar como a microbiota e a comunicação do eixo intestino-cérebro, podem afetar a saúde mental, e mais ainda, de que forma se relacionam com neuropatologias como o Alzheimer.
O processo de envelhecimento é algo inerente do ser vivo e também pode ser chamado de senescência. Este nome é dado à série de alterações do organismo que estão relacionadas a sua evolução no tempo e que acarretam na diminuição de algumas funções fisiológicas.
Entretanto, todo processo é considerado natural e comum à faixa etária de idosos, ainda que não seja identificado doenças ou processos fisiopatológicos envolvidos.
Em contrapartida, existe outro processo que pode afetar o envelhecimento: a senilidade. Neste caso, o indivíduo também é acometido pelas perdas de funções do organismo, mas estas são intensificadas pela ação de doenças, e não é um processo natural ou comum.
É um processo patológico e que afeta tanto o tempo como a qualidade de vida da pessoa.
Um estudo de revisão sobre a saúde intestinal de idosos com Alzheimer e sua relação com o eixo intestino-cérebro
A Doença de Alzheimer (DA) é uma espécie de demência que acomete, em sua grande maioria, idosos acima de 65 anos.
Ela afeta principalmente as regiões do hipocampo e neurocórtex e é caracterizada por sintomas como perda de memória e alterações neuroquímicas, e sua progressão acaba por comprometer as funções cognitivas, culminando na incapacidade física e psíquica do idoso.
Sendo assim, o Alzheimer é uma doença que acarreta a senilidade.
Não sendo imune às ações da Doença de Alzheimer, o sistema digestivo é afetado de forma a prejudicar a absorção de nutrientes e modificar a microbiota intestinal, gerando uma disbiose.
Isso é particularmente preocupante, porque sabe-se que existe uma comunicação entre cérebro e trato gastrointestinal, por meio do eixo cérebro-intestino, que estabelece uma comunicação de dupla via e pela qual os órgãos são capazes de influenciar funções e atividades, de acordo com as necessidades e sinais do organismo.
O estudo em questão buscou compreender e estabelecer as associações entre a saúde intestinal de idosos com Alzheimer e a comunicação do eixo cérebro-intestino, afetada pela microbiota intestinal.
Para isso, foram feitas buscas nas bases de dados: Scielo, PubMed e Google Academy, de acordo com os descritores em inglês, português e espanhol:
envelhecimento;
demência;
disbiose;
microbiota.
A partir disto, foram selecionados estudos, nos 3 idiomas, que contemplavam os critérios de inclusão:
estudos de revisão, intervenção, experimentais, descritivos ou transversais;
estudos originais ou randomizados;
relacionados com os temas de Doença de Alzheimer, saúde intestinal de idosos, microbiota e disbiose, envelhecimento saudável e saúde mental e eixo intestino-cérebro;
realizados entre os anos de 2017 e 2020;
ter acesso a versão completa gratuita.
Por fim, foram levados em consideração para a construção do artigo, 18 estudos.
O que os pesquisadores encontraram sobre a associação de Alzheimer e a saúde intestinal?
Existem muitas discussões sobre o surgimento da DA, algumas delas a relacionam com doenças periodontais e o acúmulo de placas amilase em regiões do cérebro; outras com a presença da bactéria H. pylori.
E há também algumas que ligam a doença com a presença de metabólitos neuroinflamatórios.
Indo ao encontro desta última teoria, autores sugerem que o desenvolvimento da Doença de Alzheimer está amplamente ligada ao intestino e microbiota.
O que se sustenta no fato de que o microbioma intestinal é capaz de influenciar atividades cerebrais, e sendo assim o quadro de disbiose pode afetar a homeostase do corpo e aumentar a chance de distúrbios neurodegenerativos.
Ainda, Bulgart argumenta que:
"Alterações da microbiota podem gerar metabólitos bacterianos..."
Esses metabólitos bacterianos tanto se ligam a receptores locais, quanto são capazes de atravessar a barreira hematoencefálica, chegando ao sistema nervoso central (SNC) e podendo se ligar a receptores de astrócitos e microglias (células do SNC), aumentando, por fim, mediadores de processos inflamatórios.
O estudo de Angelucci et al também traz a informação de que o exame de sangue de pacientes com comprometimento cognitivo e amiloidose cerebral tinham um padrão de baixo nível de Escherichia retale e aumento nos níveis de Escherichia e shigella, o que mostra um declínio de micróbios antiinflamatórios e ampliação dos inflamatórios.
Esse padrão mostra um declínio de micróbios antiinflamatórios e ampliação dos inflamatórios.
Como as citocinas pró-inflamatórias são capazes de atravessar a barreira hematoencefálica e, portanto geram maior estresse oxidativo, é possível sustentar a teoria de que as respostas inflamatórias de uma microbiota em disbiose, podem estimular o desenvolvimento de patologias como o Alzheimer.
Entretanto, outros pesquisadores ressaltam a importância de se ter cuidado nas afirmações e leitura de estudos.
Isso porque a maior parte do material desenvolvido sobre a microbiota é realizado com base em observações feitas em camundongos que além de possuírem uma microbiota diferente da do humano, vivem em condições controladas do laboratório.
O que concluir sobre a relação do Alzheimer e saúde intestinal?
Apesar da limitação de estudos em humanos, no geral as pesquisas relacionam as alterações da microbiota intestinal com a neuroinflamação, afetando consequentemente o desenvolvimento de neuropatologias.
Sendo assim, é importante a manutenção de um microbioma intestinal saudável e bem equilibrado, e isto é feito, principalmente, por meio da alimentação e consumo de prebióticos, probióticos e simbióticos.
No mês de fevereiro entramos na campanha Fevereiro Roxo e Laranja, que é voltada a conscientização das doenças lúpus, fibromialgia, alzheimer e leucemia.
Essas cores trazem consigo a noção dos cuidados e alerta destas doenças que não são de amplo conhecimento popular, principalmente no que diz respeito aos sintomas e consequências no cotidiano, já que algumas não possuem tratamento, apenas um cuidado prolongado.
Com o artigo de hoje, esperamos contribuir para ampliar a atenção do nutricionista para o Alzheimer, uma das patologias envolvidas nesse Fevereiro Roxo Laranja.
E você, Nutricionista, já sabia como a alimentação pode ser uma grande aliada na prevenção e manutenção da Doença do Alzheimer?
Também não deixe de conferir nosso outro artigo recente sobre a importância da microbiota, desta vez, relacionada à depressão em mulheres!
Referências Bibliográficas:
Xavier M E F et al. A saúde intestinal de idosos com Alzheimer e sua relação com o eixo intestino-cérebro: uma revisão bibliográfica. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação-REASE. São Paulo, 7 (12), dez 2021.
O que é a campanha Fevereiro Roxo Laranja. [homepage da internet] Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, Jan 2022 [acesso em 11 Fev 22]. Disponível em: https://www.gov.br/ebserh/pt-br/hospitais-universitarios/regiao-nordeste/hupaa-ufal/comunicacao/noticias/o-que-e-campanha-fevereiro-roxo-laranja